Um governo vintage

E temos um novo PAC na praça. Nenhuma surpresa. Em seu governo vintage, Lula continua montando o seu antiquário com peças trazidas de um passado glorioso, como se a repetição de nomes tivesse o condão de trazer o passado de volta.

Há uma grande diferença entre o PAC original e a peça que foi trazida ontem, com pompa e circunstância, para o Museu Lula: os bolsos profundos do Estado brasileiro, via Petrobras e BNDES, já não existem mais. O PAC original funcionou por um tempo porque a Petro investiu como se não houvesse amanhã em projetos pra lá de duvidosos, e o BNDES emprestou centenas de bilhões de reais a juros subsidiados. Hoje, a Petrobras está muito mais limitada em seus planos de investimento, enquanto a capacidade de subsidiar juros por parte do Estado é praticamente inexistente.

Lula, em seu discurso de inauguração da nova peça no seu museu, afirmou que os empresários não têm medo de um Estado empresário. Verdade, para aqueles que conseguem uma linha subsidiada no BNDES ou se tornam fornecedores da Petrobras. Para os restantes, resta pagar juros mais altos, que é o resultado inexorável de todo esse processo.

Mas, fiquemos tranquilos: o novo PAC não passa de uma peça de museu inofensiva. Todos os investimentos listados já seriam realizados se não houvesse a marca PAC, como a prospecção da Petrobras na margem equatorial, o túnel Santos-Guarujá e a compra de ônibus escolares, todos investimentos citados na matéria. O PAC serve, como disse no início, para dar aquela impressão de que os “good old days” voltaram. É só mais uma iniciativa simbólica do governo vintage.

Uma aula de crony capitalism

São raros, raríssimos mesmo, os empresários que se reúnem com políticos e pedem coisas como Reforma Adminstrativa ou Reforma Tributária. A agenda, via de regra, versa sobre “incentivos à indústria”, ou “incentivos à atividade econômica”.

Lula entende bem essa agenda. Foi no seu governo que se iniciou a maior operação de injeção de recursos públicos (via BNDES) para o “estímulo ao investimento”, alcunhada de PAC – Plano de Aceleração do Crescimento. Foi debaixo do guarda-chuva do PAC que se abrigaram obras como as refinarias inacabadas da Petrobras, o metrô de Caracas e o Itaquerão. Claro, houve obras meritórias também, mas era tanto dinheiro (quase meio trilhao de reais em dinheiro de 10 anos atrás), que era não mais que óbvio que sobraria dinheiro para todo mundo, inclusive para empresas que não precisavam, mas aproveitaram a boquinha para diminuir seu custo de capital.

Essa política do BNDES foi esteroide em corpo de tísico, deu uma bombada inicial na economia para depois voltar ao normal. Quer dizer, abaixo do normal, pois como o dinheiro acabou, o desmame custou caro para vários setores da economia. Por isso essa espécie de nostalgia, quase um banzo, por parte dos empresários brasileiros. Lula promete retomar a mesma política. Afinal, “investimento não é gasto”. Só faltou parafrasear a sua protegida com um “investimento é vida”.

Se alguém quer entender a definição de “crony capitalism”, ou “capitalismo de laços”, basta ler a notinha acima. Vale mais do que uma aula sobre o assunto.

PS: na minha série sobre a economia brasileira na era PT, dedico um episódio ao crescimento econômico turbinado pelo BNDES. Link nos comentários.