Vamos cair na folia

Fachin negou o habeas corpus a Lula e mandou o julgamento do mérito da ação para o plenário do STF.

No plenário, o STF terá oportunidade de rever a jurisprudência de execução da pena após condenação em 2a instância, livrando da cadeia Lula e todos os outros bandidos condenados, enterrando de vez a Lava-Jato e mostrando, mais uma vez, que justiça é para os pés-de-chinelo.

Mas está tudo bem, vamos cair na folia.

A análise isenta de um petista

Este é Eugenio Bucci, mais um intelequitual “não petista e não lulista”, defendendo o indefensável hoje no Estadão.

Este é só um trecho. O artigo todo é um monumento à desfaçatez.

Começa por cobrar dos juízes uma visão mais, digamos, “política” da história toda. Depois, relembra o impeachment de Dilma por “filigranas contábeis ultracomplexas” para dizer que a justiça começou a perder credibilidade aí. Como se o impeachment tivesse sido julgado pelo TRF-4 ou pelo STF e não pelo Congresso!

A seguir, diz que há “dois pesos e duas medidas” pois Temer continua aí com crimes muito mais graves e claros. Novamente, como se Moro e o TRF4 tivessem algo a ver com Temer! Eles adorariam julga-lo, tenho certeza. Em seguida, veio esse trecho aí embaixo.

Sério mesmo que um cara inteligente como Eugenio Bucci acha que o povo não entende que é impossível uma empreiteira instalar uma cozinha Kitchen de 140 mil e um elevador privativo em um apartamento não vendido?

Depois, vem o trecho em que Eugenio se contradiz: se o apartamento nunca foi ocupado por Lula, a história com o sítio é outra coisa, pois era casa de veraneio da família. Mas Eugenio não se dá por vencido: o caso em foco no TRF4 era o triplex, não o sítio. E sobre o triplex “não há provas”. Ora, ele inicia o artigo cobrando dos juízes uma visão, digamos, mais holística da coisa toda, mas quer que os juízes usem viseiras quando se trata de crimes absolutamente correlatos!

No parágrafo seguinte, cobra punição também para outros ex-presidentes que teriam levado vantagens ainda maiores. Não se dá ao trabalho de nomeá-los, porque certamente levaria um processo. A justiça funciona com provas, não na base de bravatas.

Para coroar, critica a rapidez do TRF4, afirmando que pode passar a impressão de que a justiça tem lado.

Aliás, essa é a grande desonestidade desse artigo: nunca é Eugenio Bucci que acusa ou desconfia. É o “povo”, que não entende as filigranas jurídicas. Um “fosso” estaria sendo criado entre a justiça e o “povo”, ameaçando a legitimidade das eleições e a os fundamentos da democracia. Ele, Bucci, estaria ali como um analista “isento”, somente alertando para os perigos da condenação de Lula “sem provas”. Bem, ele deve estar se referindo ao povo que ele conhece, aquele da Fefeléti. O povo mesmo sabe quanto custa fazer uma reforma em um imóvel, e que ninguém dá nada de graça para ninguém.

Estado Democrático de Direito

“Esse ser humano simpático que está falando com vocês não tem nenhuma razão para respeitar a decisão de ontem” – Lula

“Aqui vai um recado para dona Polícia Federal e para o Poder Judiciário: não pensem que vocês mandam no país. Nós, os movimentos populares, não aceitaremos de forma alguma e, impediremos com tudo o que for possível, que o companheiro Lula seja preso.” – João Pedro Stédile

“Não tenho ilusão de que vamos achar saídas por dentro das instituições. Vamos derrotar esse golpe com uma liminar judicial? Não. Só temos uma caminho, que são as ruas, as mobilizações, rebelião cidadã, desobediência civil.” – Lindbergh Farias

“A ida ontem à Avenida Paulista foi muito importante (a Justiça havia proibido a manifestação na avenida). Esse é o modelo (de desobediência civil). Se quem deve preservar a institucionalidade, agride e hostiliza a institucionalidade, não cabe a nós ficar de braços cruzados respeitando decisões que são inconstitucionais, que são ilegais.” – Wadih Damous

Até quando trataremos o PT como um partido a mais no jogo democrático?