Uma reação sem graça

Essa reação da Secretaria de Comunicação do governo ao quadro do Adnet parodiando o secretário da Cultura, Mário Frias, está errada de diversas e combinadas formas:

1) O quadro não faz paródia dos “heróis brasileiros”. Faz paródia de Mário Frias.

2) Ao dizer que a paródia ofende o povo brasileiro de bem, o secretário da cultura usa da mesmíssima mistificação que Lula e os petistas usaram até enjoar. Qualquer ataque ao partido ou a seus próceres era narrada como um ataque ao povo.

3) O secretário da cultura usa uma estrutura de governo, paga com nossos impostos, para atacar alguém que o ofendeu pessoalmente. O discurso “em defesa do povo brasileiro” apenas serve como escudo para tentar camuflar o uso de um bem público para fins particulares.

4) Qualquer figura pública deve estar preparada para ser criticada ou, como é o caso, parodiada. Tem que ter casca grossa, senão melhor nem descer para o play. Aliás, Bolsonaro também aparece no quadro do Adnet, contracenando com ninguém menos que o Queiroz. Quer coisa pior? Bolsonaro nem piscou.

5) Adnet é um humorista mediano (minha opinião). Admiro sua capacidade de imitação, mas as piadas são, em geral, fracas. Não é diferente com o quadro em foco. A reação do secretário da cultura, colocando para girar a máquina do governo para criticar o humorista, só vai fazer que um quadro meio sem graça tenha multiplicado sua audiência em várias vezes.

6) Um órgão oficial do governo criticar um trabalho artístico é meio, assim, como dizer, autoritário. Lembra outros regimes em que o humor é, digamos, regulado.

Sinceramente, Mário Frias passou um recibo desnecessário. Além disso, mostrou que tem uma compreensão peculiar do que seja liberdade de expressão. O que não deixa de ser curioso para alguém que vive da arte.

Quem vai pendurar o guizo no pescoço do gato da censura

Ninguém se torna um bilionário em poucos anos sendo um idiota. Zuckerberg definitivamente não é um idiota.

Com o Facebook no olho do furacão da guerra contra “conteúdos violentos” e “discursos de ódio”, Zucka manda a bola para o campo adversário e pede “regras claras” do que pode e do que não pode ser publicado. Pede “regulação de conteúdo”.

Zuckerberg sabe que está pedindo o impossível, em uma sociedade onde a “liberdade de expressão” é cláusula pétrea. Ardilosamente, joga no colo dos reguladores a tarefa de definir a fronteira entre politicamente correto e liberdade de expressão.

O desabamento das torres gêmeas em 11/09/2001 deu início a uma ofensiva sem precedentes do governo americano contra prerrogativas de privacidade do cidadão americano em nome da segurança nacional. Não demorou para que começasse um movimento de proteção dessas prerrogativas, colocando o governo em uma posição delicada entre segurança e privacidade. A fronteira ainda hoje é objeto de debate.

Os governos querem que o Facebook censure conteúdos impróprios. O que Zuckerberg está dizendo é que terá o maior prazer em fazê-lo, desde que não seja ele quem defina o que seja “conteúdo impróprio”. Bola no campo dos governos.