Dentes de ouro

Minha mãe acabou de fazer um orçamento para o implante de 10 dentes: R$ 30 mil. Ela vai fazer mais dois orçamentos, porque achou o preço “um absurdo”.

R$ 157 mil por uma cirurgia para eliminar bruxismo e fazer outros retoques na lataria, só se o cara for o Picasso da odontologia. Um Picasso perdido nos subúrbios do Distrito Federal, onde ocorreu a cirurgia.

Bruxismo é um problema que afeta milhões de brasileiros. A imensa maioria se vira com uma placa durante o sono.

O plano de saúde da empresa onde trabalho é top. Reembolsa grande parte das minhas despesas dentárias. Obviamente, quando se trata de despesas mais altas, o reembolso é apenas parcial. Nunca, nem nos meus maiores delírios, o reembolso seria total para uma despesa de R$ 157 mil.

Enfim, fico feliz que meus impostos tenham sido usados para pagar o novo sorriso do deputado. Não deixa de ser uma homenagem aos desdentados do Brasil-sil-sil.

Pobre Japão

O Japão é um país pobre, com muitos problemas sociais. Por isso, se preocupam em economizar cada centavo na construção de instalações para as Olimpíadas, atentos ao que chamam de questão do “elefante branco”.

O Japão não é como o Brasil, um país rico, onde os problemas sociais são marginais. Aqui, pudemos gastar muito dinheiro público na construção de estádios padrão FIFA em Manaus, Maceió e Brasília, onde o futebol é inexistente, ou na Vila Olímpica do Rio, sub-utilizado e com problemas graves de manutenção.

Um dia, quem sabe, o Brasil será tão pobre como o Japão, e terá que usar os recursos públicos com mais responsabilidade.

Não há solução

Falamos hoje do BRT carioca, objeto de matéria no Estadão. Coincidentemente, O Globo publicou matéria sobre o teleférico do Alemão (leia aqui), obra que custou R$ 253 milhões de recursos do finado PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e está parado há 3 anos, por falta de condições de manutenção. Os cabos são importados, e não há recursos para troca-los, como seria necessário.

O teleférico do Alemão é exemplo acabado da doença primeva da administração pública brasileira: somos craques em inaugurar, mas pernas de pau em manter. Quando os políticos têm um dinheiro sobrando, vão correndo inaugurar alguma coisa nova. Como aquilo vai ser mantido ao longo do tempo, é problema que será resolvido pelo próximo político. As emendas parlamentares, em grande parte, são isso: verbas para construir e inaugurar coisas.

Isso vale também para a contratação de pessoas e aumento de salários: quando sobra dinheiro, é um festival de contratações e aumentos salariais para o funcionalismo; no tempo das vacas magras, falta dinheiro para pagar os salários. E assim vamos.

Tem solução? Sim: basta que os políticos deixem de ser populistas, e somente invistam em obras se houver recursos no orçamento para mantê-las ao longo do tempo.

Pensando bem, não há solução.

Tragédia brasileira

Esse caso do BRT carioca talvez seja o resumo mais bem acabado, paradigmático até, do desperdício de recursos públicos no Brasil. Uma ode à incompetência associada ao populismo.

Foram investidos quase R$ 1 bilhão na construção do BRT Transoeste, parte dos esforços para melhorar a logística da futura sede dos Jogos Olímpicos. Quase R$ 1 bilhão que hoje estão incorporados à dívida pública brasileira (alô pessoal da auditoria da dívida pública, vai tomando nota).

A obra foi inaugurada com pompa e festa pelo então prefeito do Rio, Eduardo Pães, pelo então governador do RJ, Sérgio Cabral e pelo então ex-presidente da República, Lula.

Em janeiro deste ano, menos de 7 anos após a inauguração, a prefeitura do Rio decretou intervenção na concessão do BRT, em função dos péssimos serviços prestados. Mas vamos aos detalhes:

– As vias foram em grande parte construídas com asfalto de péssima qualidade, que não aguentaram o peso dos ônibus articulados que circulam pelo BRT. Vários quilômetros dessas vias precisariam ser totalmente reconstruídas.
– As vias de péssima qualidade fazem com que os custos de manutenção dos ônibus sejam muito maiores do que o previsto.
– A concessionária estima em 74 mil/dia o número de evasões, ou seja, pessoas que usam o sistema sem pagar. Para quem não conhece, o pagamento se dá nas estações, mas é facilmente burlável.
– Estações construídas no estilo “Brasil Grande” estão depredadas e servem de abrigo para moradores de rua e camelódromos. São 22 estações fechadas, quase 20% do total.

A concessionária afirma que já vinha alertando o poder concedente sobre os problemas do asfalto e da falta de segurança, mas nada havia sido feito. A intervenção, pelo visto, serviu como uma resposta política, mas, a julgar pela reportagem de hoje, pouca coisa mudou, na prática, para o usuário.

