Cenário da eleição em São Paulo

Márcio França rendeu-se às evidências e vai concorrer ao senado na chapa de Haddad. Sua candidatura, no final, era uma candidatura de si próprio. Enquanto Haddad representa Lula, Tarcísio representa Bolsonaro e Garcia tem a máquina do governo, França só tinha a seu favor o recall da última eleição. A tendência, já captada em pesquisas, era perder votos para Tarcísio e, principalmente, Garcia.

Com Márcio França fora do páreo, praticamente consolida-se um 2o turno entre Haddad e o vencedor entre Tarcísio e Garcia. Esse confronto entre o 2o e o 3o lugares é, na minha opinião, uma espécie de final antecipada. O antipetismo do interior do estado é um teto quase intransponível para qualquer candidato do PT no estado. Portanto, meu palpite é que o próximo governador será Tarcísio ou Garcia.

Tarcísio tem a vantagem e a desvantagem de estar colado a Bolsonaro. A vantagem óbvia é ter um piso alto, por conta do eleitorado cativo do mito. A desvantagem é o anti-bolsonarismo, que é uma força que extrapola o simples petismo, e pode significar um teto baixo de votos. Aliás, eu diria que Haddad está torcendo para ter Tarcísio no 2o turno. Tarcísio aumentaria suas chances se conseguisse, de alguma maneira, descolar sua imagem da de Bolsonaro. Não perderia os votos da base bolsonarista e poderia ganhar alguns votos daqueles que rejeitam o presidente. Foi o movimento que Zema, por exemplo, fez em Minas, não aceitando uma composição com Bolsonaro no 1o turno. Mas, para Zema, é mais fácil do que para Tarcísio.

Garcia, por sua vez, tem a vantagem e a desvantagem de ter a máquina do governo. A vantagem óbvia é ser o representante de uma teia de apoios construída nos últimos 30 anos pelo PSDB no estado. A desvantagem é a fadiga de material. O PSDB, tal qual o conhecíamos, acabou em 2018, com a votação nacional pífia de Alckmin, e Doria sendo eleito aos 45 minutos do 2o tempo pendurado nas bolas de Bolsonaro. Se Tarcísio é um forasteiro em São Paulo, Garcia é um forasteiro no PSDB, tendo se filiado ao partido apenas em 2021. Daquele velho PSDB que dominou a política paulista nas últimas décadas, restam apenas as 4 letras. Será o suficiente para empurrar a candidatura de Garcia?

Enfim, o cenário da eleição em São Paulo vai se afunilando. O mais provável, na minha opinião, é que tenhamos o repeteco da polarização nacional aqui também.

A natureza do escorpião

Ontem, tanto Márcio França quanto Paulo Skaf ligaram para João Doria para cumprimenta-lo pela vitória. Não tenho dúvida de que Doria teria feito o mesmo caso o vencedor do pleito fosse qualquer um dos outros dois.

Aécio ligou para Dilma em 2014, assim como todos os candidatos derrotados nas últimas eleições presidenciais ligaram para os vitoriosos.

O derrotado parabenizar o vitorioso faz parte da liturgia de um processo eleitoral democrático. É sinal de uma oposição que pode ser forte, mas não será desleal.

Haddad não ligou ontem para Bolsonaro. Segundo ele, “porque não sabia como sua ligação seria recebida”. Parece coisa de adolescente, mas é só o cacoete de um partido hegemônico, que não aceita a derrota.

Se Bolsonaro iria ligar para Haddad em caso de derrota? A julgar pelo seu discurso da fraude nas urnas, provavelmente não. Mas isso seria apenas a confirmação de sua imagem anti-democrática.

Haddad, ao contrário, ganhou muitos votos de última hora por representar pessoalmente a imagem da “resistência democrática” ao avanço autoritário. Muitos votaram em Haddad apesar do PT, pois o seu bom-mocismo e seu ar intelectual sempre lhe deram esse ar meio PSDB.

Haddad, ao não parabenizar Bolsonaro, perdeu a chance de ouro de distender o ambiente e se mostrar um verdadeiro democrata. Perdeu a chance de se tornar um líder relevante da oposição. Vai desaparecer no meio da gritaria antidemocrática do PT.

Haddad demonstrou ontem a verdade da velha máxima, a de que o escorpião não perde a sua natureza.

Não há dúvida sobre em quem não votar

Major Olímpio apoia França.

Skaf apoia França.

Os interesses corporativos do funcionalismo público e da indústria se unem em torno do candidato do PSB, partido que declarou apoio ao PT nacionalmente.

Alguma dúvida em quem não votar?

Em tempo: Doria não é do PSDB. Doria tomou de assalto o PSDB. Doria é o PSDB que gostaríamos de ter desde o início.

“De menor” caro

A informação abaixo é do atual governador de São Paulo, e candidato à reeleição, Márcio França.

O que ele está dizendo é o seguinte: cada interno da ex-Febem custa aos cofres públicos R$ 138 mil/ano. Isso equivale a aproximadamente US$ 33 mil/ano. Esta é a renda per capita do Japão.

Mas não precisa ir longe. Qualquer pai de classe média alta precisa fazer muito esforço para gastar isso com um filho. Um bom colégio custa R$4 mil/mês ou R$48 mil/ano. Coloque aí atividades extracurriculares, viagens pra Disney, etc, ainda se ficará longe deste valor.

Não sei se fico mais preocupado com o fato do governador do Estado provavelmente ter errado um número que divulga para a imprensa, ou se com a possibilidade desse número estar correto.

A última princesa do baile

A última princesa do baile saiu da festa sem se casar com ninguém.

Com a definição do PSB pela neutralidade, temos apenas um candidato à presidência com uma coligação para chamar de sua: Alckmin.

A neutralidade do PSB tem sido apontada como uma vitória de Lula sobre Ciro, o que é verdade. Sozinho no PDT, diminuem as chances do coronel de Sobral passar para o 2o turno representando “a esquerda”.

Mas o outro ganhador, reforçando a fama de jogar parado, foi Alckmin. Garantiu a máquina do governo de São Paulo para a sua campanha, pois Marcio França, sua quinta-coluna dentro do PSB, poderá trabalhar livremente por sua candidatura no maior colégio eleitoral do Brasil, sem as amarras de uma aliança nacional.

Alckmin está juntando dezenas de exércitos em pontos estratégicos do tabuleiro para atingir seu objetivo. Resta saber se jogará bem os dados quando começarem as batalhas.

Ovo da serpente

Este é o ovo da serpente que Alckmin deixou de presente para os paulistas.

O plano era o seguinte: com a concessão do estacionamento do Ibiraquera, o concessionário faria a manutenção do próprio parque e de outros cinco na periferia. Márcio França mandou parar tudo (a área do estacionamento é estadual) porque, afinal, “o parque é público e não combina com interesses privados”.

Obrigado Alckmin, pelo presente que deixou aos paulistas.