Tenho ouvido ultimamente, com frequência crescente, a palavra “torcer”, em referência ao próximo governo. Alguns, como o autor de um artigo publicado hoje, afirmam que torcerão pelo sucesso do novo governo, pois o seu fracasso poderia fazer ressurgir o “inominável”.
Outros, inconformados com a derrota eleitoral, afirmam que sua torcida é pelo fracasso retumbante, para que sirva de lição aos que não votaram “corretamente” e, assim, possamos, na próxima eleição, nos livrar da peste que assumirá o governo.
Fiquei pensando nessa palavra, “torcer”. Torcida é uma espécie de “pensamento positivo”, em que mentalizamos o resultado desejado. Eu sei que os mais esotéricos não concordarão com isso, mas a influência da torcida na realidade das coisas é zero. Nenhum átomo mudará de lugar, por mais que eu mentalize.
Existe uma torcida que funciona, ainda que de maneira limitada: aquela que comparece ao estádio para empurrar o seu time com seus gritos de guerra. Neste caso, a torcida chega aos ouvidos dos jogadores, animando-os. Obviamente, a torcida no sofá de casa tem influência zero.
Sendo assim, para que serve a “torcida”? Na final da Copa, a pergunta mais comum era para qual time eu iria torcer. Obviamente, minha escolha era irrelevante para o resultado, mas o sentido da pergunta era “qual resultado me traria pessoalmente mais satisfação”. Esse é o sentido da palavra “torcer” em grande parte dos casos.
Torcer pelo “sucesso” ou pelo “fracasso” do governo Lula, portanto, não vai mudar uma vírgula do resultado final, mas trará satisfação pessoal ao torcedor, a depender do resultado. Aliás, as próprias palavras “sucesso” ou “fracasso” são muito preto no branco, em um mundo dominado pelo cinza das narrativas. Quem determinará o sucesso ou fracasso do governo Lula, a não ser os próprios torcedores? Haverá resultados para todos os gostos, como é da natureza. E todos, no final, encontrarão razões para se dizerem “satisfeitos” com o resultado.
De minha parte, torço para que tenhamos todos um Natal cheio de Paz e Luz, que ilumine as nossas cabecinhas limitadas e dissolva as nossas certezas que nos separam dos nossos irmãos, os homens. Que o Natal nos lembre que sempre podemos fazer algo mais do que simplesmente torcer pela Paz. Essa é a minha torcida.