Alguns dias atrás, Osmar Terra afirmou que haveria menos mortes no Brasil de Coronavírus do que de pessoas que morreriam no Rio Grande do Sul de gripe sazonal (950, segundo ele). Bem, não tenho a fonte que ele usou para esse número, se foi no ano passado ou é uma média de vários anos. O fato é que estamos ainda longe do pico, e o número de mortes já ultrapassou 1.000 no país.
Mas isso tudo (a previsão do deputado e o fato dessa previsão já estar velha) é irrelevante. O problema é conceitual.
Como o próprio deputado diz, os casos e mortes de gripe são sazonais. Ou seja, acontece todo ano, com um pouco mais ou um pouco menos de virulência. Por isso, o sistema de saúde já está preparado e dimensionado para isso. E, não menos importante, há vacina para gripe sazonal. Ou seja, o número de casos e mortes é bem menor do que seria sem a vacina.
O coronavírus, por outro lado, é algo novo. Portanto, não é sazonal, e o sistema de saúde não está devidamente preparado. Às doenças normais, se ADICIONAM os casos de coronavírus. E o pior, não há vacina, a coisa pega a população sem nenhuma proteção.
Pode ser até que o deputado esteja certo, e haja menos casos e mortes de coronavírus do que as provocadas pela gripe sazonal. Mas não é este o ponto. A questão é que, em um balde cheio de água, um copo a mais o fará transbordar. E, com o sistema de saúde transbordando, haverá não somente mais mortes por coronavírus, mas também por outras doenças ou acidentes que não poderão ser tratados adequadamente. Mais uma vez: os casos de coronavírus serão ADICIONADOS às outras doenças que já abarrotam o nosso sistema hospitalar. O problema não é o número em si de casos e mortes, o problema é adiciona-los ao sistema.
Causa-me espécie que um suposto especialista em saúde pública cometa um erro tão básico. A não ser que não seja um erro.