Tudo está no seu lugar, graças a Deus

Democracia Inabalada.

Este é o mote das celebrações que terão lugar amanhã em Brasília. Achei bastante adequado.

A nossa democracia seguiu inabalada quando nada aconteceu ao partido que pagava mensalidade para os deputados votarem as pautas do governo, além de pagar fornecedores com dinheiro de offshore.

A nossa democracia seguiu inabalada quando todos os responsáveis pelo maior caso de corrupção do Brasil foram soltos, enquanto o juiz do caso é o único que corre o risco de ser preso.

A nossa democracia seguiu inabalada quando os direitos políticos de um presidente foram mantidos, mesmo depois de impichado.

A nossa democracia seguiu inabalada quando o nosso Supremo instaurou um inquérito sem fim, em que é, ao mesmo tempo, vítima, acusador e juiz, para manter a nossa democracia inabalada sem os inconvenientes limites da lei.

A nossa democracia seguiu inabalada quando ministro do Supremo e presidente recém diplomado foram a festa patrocinada por advogado com causas gordas em Brasília.

A nossa democracia seguiu inabalada quando o nosso Supremo reviu a jurisprudência da prisão após condenação em 2a instância, alegou problemas de CEP que nenhuma outra instância viu e acusou suspeição do juiz com base em provas obtidas ilegalmente, tudo isso para libertar o homem, a lenda, o mito, que iria deixar nossa democracia ainda mais inabalada.

Sim, amanhã é dia de comemorar a Democracia Inabalada. Mas penso que a resistência ao quebra-quebra dos zé manés em 08/01 empalidece quando comparada aos outros atos de resistência citados acima, que foram muito mais importantes para manter em pé as Instituições do Estado Democrático de Direito brasileiro, e que deveriam ser igualmente lembrados.

Para encerrar, um sambinha de Benito Di Paula para alegrar o seu domingo:

🎶Tudo está no seu lugar

Graças a Deus, graças a Deus

Não devemos esquecer de dizer

Graças a Deus, graças a Deus 🎶

Não há termos de comparação

Há um certo afã em se colocar Lula e Bolsonaro como igualmente prejudiciais ao Brasil em todos os campos possíveis, ainda que de formas diferentes. No campo econômico, isso é verdade em alguns campos, como o da disciplina fiscal ou o da proteção a corporações do serviço público, mas não o é, de maneira alguma, em outras. É o caso da Petrobras, foco do editorial do Estadão de hoje.

Segundo o editorial, ambos os políticos querem “prejudicar a companhia em nome de seus projetos pessoais de poder”.

Na superfície, parece isso mesmo: Lula usou a empresa como um puxadinho do governo, ao passo que Bolsonaro troca de presidente como quem troca de cueca, ao sabor de suas conveniências políticas.

Mas isso é só na superfície. Se analisarmos mais a fundo, veremos diferenças fundamentais de visões de mundo. O próprio editorial lembra que a Petrobras gerou R$ 120 bilhões de prejuízo durante os governos do PT para fazer política monetária e política industrial do governo. A roubalheira, no valor de R$ 6 bilhões, foi somente a cereja do bolo. Por outro lado, Bolsonaro indicou dois presidentes para a estatal que respeitaram a sua dinâmica empresarial, e havia indicado um terceiro na mesma linha. A troca de presidentes, portanto, não foi pela política de preços ou pela desmobilização que a empresa vem adotando desde o governo Temer. Foi simplesmente para jogar o boi de piranha no rio.

Alguns dirão que a Petrobras só está praticando preços de mercado porque é obrigada a tanto por uma lei aprovada no governo Temer. Justo. Mas também é verdade que Bolsonaro não se movimentou para alterar a lei, como Lula já prometeu que o fará se eleito, em seu projeto de fazer a Petrobras great again.

É óbvio que o troca-troca de presidentes é prejudicial à companhia. Mas não há termo de comparação entre um político atrapalhado, que vê a Petrobras como um estorvo ao seu projeto de poder, e outro que fez da empresa o pivô de seus projetos megalomaníacos de poder. Neste caso, os efeitos perversos dessas duas visões de mundo para os acionistas minoritários e para o próprio Tesouro são completamente diferentes.

Empenho nas reformas

Tenho ouvido muita gente que duvida da capacidade ou da convicção de Lula tocar para frente as reformas de que o país tanto necessita.

Acho injusto. Basta ver o empenho que ele colocou nas reformas do triplex e do sítio. Não economizou esforços! Acredite, o país estará em boas mãos.

A fortuna dos defensores dos pobres

Sergio Cabral vai devolver R$ 380 milhões aos cofres públicos.

R$ 380 milhões!!!

E convenhamos, Sergio Cabral é um cardeal, mas está longe de ser o papa. Se ele roubou esse tanto na física, quanto foi roubado pelo esquema todo, inclusive para fazer campanha eleitoral?

Lembro de uma reunião que tive com um analista político antes das eleições de 2014. Ele tinha mantido reuniões nos comitês do PT e do PSDB. A primeira observação dele foi que o PSDB não tinha a mínima chance: o comitê de PT era tão mais rico, tão mais bem estruturado, que ele tinha pena de qualquer adversário.

Eu sei que, a essa altura do campeonato, eu não deveria mais me espantar com esses valores. Mas é que não consigo deixar de pensar que esse pessoal ainda está por aí, defendendo os pobres.