Viabilizar uma candidatura presidencial não é tarefa trivial. A começar, e talvez principalmente, pela necessidade de assegurar uma legenda.
Joaquim Barbosa é um nome vistoso. Símbolo de combate à corrupção, negro, fora dos quadros da política tradicional. As notícias que chegam, no entanto, é que há mais resistência do que apoio ao seu nome dentro do PSB.
Bolsonaro é líder nas pesquisas de intenção de voto, agora que Lula está fora. No entanto, o pequeno PEN não o quis e, ao que tudo indica, o candidato em busca de um partido está a caminho do também minúsculo PSL, não sem antes ter provocado debandada de parte do partido.
Marina Silva, dona de mais de 20 milhões de votos, teve que fundar seu próprio partido, pois não conseguiu dominar a máquina do PV. E seu partido, hoje, em termos eleitorais, é inexpressivo.
Por que isso acontece? Simples: eleição nacional é tarefa gigantesca, que somente pode ser enfrentada com uma grande equipe com interesses convergentes. O sistema político nas democracias ocidentais é baseado em partidos e somente quem tem o apoio de uma máquina partidária consegue enfrentar a tarefa de tentar eleger-se.
Ocorre que os partidos têm chefes regionais, com interesses muitas vezes domésticos. O candidato nacional deve ser capaz de harmonizar esses interesses, caso contrário não obterá a legenda.
Ainda que seja possível, como aconteceu com Collor e seu pequeno PRN em 1989, é muito difícil começar a sonhar com o Planalto sem uma máquina partidária robusta. E, mesmo depois, é difícil se segurar no governo sem o apoio dos partidos.
Por isso, não é desprezível a vantagem que tem um Alckmin, um Ciro Gomes ou que teria um Lula, por contarem com máquinas partidárias nacionais. Rodrigo Maia e Meirelles, respectivamente pelo DEM e pelo PSD, seriam viáveis se conseguissem convencer seus partidos a apoiarem suas candidaturas. Mas conseguir a legenda, como disse acima, não é trivial.
Por isso, mais uma vez, a noiva da vez é o PMDB. Sem candidato natural (acho improvável que Temer coloque sua candidatura), é a maior máquina partidária do Brasil em busca de um candidato. São vários PMDBs, claro, é um saco de gatos. Mas contar com uma parcela que seja dessa máquina já fortalece qualquer candidatura.
Ah, mas o povo está desiludido com a classe política, não vai votar com base em partido. Ao que eu respondo: essa desilusão é global, não é só no Brasil. E o mundo continua elegendo candidatos ligados aos grandes partidos. Se Trump tivesse se lançado como independente, teríamos outro presidente nos EUA hoje. Macron liderou a formação de um grande partido, que dominou o Congresso, coisa que Bolsonaro, Marina, Joaquim Barbosa ou Luciano Huck estão muito distantes de fazer. Macri fez a mesma coisa na Argentina, em um trabalho que começou no distante 2003.
No final do dia, uma eleição nacional com mais de 100 milhões de eleitores é ganha pelo esforço de milhões de cabos eleitorais. Trata-se de um trabalho no varejo, que exige capilaridade, como sabe qualquer empresa de bens de consumo. E, para isso, a máquina partidária é um grande ponto de partida.