R$ 1 bilhão, inauguração com festa, materiais de terceira, usuários que não pagam. Não consigo pensar em melhor tradução da tragédia brasileira.

Assim é se assim lhe parece

O Estadão traz hoje algumas tristes histórias de alunos cujas bolsas de estudos para o exterior foram cortadas. Fora o fechamento de bandejões e linhas de ônibus internas nos campi. Muito triste.

O governo federal contingenciou um total de 3,4% das verbas das universidades públicas. Discutir remanejamento dos outros 96,6% dos recursos para essas momentosas necessidades não está na pauta. Afinal, trata-se de “verbas obrigatórias”, o que inclui a aposentadoria precoce de milhares de professores. Pelo contrário, grande parte desses alunos foi contra a reforma da Previdência, que poderia liberar, no futuro, verbas para essas outras necessidades que foram agora cortadas.

Ok, vamos criminalizar os 3,4% e deixar os 96,6% de lado, como se fosse um fato da vida. Assim é se assim lhe parece.

Vendendo o almoço para pagar a janta

A proposta do nobre deputado é equivalente a sugerir que uma família que vive acima de suas posses venda os seus imóveis para pagar a conta do supermercado. Você até sobrevive, mas daqui a poucos anos o problema reaparecerá ainda pior.

Não há atalhos para as famílias, empresas ou países que gastam mais do que ganham.

Ex-presidenta

R$ 52,6 mil por mês. Esse foi o gasto de Dilma Roussef em sua função de “ex-presidente da República”. O que faz um “ex-presidente da República”, além de encher o saco nas redes sociais e falar mal do Brasil no exterior? Precisa inventar bastante coisa pra gastar mais de R$ 50 mil por mês. Ah, ok, houve as despesas com a campanha eleitoral, em que a ex concluiu a façanha de chegar em 4o lugar na disputa pelo Senado.

Lula só não está em segundo lugar na lista porque foi preso em abril. Portanto, Lula gastou algo como R$ 40 mil/mês.

Entende-se agora o que significa um Estado grande e forte na cabeça dos petistas.

Quebrado em qualquer moeda

A saída clássica de qualquer governo quebrado é criar a sua própria moeda. A Venezuela nos deu o último exemplo ao criar o Petro, criptomoeda lastreada nas reservas de petróleo do país. A Venezuela continua quebrada, agora também em Petros.

Era assim no Brasil quando os entes federativos podiam lançar títulos de dívida próprios, alavancando o seu potencial de gastar como se não houvesse amanhã. O governo FHC acabou com a farra, monopolizando o poder de emitir dívida nas mãos do governo Federal. Assim, somente a União pode emitir moeda ou quasi-moeda.

Crivella quer usar o bitcoin como moeda para as transações da prefeitura. Precisa avisa-lo que, se o governo continuar gastando mais do que arrecadando, vai quebrar em qualquer moeda, seja em reais ou bitcoins.

Perderam o senso de proporção

Eleições são boas porque, pelo menos de 4 em 4 anos, ficamos sabendo quanto custa a máquina pública.

Por exemplo, você sabia que os contribuintes gastamos R$430 mil por mês só para pagar água, luz, manutenção das piscinas e alimentação das emas do Palácio do Alvorada?

430 mil POR MÊS!!!

Vamos lembrar que o Museu Nacional estava condenado a sobreviver com uma verba de R$500 mil/A-N-O.

Uma unidade residencial de classe média alta vai pagar, chutando alto, uns mil reais/mês de utilities (água, etc). Contrate jardineiro e piscineiro, vai gastar quanto mais? 10 mil, chutando bem alto? Sobram as emas. Haja ema!

O problema, claro, está na folha de pagamento. Quanto você acha que ganham o cozinheiro, o piscineiro, o jardineiro, o mordomo, os faxineiros, etc e etc, todos concursados?

R$ 20 milhões/ano para manter o presidente confortável em sua casa. Esse pessoal perdeu o senso de proporção.

“De menor” caro

A informação abaixo é do atual governador de São Paulo, e candidato à reeleição, Márcio França.

O que ele está dizendo é o seguinte: cada interno da ex-Febem custa aos cofres públicos R$ 138 mil/ano. Isso equivale a aproximadamente US$ 33 mil/ano. Esta é a renda per capita do Japão.

Mas não precisa ir longe. Qualquer pai de classe média alta precisa fazer muito esforço para gastar isso com um filho. Um bom colégio custa R$4 mil/mês ou R$48 mil/ano. Coloque aí atividades extracurriculares, viagens pra Disney, etc, ainda se ficará longe deste valor.

Não sei se fico mais preocupado com o fato do governador do Estado provavelmente ter errado um número que divulga para a imprensa, ou se com a possibilidade desse número estar correto.