A moeda do Facebook, que receberá o nome de Libra, começará a circular a partir do ano que vem.
Em princípio, nada demais. Trata-se de uma unidade de conta que poderá ser usada para adquirir produtos no ambiente virtual. Funciona mais ou menos como o dinheiro das festas juninas: você vai no caixa, troca seus reais pelo “dinheiro de festa junina” e, com esse “dinheiro”, compra a comida e os jogos na festa. A “moeda” só vale dentro daquele ambiente.
O desafio começa a surgir no estabelecimento da taxa de câmbio. Na festa junina, não tem dúvida: cada unidade da “moeda de festa junina” vale R$1,00. Sempre, por definição. Por outro lado, quantos reais (ou dólares, ou euros) valerá uma libra?
Em princípio, para não dar margem a arbitragens, cada libra deve valer o equivalente ao lastro que lhe deu origem. Ao contrário do Bitcoin, que não tem lastro, é um dinheiro criado “do nada” pelos mineradores, as Libras serão criadas em troca de dinheiro de verdade, moedas nacionais. Assim, digamos, por hipótese, que 100% das libras tenham sido criadas com o aporte de dólares. Ou seja, 100% das pessoas que foram no guichê do Facebook para comprar Libras, o fizeram com dólares. Neste caso, cada Libra vale US$1,00, com o FB funcionando como uma grande festa junina, em que os dólares são substituídos por Libras.
Mas, obviamente, o lastro não será formado somente por dólares. Haverá outras moedas, provavelmente em proporção à sua importância nas transações globais. Dólares e Euros deverão dominar, seguidos por ienes, libras esterlinas, francos suíços e iuans. A taxa de câmbio para Libras, portanto, deverá ser formada pela composição dessas moedas no lastro da Libra.
Mas isso só vai acontecer se houver ampla publicidade da cesta de moedas que forma o lastro da Libra. Caso contrário, estará aberta a possibilidade de arbitragens com alto potencial de lucro para quem possuir essa informação (o Facebook e o seu consórcio), comprando a cesta de moedas e vendendo Libras, ou vice-versa, a depender da distorção criada.
Por enquanto é isso. Como toda tecnologia, a Libra pode criar vida própria, assumindo papéis e facilitando processos que hoje não conseguimos visualizar, a ponto de substituir com vantagens as moedas nacionais. Quando a Internet foi criada, não passava de uma forma de comunicação interna dentro das universidades. Os seus criadores não imaginavam o seu potencial. Hoje, da mesma forma, a Libra não passa de “dinheiro de festa junina”. Mas o seu potencial ainda é desconhecido.