Abusando da paciência

Lula arrolou 87 testemunhas de defesa. Moro aceitou ouvi-las todas, desde que Lula esteja presente em todas as audiências.

Pergunta: foi Moro que abusou de sua autoridade, ou foi Lula que abusou de nossa paciência?

Os fanáticos do profeta

Há algum tempo venho querendo escrever sobre isso, mas outros assuntos mais urgentes atropelaram.

Trata-se da pergunta de Eugênio Bucci a João Doria no Roda Viva. Foi a primeira pergunta do programa. Mais do que uma pergunta, Bucci tirou satisfação de Doria. Será que o prefeito de São Paulo não tem sido muito duro com Lula e com o PT? Afinal, apesar de seus erros, têm também os seus acertos, e representam (ou representaram) a esperança de milhões de brasileiros.

A resposta de Doria foi a óbvia, e o vídeo está rodando por aí. Nada justifica a roubalheira e a maior recessão do Brasil.

Eugênio Bucci retomou o assunto em artigo no Estadão na quinta-feira, reforçando o argumento com a publicidade das delações da Odebrecht. Afinal, se todos roubaram, menos justificado ainda o ódio dirigido especificamente a Lula e ao PT. Todos mereceriam a execração.

O argumento estaria correto, a menos de um detalhe, que não tem nada de pequeno: Lula e o PT se auto-proclamam os porta-vozes dos pobres, os únicos que buscam os verdadeiros interesses do povo. No dizer de Doria, na sua resposta a Bucci, “pretendem deter o monopólio da virtude”.

Quem não se lembra? Bastava criticar alguma política pública, e você era acusado de não gostar que pobre “andasse de avião”, ou que “o filho da empregada frequentasse a mesma universidade que os ricos”, ou ainda, que “a elite ficou incomodada com a ascenção dos mais pobres”.

Pior do que esse discurso, no entanto, é o tratamento de profeta que Lula recebe. Pessoas supostamente inteligentes, diante de evidências cada vez mais evidentes, preferem atacar a Lava-Jato a admitir que seu profeta talvez não seja, assim, tão santo.

Se um dia Aécio Neves ou Alckmin forem depor ao juíz Sergio Moro, juntarão, quando muito, meia dúzia de curiosos. Já Lula e o PT estão convocando os seus discípulos para defender o seu profeta. Tudo bem que está cada vez mais difícil de encontrar discípulos que atendam ao chamado sem um pão com mortadela, mas me refiro aqui aos intelectuais de miolo mole, que fazem de graça.

Esta é a diferença: o problema de Aécio ou de Alckmin com a justiça é problema deles. O problema de Lula com a justiça é problema de seus discípulos. Discípulos do profeta, que o defendem como se defendessem suas próprias vidas. Imagine se Aécio consegue subir hoje em um carro de som na Paulista e ser aplaudido. Mas Lula consegue. Esta é a diferença.

Eugênio Bucci termina o seu arrazoado com uma chamada ao diálogo. Sim, o diálogo é possível entre duas pessoas racionais, que concordam em respeitar algumas regras básicas, como a honestidade intelectual e o respeito aos fatos. Não é o caso, quando o outro lado é formado não por pessoas racionais, mas por fanáticos do profeta.

É feio roubar?

Estou lendo Anatomia de um desastre, dos jornalistas Cláudia Safatle, João Borges e Ribamar Oliveira, contando a história da maior recessão brasileira de todos os tempos.

Logo no início tem um capítulo chamado “Momento mágico”, em que os autores contam o ápice do governo Lula, o ano de 2010, quando o Brasil cresceu 7,5%, e tudo parecia ser possível. Mal se sabia que ali estava se plantando a semente da maior recessão da história.

Mas não é este o ponto agora. Chamou-me a atenção outro aspecto levantado pelos jornalistas: o fato de Lula usar recorrentemente a expressão “momento mágico” em seus discursos. Lula é um grande comunicador, e sabe o poder das palavras, dos slogans. Obviamente, devem se basear em fatos, caso contrário não se sustentam. E era um fato que o Brasil estava crescendo, e a renda dos trabalhadores estava aumentando. Mas Lula também sabia que precisava capitalizar em cima daquilo, e usou e abusou do slogan “momento mágico”, embalando os brasileiros em um clima de ufanismo, que se somava à melhora econômica. Não bastava a renda maior. Era preciso que o brasileiro soubesse quem era responsável por aquilo. E a repetição do slogan “momento mágico” ajudava a criar essa aura de “podemos tudo”, que persiste até hoje. É essa a imagem que o brasileiro guarda do governo Lula, com nostalgia.

O contraste com o governo atual é gritante. Temer é a antítese de Lula em termos de comunicação pessoal e, além disso, a comunicação do governo é inexistente. Fosse Lula, estaria martelando na cabeça do povo a “herança maldita” que recebeu. Por muito menos, fez isso com FHC do início ao fim do seu mandato.

