Menino precoce

Lula foi eleito primeiro presidente do PT em 1980. Digamos que ele tenha “vivido dentro de uma fábrica” nos 27 anos anteriores, o que é só uma figura de linguagem, como sabemos. Isso nos dá 1953 como o ano em que Lula mudou sua residência para uma fábrica. Lula nasceu em 1945, o que nos permite concluir que Lula “viveu dentro de uma fábrica” desde os 8 anos de idade. Menino precoce desde sempre.

Um cafezinho com Putin

A decisão de aderir ou não ao estatuto do Tribunal Penal Internacional (TPI) é soberana. Países democráticos, como EUA, Israel e Índia, e não democráticos, como China e Rússia, não aderiram. Cada qual deve ter os seus motivos.

O Brasil aderiu em 2002, no apagar das luzes do governo FHC, e os governos posteriores do PT tiveram mais de 13 anos para rever esse posicionamento. Não o fizeram, provavelmente porque não viram motivo para tal, inclusive do ponto de vista de soberania.

Lula agora lança a possibilidade de “desadesão” ao TPI. O motivo não é uma questão de soberania teórica. Nada disso. Trata-se de algo muito prático: poder receber Vladimir Putin em solo brasileiro sem precisar ordenar a sua prisão, obedecendo ao mandato emitido pelo TPI. Um motivo muito nobre, sem dúvida. Afinal, não é todo dia que se pode receber um estadista desse naipe.

Acho que Lula não vai morrer desse susto: desde que as tropas de Putin invadiram a Ucrânia, de fevereiro para março de 2022, o presidente da Rússia só se arriscou a sair de seu país para visitar ex-repúblicas soviéticas, além do Irã. Então, fica difícil imaginar Putin pegar um avião para pousar em Brasília. Lula deve (ou deveria) saber disso. Perdeu a oportunidade de dar uma resposta evasiva, sabendo que muito dificilmente teria que enfrentar o problema de verdade.

De qualquer forma, Lula entregou de graça (mais uma vez) a sua queda por governos não democráticos. Uma coisa é sair do TPI porque há o entendimento de que fere, de alguma forma, a nossa soberania. Outra bem diferente é sair do TPI para poder tomar um cafezinho com Putin no Planalto. A democracia é, sem dúvida, coisa muito relativa.

Zeus e Prometeu

O grande erro da Lava-Jato foi ter tocado no Intocável. Mais sábios foram os juízes do Mensalão, que chegaram, no máximo, ao capataz.

– Ah, mas como é possível ignorar provas? – dirão alguns.

Sempre é possível, trata-se de uma avaliação. No caso, a Lava-Jato assinou a sua sentença de morte ao não ignorar as provas contra o Demiurgo.

Estou entre aqueles que se entusiasmaram com um Brasil que parecia ter amadurecido, um Brasil em que não existem deuses, mas apenas homens pecadores. Estava enganado, há um ser Divino e toda uma corte olímpica a servi-lo.

Lula elegeu-se com apenas um objetivo em mente: colocar atrás das grades Sérgio Moro e todos os procuradores envolvidos em sua prisão. A peça de Toffoli servirá para isso. Tal qual Zeus do alto do Olimpo, não descansará enquanto não amarrar Prometeu ao penhasco para ser comido vivo pelas águias, Prometeu que ousou roubar o fogo da sabedoria e dá-lo aos homens dessa Terra Brasilis.

Receita para aumentar a audiência das lives de Lula

Mesmo com apoio da EBC… como se aquele cabide de empregos fizesse alguma diferença para alguma coisa.

O fenômeno da maior popularidade de Bolsonaro nas redes, se comparada à de Lula, não é de hoje, sempre foi assim. A reportagem chama a atenção para o fato mas não explora os eventuais motivos. Está aí uma pauta que seria interessante ser explorada.

A explicação de que os bolsonaristas mais gostam é que Bolsonaro simplesmente é mais popular que Lula, o que seria, inclusive, uma evidência de que as eleições de 2022 teriam sido roubadas. O problema dessa “explicação” é que se popularidade nas redes (ou na TV ou em qualquer mídia) fosse garantia de voto, bastava escalar os maiores influencers para concorrer em eleições majoritárias. Luciano Huck ensaiou mais de uma vez, mas não teve coragem. Quem sabe Felipe Neto não se anima? Desconfio que, em uma eleição entre Bolsonaro e Felipe Neto, a diferença de votos entre os dois seria muito menor que a razão entre o número de seus seguidores.

