O MTST, que mais uma vez atazanou os paulistanos hoje, é muito fácil de entender.
Há um grupo de bem-nascidos que chegaram à conclusão de que essa estória de democracia representativa é coisa de burguês. O que realmente vai mudar a vida do pobre é a revolução do proletariado. E eles são a vanguarda dessa revolução.
Pois bem, falta o povo. Como cooptá-lo? Aí vem a grande sacada: a bandeira é a moradia, e o modus operandi é a invasão. Basta, como bastou, convencer alguns incautos de que eles têm o “direito” à moradia (como, aliás, já tive oportunidade de ouvir em entrevistas com esses pobres coitados). Assim mesmo, o direito, que passa por cima de todos os outros direitos.
A dinâmica, portanto, é esta: invade-se e, com governantes as mais das vezes covardes ou coniventes, obtém-se aquele terreno, que é distribuído aos que mais participam das manifestações ligadas ao movimento. Assim, temos um ganha-ganha: o movimento obtém uma massa de manobra para suas manifestações, e os manifestantes obtém moradia. Claro, quem perde é a sociedade, em vários sentidos: no seu direito de propriedade, no seu direito de ir e vir.
Ultimamente, a tática atingiu requintes de crueldade: com o programa Minha Casa Minha Vida – Entidades, os manifestantes não precisam mais invadir terrenos. Nã-nã-não. Agora, o governo patrocina a baderna. E os manifestantes furam a fila do MCMV. Sim, porque os imóveis do MCMV-Entidades poderiam ser distribuídos para pessoas igualmente necessitadas, mas que simplesmente não participam de manifestações. O critério para receber uma casa passa a ser “fazer parte da revolução”, sem precisar esperar em uma fila. Afinal, fazer fila é coisa de trabalhador que não tem tempo para fazer a revolução.
O problema da moradia é muito grave no Brasil. Assim como o problema da saúde, da educação, da segurança, e uma longa lista de etcéteras. A única solução permanente para todos esses problemas é o aumento da renda per capita do país, que só se alcança com aumento da produtividade do capital e do trabalho. Enquanto pessoas forem capazes de fazer apenas serviços básicos por falta de formação, o seu destino é não ter acesso aos bens reservados àqueles que são mais produtivos. Não há milagre. Qualquer outra solução é simplesmente não sustentável. Todos os países que tentaram um atalho se deram mal. Muito mal. O último e trágico exemplo é a Venezuela.
Assim, por mais que corte o coração a situação dessas pessoas, não é desrespeitando o Estado de Direito que se vai resolver o problema. Aliás, pelo contrário: em um país onde a lei não vale para todos, os mais prejudicados são sempre os mais pobres.