Joaquim Barbosa não serve

O sociólogo Jessé Souza defende, em artigo de hoje, a indicação de um jurista negro para a vaga a ser aberta pela aposentadoria de Ricardo Levwndowski. Mas, ele deixa claro, não pode ser qualquer negro. Precisa ser um legítimo defensor das “causas populares”, e não exercer o cargo para replicar o racismo, travestido de “luta contra a corrupção”. Uma clara alusão a Joaquim Barbosa, primeiro negro a alcançar a suprema corte e estrela máxima do processo do Mensalão.

Alguém como Joaquim Barbosa, apesar de seu exemplo de superação e de suas ideias à esquerda (como ficou claro em suas tentativas de candidatar-se à presidência) não serve. Barbosa cometeu a heresia das heresias, que foi condenar a cúpula do PT por corrupção. E isso seria “reproduzir o falso moralismo das elites brancas”. Foi o suficiente para ser merecedor do fatwa do movimento negro politicamente engajado.

Assim como Bolsonaro tinha o seu “negro de estimação” (assim como o seu índio e o seu gay), Lula também conta com um movimento que, acima de tudo, está ali para defender o “partido das causas populares”, mesmo que isso signifique compactuar com o crime, revestindo-o de belas teorias. No fundo, os negros e outras minorias se deixam usar na pura e simples política partidária.

Pode-se argumentar que a luta contra o racismo é, antes de mais nada, uma luta política. Portanto, para combatê-lo, é preciso engajar-se. Justo. O problema está em confundir o engajamento político com o apoio a determinado partido, como se partido e “causas populares” se confundissem. Joaquim Barbosa, ao condenar a cúpula do PT, não estava sendo racista. Estava cumprindo a lei. Se isso o descredencia para o cargo que ocupou aos olhos de certo movimento negro, fica clara a natureza desse movimento.

De como as notícias e as salsichas são feitas

Você não comeria salsichas se soubesse como são feitas. Esse velho ditado serve também para as notícias, principalmente políticas. A de hoje é um típico exemplo: o “Planalto” vê com preocupação uma eventual candidatura do governador Eduardo Leite. No entanto, a notícia correta é: o Planalto torce por uma candidatura Eduardo Leite.

Em primeiro lugar, foi o “Planalto” quem plantou essa “notícia”. Não houve um esforço de apuração que desvendou uma notícia que o “Planalto” gostaria de ver oculta. Não. Ocorreu o inverso: alguém próximo de Bolsonaro deve ter soprado no ouvido do repórter a história. Daí, foi só ouvir também os “aliados de Leite”, e o balão de ensaio está aí, pronto para subir.

O interesse do “Planalto” no assunto é óbvio: quanto mais fragmentada estiver a chamada “terceira via”, menor a chance de Lula e Bolsonaro não disputarem o segundo turno. Uma candidatura Leite teria mais chance de roubar votos de Lula, de Bolsonaro ou de um outro candidato? I rest my case.

Nessa linha, o “Planalto” deve estar comemorando a movimentação do ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa. Tal qual um Huck de toga, Barbosa aparece de 4 em 4 anos como um nome com “bom potencial de votos”. Daqui a pouco, aparece uma notícia dando conta que o “Planalto” está também “preocupado” com essa candidatura.

É bom ir se acostumando

Josué Gomes e Nelson Jobim são, respectivamente, o penúltimo e o último “nome novo” a entrar na arena e cair. Antes dele, Luciano Huck, Joaquim Barbosa e João Doria foram tentados.

O dito “centro político” tem tentado desesperadamente a “trindade impossível”: um nome ao mesmo tempo viável eleitoralmente, que seja “controlável” e que não esteja, de alguma maneira, ligado à velha política. Vão descobrindo que não existe.

Os candidatos são estes que estão aí. É bom começar a trabalhar com essa realidade.

Correndo por fora

Em determinado momento das eleições de 1989, Afif Domingos apareceu como elemento surpresa, chegando a ficar em 3o lugar nas pesquisas. As baterias voltaram-se para ele, que acabou lá na rabeira.

Em 1994, Eneias surpreendeu a todos com seus 15 segundos de TV, chegando-se a cogitar se não teria condições de chegar ao 2o turno. Ficou em 3o, mas muito distante dos dois primeiros.

Em 2002, foi a vez de Roseana Sarney ameaçar o duopólio PT/PSDB. Chegou a assumir a 2a colocação em algumas pesquisas, mas não sobreviveu ao bombardeio.

Em 2014, Marina chegou a liderar as pesquisas, mas sequer chegou ao 2o turno.

Para aqueles embevecidos ou assustados com a chegada forte de Joaquim Barbosa nas pesquisas, um recado: estamos apenas em abril.

Capitalismo selvagem

Muitos empresários, mas muitos mesmo, saíram da pobreza com base nas regras do capitalismo. Aliás, muitos empregados também. O fluxo de venezuelanos para o Brasil e outros países demonstra, para quem tem olhos para ver, a falácia do Estado como “indutor do desenvolvimento social”, o que quer que isso signifique.

É natural que o ex-ministro do STF invoque sua trajetória para defender um “Estado como indutor do desenvolvimento social”: como funcionário público de carreira, nunca precisou se preocupar em gerar lucro ou manter seu emprego. O Estado foi o indutor de seu próprio “desenvolvimento social”. Nunca lhe ocorreu que seu salário é pago, em última instância, pelos lucros dos empresários e pelos salários dos empregados que vivem sob as regras do capitalismo. E, no Brasil, um capitalismo que caminha com uma bola de ferro amarrada à perna, chamada “Estado indutor do desenvolvimento social”.

Não se engane: quando você ouvir alguém falar que é contra o “ultraliberalismo” ou o “capitalismo selvagem”, na verdade é contra o livre mercado mesmo. Este discurso é somente uma desculpa para manter uma grande burocracia estatal (de onde o ex-ministro tem sua origem) e um capitalismo de laços, onde se dá bem quem é amigo do rei.

O próximo presidente da República

Nenhum nome da lista do Fachin tem condições de chegar à presidência da república em 2018.

Tomando essa premissa como verdadeira, o próximo presidente está entre os seguintes nomes (em ordem alfabética):

Ciro Gomes

Henrique Meirelles

Jair Bolsonaro

João Doria

Joaquim Barbosa

Marina Silva

Ronaldo Caiado

Já vai se acostumando com a ideia.