O caminho de volta do politicamente correto

Três textos publicados no Estadão de ontem e hoje estão intimamente relacionados, e demonstram como os americanos já estão voltando pelo caminho que nós aqui ainda estamos percorrendo.

O primeiro é do colunista Fareed Zakaria, publicado ontem, conclamando os democratas a prestarem mais atenção a pautas que realmente fazem a diferença na vida das pessoas e a deixarem de lado os “pronomes neutros”, a imigração ilegal, a demonização da polícia e outras pautas que interessam a minorias minúsculas e irritam uma parcela significativa da população que, de outra forma, estaria disposta a votar nos democratas.

O segundo texto é da Economist, traduzido hoje no Estadão, defendendo exatamente a mesma ideia.

O terceiro texto é de Luiz Sérgio Henriques, acusando a “extrema-direita” brasileira de atacar “valores seculares da modernidade”. Sob esse rótulo, sabemos que se abrigam exatamente as mesmas ideias que Zakaria e a Economist estão agora conclamando os liberais americanos a colocarem em segundo plano para terem alguma chance eleitoral.

Aqui no Brasil, a sorte de nossa esquerda é ter um Lula, e não um Biden, liderando a agenda. Lula pode ser tudo, menos politicamente correto. Isso que Zakaria e a Economist estão defendendo, Lula sabe de velho. Se fosse depender de intelectuais como Luís Sérgio Henriques, Bolsonaro não teria com que se preocupar, venceria todas as eleições com os pés nas costas.

Os verdadeiros direitos humanos

Esta é uma entrevista de hoje dada pelo diplomata José Augusto Lindgren-Alves, autor do livro “É preciso salvar os direitos humanos!”, recém lançado.

A tese do diplomata, resumida no trecho destacado abaixo, é de que a agenda dos direitos humanos foi sequestrada pela defesa identitária, conspurcando o próprio termo “direitos humanos” e tirando o seu foco. Por isso, seria preciso salvar o espírito dos Direitos Humanos, na melhor linha das democracias ocidentais.

Ainda que o conceito “direitos iguais para os diferentes” careça de uma definição do que “nos faz iguais” enquanto seres humanos, este diagnóstico da radicalização identitária vem em boa hora para aqueles que querem defender os verdadeiros direitos humanos.

Uma outra explicação

24% de queda na audiência do Grammy.

Em 16 parágrafos, a reportagem do Wall Street Journal dedica apenas um a uma tentativa de explicação: os artistas teriam seus “canais próprios”, o que poderia estar roubando a audiência da TV. 24% de queda em um ano? Really? Inventaram os “canais alternativos” este ano?

Não consigo provar, mas minha hipótese é simples: as pessoas querem diversão no Grammy, não ficar discutindo cotas de mulheres e negros e casos de assédio sexual, além de servir de palanque para atacar Trump. São assuntos importantes, sem dúvida, mas as pessoas querem relaxar de vez em quando. E o aparelhamento do Grammy (e do Oscar, que, aposto, terá a mesma queda de público) azeda a diversão para pelo menos 24% do público.

A reportagem do WSJ gasta os outros 15 parágrafos da reportagem com esses temas. O que só reforça minha intuição.