Estamos escrevendo a história

Lula tem razão.

Os petistas têm razão.

A Lava-Jato é política.

O juiz Sérgio Moro, estudioso da Operação Mãos Limpas, sabe que, sem o apoio da opinião pública, um juizinho de primeira instância e alguns procuradores obscuros não iriam longe contra as forças mais poderosas da República. E este apoio da opinião pública se consegue construindo uma narrativa política. Claro, os pressupostos técnicos devem estar lá, mas estão longe de bastarem. É preciso contrapor a narrativa da “perseguição”, a narrativa do “golpe”, com a narrativa da “justiça para os poderosos”. Para isto, é mister algum “show midiático”, do qual faz parte a construção do mito “Moro herói” e do “Japonês da Federal”. Obviamente, um show midiático sem provas não iria muito longe. Mas provas sem um show midiático também ficariam pelo meio do caminho.

A história dos países é feita do encontro entre instituições e homens. O instituto da delação premiada encontrou Sergio Moro e os procuradores liderados por Deltan Dallagnol, em um alinhamento que está levando o país a um outro patamar civilizatório. Não, não tenho ilusão de que o Brasil mudou da noite para o dia. As mudanças culturais acontecem muito lentamente, em um tempo medido em gerações. Mas tampouco trata-se de um processo contínuo. Ele se dá aos saltos, por força da reação a tensões acumuladas ao longo do tempo. O Brasil de hoje é fruto da reação da sociedade brasileira à ditadura militar. O Brasil de amanhã será fruto da reação da sociedade brasileira ao assalto (em todos os sentidos) das instituições por um grupo político.

Estamos escrevendo a História.

13/03: te vejo na Paulista.

Honestidade

Zé Dirceu em depoimento a Sergio Moro, sobre seus contratos de consultoria:

“Eu não vou aqui ser desonesto, faltar com a verdade, dizer que eu fiz relatórios, que eu me reunia constantemente. Qualquer empresário brasileiro que me contratou, me pediu orientação, olha, tá acontecendo isso, isso e isso…”

Só faltou dizer “eu não sou nó-cego que nem o Lulinha, que forjou um relatório de consultoria fazendo copy/paste da Wikipedia. Aqui eu falo que não tem relatório mesmo, e qualquer empresário brasileiro sabe disso quando me contrata”.

A vida é feita de símbolos

A vida é feita de símbolos.

A Lava-Jato frequentemente nos brinda com apresentações mostrando intrincados esquemas de lavagem de bilhões de reais. Que importa? Ninguém entende nada daquilo.

O TCU desnudou de maneira irretocável a contabilidade criativa do governo, que varreu pra debaixo do tapete bilhões de reais de deficit. Que importa? Ninguém entende nada daquilo.

Mas um triplex com elevador privativo todo mundo entende.

O que vai ser história

São milhares de notícias todos os dias. É virtualmente impossível distinguir aquelas que são irrelavantes daquelas que mudarão os rumos do país.

No já longínquo 18/03/2014, o Estadão publicava em um canto da primeira página o resultado da 1a fase da operação Lava-Jato.

O destaque fica para um obscuro condenado do Mensalão, Enivaldo Quadrado. Na reportagem interna é citado o doleiro Alberto Youssef, mas não o juíz Sérgio Moro. Todos foram presos na hoje famosa carceragem da PF do Paraná.

A manchete deste dia é “Procuradoria se une à PF e vai investigar a Petrobrás”, referindo-se aos negócios com a holandesa SBM Offshore. Neste dia, Dilma dava posse a 6 ministros, com direito à frase “povo percebe quem está do lado dele”.

Uma nova página da história do Brasil começava a ser escrita neste dia. Mas ninguém percebeu.