Este é um trecho de uma entrevista com o novo secretário para assuntos fundiários, Luiz Antônio Nabhan Garcia.
Que esse novo governo é contra o MST não é novidade. O que me chamou a atenção, no entanto, foi o foco no “dinheiro do contribuinte”.
Estamos acostumados a pensar no Estado como um ente divino, que sempre existiu e existirá para sempre, e que tem o poder de dominar nossas vidas. O governo, que representa o Estado, atua em nome deste para ditar as regras sob as quais vivem os cidadãos. Daí vem o complexo de “otoridade”, em que os representantes do governo, tais quais sacerdotes do Deus-Estado, não admitem desafios à sua “otoridade”. Você, que não faz parte da casta sacerdotal, que fique aí na sua irrelevância, pagando o dízimo para sustentar o governo. Daí também nasce o complexo da “dependência”. O cidadão espera que seus problemas sejam resolvidos pelo Deus-Estado. Sempre e em tudo, o governo “precisa fazer alguma coisa”.
O novo secretário, ao reduzir o problema do MST a um “deboche com o dinheiro do contribuinte”, vira de ponta cabeça essa lógica. Somos os cidadãos os chefes do governo. O Estado é uma construção humana a serviço da sociedade, não o inverso. Somos nós, os contribuintes, que somos os patrões. O MST não é um interlocutor legítimo não porque eu, sacerdote do Estado, tenho essa opinião, uma espécie de dogma. Não vamos conversar com o MST porque sequer tem um CNPJ, e isso é um deboche com o dinheiro público.
Somente quando os representantes eleitos, os funcionários públicos e os cidadãos tiverem essa mentalidade, o Brasil começará a mudar de verdade.