Na falta de uma análise mais técnica, eu tenho minha hipótese: as lives de Lula têm pequena audiência porque são um porre. Já tentou assistir? É muito chato. Um formato produzido, com jornalista profissional, engomadinho, não tendo nada a ver com o personagem, que está claramente pouco à vontade ali. Bolsonaro fazia a coisa improvisada, trazia sanfoneiro, entrevistava os ministros, enfim, tinha um certo ar de pastelão que atraía o público, além de seus fãs de carteirinha. Minha orientação para o Lula seria ele se livrar de toda essa parafernália e gravar as lives em um bar ou em um churrasco, falando de maneira solta, como ele fala com os amigos, de preferência meio alto. Claro que, sem controle nenhum, a torneirinha de asneiras jorraria sem parar, para a alegria de seus adversários. Mas garanto que a audiência aumentaria exponencialmente. Não, não vai acontecer, o que é uma pena.

Torneirinha de asneiras

A boneca Emília, criação do genial Monteiro Lobato, de vez em quando desatava a falar bobagens. Tia Nastácia, a boa empregada de Dona Benta, dizia que, nesses momentos, Emília abria a “torneirinha de asneiras”.

Lembrei da personagem ao ler a reportagem abaixo, que transcreve trechos de uma entrevista de Lula para jornalistas estrangeiros. Tentei destacar um ou outro trecho, mas desisti. São muitas e variadas as asneiras, que botariam Emília no chinelo. Colo, então, a matéria completa, para que vocês vejam que não estou exagerando. A “torneirinha de asneiras” de Lula está mais para uma “lavadora de alta pressão de asneiras”.

O que Trump e Lula têm em comum?

Editorial do Estadão reflete a perplexidade liberal (no sentido americano do termo) diante do favoritismo de Donald Trump pela indicação de seu partido e como o mais competitivo dos candidatos diante de seu oponente democrata.

Em determinado trecho, o editorialista pergunta como pode um sujeito ameaçado de prisão em vários processos, ainda assim, receber a preferência da maioria de seus correligionários. Eu tenho uma hipótese, que deriva não da observação do cenário americano, mas de algo muito mais próximo: a candidatura Lula.

Lula viveu uma situação ainda pior que Trump. O atual presidente não estava ameaçado por processos, ele foi de fato processado, condenado e preso. Viveu seu exílio em Curitiba durante quase dois anos, até ter seus processos anulados por um problema de CEP dó juiz que o condenou em primeira instância. A confirmação da sentença por três desembargadores e a revisão do processo pelo STJ, do ponto de vista judicial, não valeram nada. No entanto, do ponto de vista político, deveriam significar a morte política de Lula. Não só não significaram, como Lula se reelegeu. Esse fato pode nos ajudar a entender porque Trump ainda é, apesar de tudo, o favorito dos republicanos.

Podemos dividir os eleitores de Lula em três categorias: 1) aqueles que acham que ele foi vítima de uma armação, 2) aqueles que sabem que ele cometeu crimes, mas seria um mal menor para o país e 3) aqueles que nem sabem direito o que aconteceu, mas gostam do Lula pai dos pobres. Assim, explica-se como alguém que “violou escandalosamente diversas leis no exercício da presidência”, no dizer do editorialista, consegue se eleger presidente da República. Os republicanos também se dividem nessas três categorias, sendo que, na última, podemos substituir “pai dos pobres” por “make America great again”.

Costuma-se, com razão, comparar Bolsonaro com Trump, com base na posição dentro do espectro político. Mas, do ponto de vista de sobrevivência política mesmo enfrentando processos e cadeia, é Lula o modelo para entender os eleitores de Trump.

A roda-gigante da democracia

A respeito do meu post sobre a democracia no Brasil e a probabilidade de “virarmos uma Venezuela”, vários seguidores desta página argumentaram mais ou menos na seguinte linha: o judiciário está mancomunado com o PT, e é só uma questão de “quando”, não de “se”, vamos virar uma Venezuela. Meu argumento, naquele post, era de que o centro político (não confundir com o “centrão”, ainda que este último faça parte do primeiro) é muito forte no Brasil, e não tolera extremismos. Nosso problema é patrimonialismo, não extremismo.

A confirmar essa visão, uma matéria e uma coluna de hoje no Estadão trazem aspas importantes. A matéria, sobre o “isolamento de Lula na cúpula do Mercosul”, traz falas de Carlos Siqueira e Luciano Bivar, repercutindo as declarações de Lula sobre a Venezuela. Bivar é um expoente do Centrão, mas Siqueira é nada menos que o presidente do PSB, demonstrando que o centro político é mais abrangente que o “centrão”.

Mas o mais importante, e que ganhou pouca repercussão, foi o tuíte do decano do STF, Gilmar Mendes, publicado logo após Lula ter afirmado que a democracia seria um “conceito relativo”, e reproduzido na coluna de Marcelo Godoy. O mesmo Gilmar Mendes que impediu Lula de assumir a Casa Civil no governo Dilma e foi instrumental para que Lula fosse solto e recuperasse seus direitos politicos, esse mesmo Gilmar agora mostra o cartão amarelo ao presidente. É a roda-gigante a que me referi no meu post.

