Quando Lula foi eleito pela primeira vez, surpreendeu o mercado e seu próprio partido ao escolher o ex-prefeito de Ribeirão Preto, o médico Antônio Palocci, para o ”pior emprego do mundo”, no dizer de Thomas Traumann. Lembro-me como se fosse hoje, um colega analista de crédito, muito experiente, dizendo-me que Palocci havia feito um excelente trabalho na área de finanças públicas à frente da prefeitura da cidade do interior paulista, e que o mercado iria se surpreender positivamente com ele. Dito e feito.
Ao contrário do discurso, Lula não escolheu um político com o objetivo de dialogar com o mundo político e fazer avançar a sua agenda no Congresso. Na verdade, com exceção da reforma da Previdência dos servidores, aprovada no fim de 2003, a agenda parlamentar do primeiro governo Lula na área econômica foi bem esquálida. Palocci foi escolhido, na verdade, para ajudar a segurar a bronca dentro do próprio PT. O ex-prefeito servia como anteparo para as críticas dos petistas-raiz, que queriam uma política econômica heterodoxa. Passou seus três anos à frente da pasta debaixo de uma chuva de críticas, até que foi abalroado pelo escândalo do caseiro. Em conjunto com o Mensalão, essa foi a senha para que a ala “desenvolvimentista” do partido tomasse conta, e Guido Mantega assumisse o leme da economia. O resto é história.
Haddad faria esse papel? Pouco provável. Haddad, ideologicamente falando, está mais para Mantega do que para Palocci. Além disso, 20 anos, um Petrolão e uma Dilma depois, será bem mais difícil atrair nomes como Joaquim Levy, Marcos Lisboa ou Alexandre Schartzman para a sua equipe. O programa de governo do PT está tão claro quanto a luz do dia em relação aos seus pendores desenvolvimentistas, e não há uma Carta aos Brasileiros para mitigá-lo. Haddad seria o nome perfeito para implementar esse programa. A semelhança com Palocci se reduz ao fato de os dois serem políticos. E só.
Como nota de rodapé, o nome de Haddad ser ventilado como futuro ministro da Fazenda mostra o grau de convicção dos petistas sobre as reais chances de o ex-prefeito ser eleito governador de São Paulo.