“Jovem com problemas mentais, pedreiro sem antecedentes criminais, usando uma arma de brinquedo”. Note a quantidade de palavras usadas para caracterizar pureza. Assim o jornalista descreve o sequestrador do ônibus na ponte Rio-Niterói, em um perfil sobre o governador afastado do Rio feito para demonizar a agenda de confronto adotada pela polícia do Rio.
Não vou entrar aqui no mérito da adequação ou não dessa política de confronto. Não tenho opinião formada sobre isso. Meu ponto é só a maneira idiota (não consegui pensar em outro adjetivo) para defender o ponto de vista contrário.
Havia uma situação de risco para os passageiros do ônibus, as negociações se mostraram infrutíferas, a polícia agiu conforme o protocolo para salvar as vidas de inocentes. Caracterizar essa ação como o assassinato de um inocente é uma ofensa à inteligência alheia. Por isso, idiota.
A polícia tomou o risco de matar um inocente? Sem dúvida. Mas o risco inverso também existia: se escolhesse não matar o sequestrador, outros inocentes poderiam morrer. Afinal, a polícia não sabia que se tratava de um “jovem com problemas mentais, pedreiro sem antecedentes criminais, usando uma arma de brinquedo”. No cálculo de riscos, parece-me que a polícia tomou a decisão correta, nesse caso específico. Acho que o jornalista concordaria comigo se tivesse um parente naquele ônibus.
Esse tipo de abordagem adotada pelo jornalista causa o efeito justo oposto: ao tratar as pessoas como idiotas, o efeito é aumentar o apoio a medidas extremas. Certamente há formas mais inteligentes de ganhar apoio para a “causa da não-violência”.