Sai seis, entra meia-dúzia

Muito bem, trocamos de ministro.

Nas próximas horas, espero duas coisas:

1) Uma resolução do ministério indicando a cloroquina como terapia eficaz no tratamento do Covid-19 e

2) Uma resolução do ministério recomendando a adoção do tal “isolamento vertical”, mantendo somente idosos e pessoas com comorbidades em casa, e liberando todas as atividades econômicas.

Se isso não acontecer, ficará claro que a troca no ministério foi somente por uma birra pessoal do presidente.

Fora, Mandetta!

Descobri que está rolando nas redes sociais bolsonaristas a hashtag #foramandetta.

Quer dizer, Bolsonaro não tem coragem de mandar seu ministro da saúde passear, então fica criticando-o a céu aberto, enquanto as redes sociais amigas fazem o serviço de assá-lo em fogo alto.

Não seria mais fácil demiti-lo?

Não, não seria mais fácil. E vou explicar porque.

Mandetta, seguindo o exemplo de praticamente todos os países relevantes do mundo, vem patrocinando o isolamento social como medida de contenção da pandemia. Só faz sentido trocar o ministro se, em seu lugar, entrar alguém que faça o oposto. Mas isso significaria assumir a responsabilidade por essa política arriscada, que pode até dar certo, mas pode dar muito, mas muito errado.

Portanto, muito mais conveniente dizer que não concorda, mas esconder-se atrás de um ministro que não o “obedece”. Assim, Bolsonaro pretende ficar com os dois bônus: o do achatamento da curva de transmissão e o de ter “avisado” sobre os efeitos deletérios da política de contenção.

Muito esperto. Mas, como dizia Tancredo Neves, esperteza, quando é muita, come o dono.

Uma história mal contada

Assim como o autor do artigo (Mandetta x Prevent Senior – o que há por trás dessa história?), minha mãe e minha sogra têm cobertura pela Prevent Senior. Meu pai também tinha, até o seu falecimento. Todos sempre foram muito bem atendidos.

Por isso, assim como o autor, também achei esquisito esse ataque à Prevent Senior por parte do ministro da saúde. Sem dúvida, é preciso observar se os protocolos estão sendo cumpridos e, se não, precisam ser retificados. Isso é uma coisa. Outra é falar em intervenção, como se o hospital fosse uma espelunca. Não é, posso garantir.

Seria realmente uma pena que uma empresa como a Prevent Senior fosse destruída por um lobby, usando o coronavírus como desculpa. Muitos idosos voltariam a ficar à mercê dos planos de saúde que não mais os aceitam.

Skin in the game

Bolsonaro fez um discurso de confrontamento. Confronto é o que menos precisamos no momento.

O presidente tem a caneta na mão. Digamos que ele esteja certo. Por que então não chama a responsabilidade e baixa uma MP proibindo o fechamento compulsório de escolas e comércio em todo território nacional? Aqui não é os EUA, onde os Estados têm quase total autonomia. No Brasil, o presidente tem poder sobre todo o país. Por que fica só no discurso?

Mandetta criticou o fechamento indiscriminado do comércio e meios de transporte. Disse que essas coisas podem atrapalhar o próprio sistema de saúde, e que é preciso ter uma certa coordenação. Sim. E quem está coordenando? O governo federal vai ficar só na crítica ou vai assumir a coordenação da bagaça?

Os problemas no sistema de saúde recaem sobre governadores e prefeitos. A União controla apenas uma parcela pequena dos hospitais. São governadores e prefeitos que estão com o skin in the game. Talvez por isso estejam mais cautelosos que o presidente.

Senhor presidente: saia do discurso e venha para a prática. Proíba o fechamento de escolas e comércio. E chame as consequências para si.