Godoy, em sua coluna, afirma que Lula perdeu o habeas corpus que tinha para falar o que bem entendesse no momento em que os direitos políticos de Bolsonaro foram cassados. Lula era o que havia à mão para o sistema se livrar de Bolsonaro. Agora, Siqueira, Bivar e Mendes alertam que a licença de Lula expirou.

Lavando o dinheiro na água santa do bem

Lula tem uma cisma com viagens espaciais. Não é a primeira vez que toca no assunto. Em 2021, quando Luiza Trajano foi indicada pela revista Forbes como uma das 100 personalidades do ano, Lula escreveu um texto em sua homenagem. Entre outras coisas, disse: “Em um mundo onde bilionários queimam fortunas em aventuras espaciais e iates, Luiza se dedica a um tipo diferente de odisseia. Ela assumiu o desafio de construir um gigante comercial e ao mesmo tempo construir um Brasil melhor”.

Poder-se-ia pensar que, na cabecinha de Lula, viagens espaciais são “dinheiro jogado fora”. Mas não é bem isso. O seu próprio governo financiou a ida do astronauta Marcos Pontes para o espaço em 2006, gastando não pouco dinheiro com isso. A cisma de Lula está com os “bilionários” que “brincam” de ir ao espaço. Seria, assim, como uma espécie de hobby caro, como aquele dos bilionários que acabaram implodidos junto ao Titanic.

Não é que Lula não goste de bilionários. Luiza Trajano, por exemplo, é bilionária. A diferença é que usa a sua fortuna “para o bem”. Não “queima” com brinquedos caros, mas investe para “construir um gigante comercial e um Brasil melhor”.

E não adianta revoltar-se e espernear diante desse tipo de sandice. Não perca seu tempo tentando explicar que as viagens espaciais de Elon Musk e Richard Branson são um negócio tão legítimo quanto a cadeia de lojas de D. Luiza. Aliás, eles estão na fronteira da tecnologia, um lugar em que gostaríamos de estar.

Mas, indo um pouco além, o busílis parece estar na origem do dinheiro. O dinheiro privado é pecaminoso, e só encontra a sua redenção quando é usado com “fins bons”, para “diminuir a desigualdade”. Naquele mesmo texto da Forbes, Lula elogia D. Luiza por ter ajudado os pequenos comerciantes durante a pandemia, ao dar-lhes um lugar em seu marketplace. Note que os lucros que a Magazine Luiza obtém com essa operação são “lavados” na água santa da boa intenção de “ajudar os pequenos comerciantes”.

Por outro lado, mandar Marcos Pontes para o espaço com dinheiro público não precisa de justificativa. Trata-se de um investimento sem fins lucrativos, e isso basta. Pouco importa que esse dinheiro não tenha sido usado para “diminuir as desigualdades” ou “melhorar as condições de vida do povo”. O dinheiro público, ao não buscar o lucro, não precisa ser lavado na água santa do bem. Todo gasto público já está justificado em princípio.

Portanto, não perca o seu tempo tentando argumentar. O mindset é esse: o dinheiro privado precisa ser justificado, o dinheiro público, não. Tenha isso em mente, e tudo ficará mais claro.

Lula’s historical footage.

1) Lula in an interview with foreign journalists, opposing the war between Germany and Poland: “both countries should stop the war!” (Sep 2, 1939)

2) Lula talking to a crowd in Sao Paolo, delivering his famous speech “I only listen the word ‘war’ while children are starving!”, reasoning that Germany and France should be negotiating to end the war. (May 11, 1940)

3) Lula holding a sheet of paper with his speech known as “nobody’s to blame the war”, urging Germany and USSR to sit and talk (Jun 23, 1941).

Será que é assim tão fácil?

Eu fico me perguntando: se era assim tão fácil, por que não foi feito antes? A resposta a essa pergunta normalmente é: é porque não é assim tão fácil.

Com uma canetada, Lula “resolveu” o problema do Galeão: vai restringir os voos do Santos Dumont a aqueles com origem/destino em Congonhas e Brasília. Para mim, que uso Congonhas, tudo certo. Para os políticos de Brasília, também. Para vocês do resto do Brasil, que lutem.

Jabuti não sobe em árvore. Se há excesso de voos no Santos Dumont e falta no Galeão, algum motivo tem. Normalmente, citam a dificuldade de acesso e a segurança. O fato é que, deixado ao natural, a demanda é pelo Santos Dumont, daí seguindo a oferta. Reduzir a oferta na canetada pode ter uma consequência não intencional: a desistência das pessoas de virem ao Rio. Diante da escolha “Galeão ou nada”, a escolha pode ser “nada”. Isso só saberemos quando a medida for implementada.

Enfim, e voltando ao início, se fosse assim tão fácil alguém já teria feito. Vamos ver as cenas dos próximos capítulos.