O juiz é soberano

Um juiz pode errar.

Um conjunto de juízes também pode errar.

Errar é da natureza humana.

No início, no futebol, só havia um juiz. Os erros de arbitragem eram mais frequentes.

Depois, tiveram a ideia de escalar juízes auxiliares, os bandeirinhas. A frequência dos erros diminuiu, mas não foi a zero.

Agora, acrescentaram juízes de linha e, daqui a pouco, o vídeo tape. A frequência de erros diminuirá ainda mais. Mas erros, ainda que raros, continuarão ocorrendo.

Isso é uma coisa.

Outra coisa é os jogadores e dirigentes peitarem os juízes por conta de um eventual erro. O juiz é autoridade máxima do jogo, e sua decisão é soberana. Se assim não fosse, não haveria jogo de futebol. Cada time seguiria a sua própria interpretação dos lances e a anarquia estaria instalada.

O sistema judicial procura diminuir a probabilidade de erro ao estabelecer uma corte revisora colegiada. A probabilidade de ocorrerem erros diminui, mas não desaparece.

Isso é uma coisa.

Outra coisa é peitar os juízes, dizendo que somente uma decisão favorável a um dos lados é legítima. E, pior, chamando os juízes de ladrões, acusação grave que somente é socialmente aceita no anonimato garantido pelos estádios.

É o que temos visto por parte de Lula e dos petistas em relação a Sérgio Moro e, agora, aos desembargadores do TRF4.

O PT chegou a defender, em resolução do partido, a “desobediência civil”. Ou seja, a anarquia. É esse o conceito de democracia desse partido.

O juiz é soberano, mesmo estando errado. Senão, não há jogo democrático possível.

O El Cid do PT

El Cid (Rodrigo Díaz de Vivar) foi um nobre e líder militar castelhano na Espanha medieval. Após a sua morte, tornou-se o célebre herói nacional de Castela e o protagonista do mais significativo poema épico medieval, El Cantar de Mio Cid.

El Cid morreu em 1099, no cerco a Valência pelos mouros. Após sua morte, mas ainda durante o cerco de Valência, uma lenda afirma que D. Jimena, esposa do herói, ordenou que o cadáver de El Cid fosse equipado com sua armadura e montado em seu cavalo, para reforçar o moral de suas tropas durante a batalha. Os cavaleiros ganharam, com isso, uma carga imensa de energia contra os assediadores de Valência, em uma batalha catártica de uma guerra perdida.

Lula será o El Cid do PT a partir de 24/01.

PS.: como bem lembrado pelo meu amigo Marco Antônio Silvestre, El Cid é um exemplo de virtude, o exato oposto de Lula. A comparação acima se dá apenas no plano da mistificação, na utilização de um cadáver (e Lula será um cadáver político depois de 24/01) para levantar o moral das tropas do PT.

R$ 1,5 bilhão

R$ 1,5 bilhão.

Guarde esse número.

Um bilhão e quinhentos milhões de reais.

Esse é o montante devolvido à Petrobras até o momento pela operação Lava-Jato.

Lembre desse número quando você ouvir ou ler algum petista, incluindo o chefe de todos, dizendo que a Lava-Jato “ainda não mostrou nenhuma prova da roubalheira”.

Se R$ 1,5 bilhão não é prova, então não sei mais o que pode ser.

Você sabe com quem está falando?

Se qualquer cidadão se comportasse como Lula se comporta diante do juiz Sérgio Moro, teria sido preso por desacato à autoridade.

O que só demonstra que Lula dá continuidade à secular tradição brasileira do “você sabe com quem está falando?”, que divide os cidadãos em entre aqueles que podem e aqueles que obedecem.

Lula é o que pode haver de mais velho na política brasileira.

Eu tenho e-mail

“Eu não tenho e-mail. Teve um presidente que me disse que se eu quisesse fazer as coisas sem ser bisbilhotado, que eu não falasse ao telefone, não mandasse e-mail. Que pegasse a pessoa e conversasse com ela pela estrada”.

Lula hoje, diante de Sergio Moro.

Eu não tenho problema nenhum em entregar à justiça todos os meus e-mails e minhas conversas ao telefone. E você?

A sentença de Sergio Moro

Acabei de ler a sentença do juiz Sergio Moro em sua integridade.

Em resumo, há uma série de provas documentais, que são corroboradas pelos depoimentos de uma série de testemunhas. Atenção: há provas documentais. As testemunhas (inclusive Leo Pinheiro) apenas as corroboram. A ligação dessas provas com a corrupção é necessária, senão nada mais faz sentido, fica uma história sem pé nem cabeça.

A última cartada da defesa (a de que a OAS teria usado o apartamento como hipoteca ou garantia de empréstimos e no seu acordo de recuperação judicial) é desmontada sem piedade pelo juiz (quem tiver interesse, está entre os números 808 a 818 da sentença).

Vai ser difícil, bem difícil, reformar essa sentença.

A alucinação e a realidade

Nestas últimas semanas estou me sentindo como o matemático John Nash, que foi muito bem retratado no longa “Mente Brilhante”.

(Atenção! Spoiler!)

Nash, ganhador do Prêmio Nobel de Economia por sua Teoria dos Jogos, sofria de esquizofrenia. Ele convivia com personagens criados por sua imaginação que, de tão reais, chegam a confundir o próprio expectador.

Uma dessas personagens é uma garotinha de seus 10 anos de idade, que o trata como um tio carinhoso. No clímax do filme, quando Nash encontra-se dividido entre a realidade e suas alucinações, ele nota que a garotinha não envelheceu, mesmo depois de anos de convivência. Esta é a chave que o convence de que aquele universo paralelo é falso.

Lembrei desse filme porque a quantidade de narrativas vem se acumulando exponencialmente nas ultimas semanas. Temer é o chefe da quadrilha? E Lula? Gilmar Mendes é bandido, ou quer manter a governabilidade? E Rodrigo Janot, está querendo derrubar Temer em conluio com a Globo? A Lava-Jato está extrapolando suas atribuições, ou todas as críticas não passam de cortina de fumaça? Quem tem razão? Quem não tem? Onde está a realidade e onde está a alucinação?

No meio disso tudo, parece-me que existe um, e somente um, elemento que pode fazer o papel da garotinha que não envelhece, aquela que nos ajudará a distinguir a realidade da alucinação: o juiz Sérgio Moro.

Moro não tem agenda política. Moro julga de acordo com as provas nos autos dos processos. Moro não dá declarações para a imprensa. Moro é um estudioso dos crimes do colarinho branco, aqueles em que as digitais dos bandidos são sutis.

Não é à toa que todos se pelam de medo de ir para Curitiba. Lá, as narrativas não colam. Lá, o que vale são as provas. Lá, distingue-se realidade de alucinação.

Comparação descabida

A comparação com o advogado criminalista é completamente descabida: está mais do que provado que pelo menos uma parte das doações eleitorais foi fruto de corrupção (se foi achaque ou corrupção ativa, pouco importa). Ou seja, os partidos não só conheciam a origem do dinheiro, como ajudaram a “fabricá-lo”.

Se resta provado que o advogado criminalista não só tem conhecimento da origem do dinheiro que recebe, mas ajudou a roubá-lo, é cúmplice do crime.

Mas por que estou perdendo tempo com isso? O ilustríssimo Ministro certamente sabe disso.