Fui ler a reportagem, curioso para saber a reposta dada para a questão que é título da matéria: “Por que Marta não tem patrocínio e ganha menos de 1% do salário de Neymar?“
Já escrevi sobre isto aqui. O diagnóstico parece simples: tem muito mais consumidor que assiste futebol masculino do que futebol feminino. Minha esperança é de que a reportagem trouxesse alguma evidência em contrário, para que eu pudesse enriquecer meu ponto de vista.
Saí frustrado. Fui lendo, lendo, e a única frase que tenta refutar a tese é de uma “especialista” em questões de gênero no trabalho: “As jogadoras ganham menos porque, por acaso, participam de um mercado que gera remuneração menor ou é o mercado que paga menos porque se trata de mulheres? A primeira opção, da lei de mercado, é a argumentação mais comum (para defender salários menores para elas). Mas essa é uma visão muito míope”.
Sim, é isso. A “visão” de que você recebe proporcionalmente ao lucro que você gera seria muito “míope”. Procurei em vão alguma visão alternativa no restante da reportagem. A única oferecida é de que as mulheres recebem menos por serem… mulheres. Bem, assim é se assim lhe parece. Entre os 10 tenistas mais bem pagos do mundo, 4 são mulheres. Por algum mistério ainda não explicado, o preconceito atingiria as futebolistas, mas não as tenistas.
Outro “especialista” sugere a adoção de cotas de transmissão nas TVs. Pode ser que funcione. Sugiro também a adoção de cotas de transmissão de outros esportes, como basquete, volei, curly e críquet. Afinal, não são só as mulheres futebolistas que sofrem com o monopólio do futebol masculino. Quem sabe com mais transmissão, esses esportes também não se tornem mais populares. O duro é saber como as emissoras vão sobreviver com tanta cota.
Sem dúvida, o futebol feminino está muito para trás em termos de desenvolvimento mercadológico em relação ao masculino. Há um longo caminho a percorrer. Entretanto, exigir pagamentos iguais antes de percorrer este caminho é colocar o carro adiante dos bois. Primeiro vem a popularização. Depois vem o dinheiro.