Qual o único político que tem feito isso com maestria? Sim, ele, João Doria. O único tema nacional que ele toca é lembrar a todos que o PT é uma quadrilha que pilhou o Brasil, e que Lula é o chefe da quadrilha, sem vergonha e cara de pau. Não importa se as pessoas sabem disso ou não, se concordam ou não. Ele repete, repete e repete. É seu slogan. Aquele que vai usar na sua campanha presidencial.

Nada é mais importante, nada mexe tanto com o imaginário da população, nada desmonta de maneira mais humilhante o discurso de Lula, a ponto de obrigar militantes do PT a defender uma certa leniência moral, como se roubar fosse algo relativo, justificável em alguns casos (para quem não sabe sobre o que estou falando, leia o artigo do Bresser Pereira na Folha hoje). Lula ainda não respondeu pessoalmente. Ainda. Quando o fizer, saiba que Doria ganhou.

Lembro da campanha para governador de 1998, quando Covas enfrentou Maluf no 2o turno. Covas espalhou outdoors pela cidade, com a foto de um menininho, e a frase: “Papai, é feio roubar?”. Ganhou a eleição.

A criatura de FHC

O ano é 1995, maio. FHC enfrenta, por onde quer que vá, protestos da CUT. Pequenos, mas bastante ruidosos. Os petroleiros estão em greve, e os protestos são contra as reformas.

FHC anota em suas memórias: “Isso é […] uma atitude que não é nem revanchista, é passadista, de gente que precisa de movimentação e crê que tem diante de si um inimigo, como se fosse o inimigo histórico. Essa coisa tão patética hoje em dia, até porque eu não sou Collor, não tem por que fazer esse tipo de agressão, e muito menos à Ruth, que tem uma atitude bastante aberta.”

FHC faz o diagnóstico correto: para o PT, ele era o inimigo. Mas, ingenuamente, acredita que, não sendo Collor, merece o respeito de Lula. Tanto é assim, que fez corpo mole nas eleições de 2002, pois seu candidato “in pectore” é Lula. Lula é o seu projeto político: depois de colocar a casa em ordem, entregaria o poder a um operário com mentalidade contemporânea, que seguiria, com mais legitimidade do que ele próprio, a trilha por ele iniciada, com o objetivo de situar o País como uma moderna democracia.

Foi passar a faixa, e ouviu de Lula pela primeira vez as palavras que marcariam dali em diante a relação entre os dois: “herança maldita”. Era a punhalada nas costas por parte de sua criatura. Ali ficava claro que o inimigo era sim ele. FHC e o PSDB eram a única alternativa real de poder. E, portanto, deviam ser destruídos.

Dilma foi uma criatura de Lula, e por isso nunca vamos perdoa-lo. Mas Lula é, de certa forma, uma criatura de FHC, fruto do idealismo (ingenuidade?) de FHC. Tendo entendido a natureza do escorpião, preferiu olhar para o outro lado, e ignorar as evidências que se acumulavam desde o início, como ficou claro no trecho acima. Hoje, FHC se diz decepcionado com Lula. Tarde demais. Se chegamos ao ponto que chegamos, FHC tem uma parcela significativa de culpa. Pois abriu mão do poder em nome de uma espécie de “quitação de dívida histórica” e, depois, abriu mão de seu papel de principal líder da oposição.

O pau que segura a lona do circo

Esqueçam tudo.

Distribuição de cargos, racha do PMDB, antecipação de eleições, impeachment do Temer. Nada disso importa.

A única coisa que realmente importa é o destino de Lula, a ser decidido pelo STF na semana que vem. Ele é o pau que segura a lona do circo.

Lula e o motorista

O motorista Alfredo José dos Santos atacou a juíza Tatiane Moreira Lima. Imobilizou-a e ameaçou incendiá-la. Santos não se conformava com a postura rigorosa da magistrada.

Santos foi preso.

O palestrante Luís Inácio Lula da Silva atacou o juiz Sérgio Moro. Imobilizou-o no STF e ameaçou incendiar o país. Lula não se conformava com a postura rigorosa do magistrado.

Lula virou ministro.

Lula é nossa anta!

MP de São Paulo pedindo a prisão da jararaca! Com todo respeito ao MP do Paraná e ao juiz Sérgio Moro, sai pra lá! O Lula é cria de São Paulo, e é aqui que ele vai morrer politicamente. Como diria Diogo Mainardi, LULA É NOSSA ANTA!!!

Nos braços do povo

Lula disse que iria pra rua. E foi mesmo. Saiu do apê onde mora, e caiu nos braços do povo… petista! Não andou mais que 2 metros.

Quero ver andar na rua mesmo, sem seus bate-paus, em qualquer cidade brasileira.

Não é meu

A Odebrecht pagou as obras do Instituto Lula. Mas Lula vai dizer que o Instituto não é dele. Se quiseram dar o nome dele ao Instituto, ele não tem nada a ver com isso.