Este é o outro lado da moeda da entrevista de Rodrigo Maia. Filipe Martins representa o “núcleo duro” do bolsonarismo, um movimento que tem a pretensão de refundar o Brasil sobre novas bases éticas.
Para tanto, prega a ligação direta do “povo” com o presidente, levando o Congresso, com a força “das ruas”, a votar o que o Executivo quer. No limite, “as ruas” governariam.
Bem, isso é tudo, menos democracia representativa. No regime político em que vivemos, o povo elege seus representantes, e estes se entendem sobre quais leis serão aprovadas e rejeitadas. Ao propor a “ligação direta” do povo com o presidente, Filipe propõe um outro sistema político.
– Ah, mas Filipe Martins não está propondo o fechamento do Congresso. O que ele propõe é que o “povo”, “aquecido” pelo governo, force, nas ruas, os seus deputados a votarem o que é bom para o Brasil. Bem entendido, tudo o que Bolsonaro propõe é para o bem do Brasil.
Muito legítima a pressão das ruas. Quando existe. O povo tem mais o que fazer do que ir para as ruas toda hora. Eu e milhões fomos às ruas para derrubar Dilma e o PT. Mas, para que isso aconteça, é necessária uma situação muito grave.
Filipe Martins tem a ilusão de que aqueles milhões que foram às ruas são aliados automáticos de Bolsonaro, e que sairão às ruas com um simples toque de Twitter. Lula e o PT tinham a mesma ilusão, e achavam que o “povo”, tão beneficiado por suas políticas, iriam às ruas para defendê-los. Deu no que deu.
Derrubar as velhas práticas políticas (entenda-se bandidagem) não significa passar por cima das legítimas instâncias políticas. É este o recado de Maia, e que deveria ser levado a sério por Bolsonaro.