Cansei de tentar explicar para amigos corinthianos, entusiasmados com a ideia de, finalmente, ter um estádio próprio, que aquilo estava sendo construído com o dinheiro deles. Não!, diziam, não tem um tostão público, vai ser tudo pago pelo clube, com o faturamento adicional proporcionado pelo estádio.
Bem, o estádio foi pago pela Odebrecht e pelo BNDES, em empréstimo operado pela Caixa. Os dois viram apenas uma fração do dinheiro de volta até o momento.
A Odebrecht seria paga com CIDs, certificados emitidos pela prefeitura que dão direito a isenção fiscal no município. A empresa poderia negociar esses CIDs no mercado para reembolsar-se. Para a Odebrecht, obviamente, tratava-se de uma enrascada, pois a empresa trabalha com dinheiro, não com CIDs. Mas negar um pedido pessoal do “amigo do meu pai” não pegava bem. Além disso, havia muitas outras frentes de negócios com o Estado brasileiro onde a empresa poderia se “ressarcir”. Não sei onde foi parar essa história dos CIDs, mas o fato é que a Odebrecht está cobrando a fatura do clube. Há exato um mês, o inefável Andrés Sanchez veio a público afirmar que haviam chegado a um acordo com a empresa, faltava só assinar o contrato. Acho que estão esperando o Bessias chegar com o papel.
Agora, a Caixa resolveu partir pras vias de fato, provavelmente porque a nova diretoria do banco, calejada no mercado financeiro, deve ter percebido que a diretoria do clube é uma versão menos séria do personagem Rolando Léro.
No final disso tudo, seja por meio de CIDs, seja por meio de corrupção em outros contratos, seja por meio do calote pura e simples, o estádio do Corinthians foi feito com o meu, o seu, o nosso. Os partidos de esquerda fãs de uma “auditoria da dívida” podem contabilizar mais essa.