A popularidade de Lula

Aproveitei a pesquisa do IPEC para atualizar o gráfico de popularidade do presidente com as outras pesquisas que foram publicadas nos últimos meses. De maneira geral, a popularidade líquida de Lula saiu do patamar de 15 positivos no 1o trimestre para algo um pouco abaixo de 10 agora no 2o trimestre. O IPEC está dando +9, a Paraná deu +7 no mês passado, então deve estar por aí.

Há análises para todos os gostos para esse número. Podemos, por exemplo, dizer que Lula está em uma posição bem abaixo da média dos seus primeiros dois mandatos, em que valores abaixo de +10 ocorreram apenas durante 6 meses em seus 8 anos na presidência. Por outro lado, também podemos dizer que Lula está muito acima da média de Bolsonaro, que ficou acima de +10 apenas durante o 1o trimestre de seu mandato. Por fim, podemos dizer que Lula tem hoje mais ou menos a mesma popularidade que Bolsonaro tinha no 2o trimestre do seu mandato.

O que esperar daqui para frente? Do ponto de vista da atividade econômica, a economia está desacelerando menos do que o previsto pelo mercado, e daqui a pouco o BC começa a cortar os juros, o que pode dar um alento. Então, do ponto de vista da economia, parece que as coisas, de modo geral, não vão piorar muito no curto prazo (próximos 12 meses). Já do ponto de vista de, digamos, “iniciativas asininas”, Lula já provou que está pronto para nos surpreender. Juntando essas duas partes, acho mais provável uma acomodação da popularidade nesse atual patamar, pelo menos por enquanto. Aliás, diga-se de passagem, patamar arriscado para o incumbente que vai tentar a reeleição. Mas estamos muito longe de 2026 ainda.

A pesquisa Genial/Quaest de popularidade do governo Lula

Mais uma pesquisa de popularidade do governo Lula, desta vez da Quaest, patrocinada pela corretora Genial. A avaliação positiva soma 36%, contra 29% de avaliação negativa. A comparação relevante é a pesquisa da própria Quaest de fevereiro, quando a avaliação positiva estava em 40%, contra 20% de avaliação negativa. Houve, portanto, uma queda da popularidade líquida de 20 para 7 pontos percentuais em dois meses. Esta pesquisa está em linha com a última da Datafolha, de março, que mostrou uma popularidade líquida de 9 pontos percentuais.

Estava assistindo a um debate sobre as potenciais causas dessa popularidade baixa, e um dos fatores seria a polarização que tomou conta do país. O problema dessa explicação é que não parece que a polarização tenha aumentado de maneira significativa nos últimos 2 meses. Portanto, não poderia explicar esse movimento de queda. Mais provável que tenha a ver com as lambanças do próprio governo, que vendeu muita expectativa e, como sói acontecer, está batendo na realidade. O caso da taxação dos sites chineses foi emblemático nesse sentido.

Para onde vai a popularidade do governo? Se eu fosse apostar, diria que deve cair mais um pouco no curto prazo, pois a economia vai desacelerar e o desemprego vai subir. Se fizer tudo certo, o governo vai colher inflação mais baixa e recuperação econômica lá na frente, ajudando a recuperar popularidade. Mas essa é uma aposta incerta.

Popularidade de Lula em queda

O Globo repercute pesquisa IPEC de popularidade de Lula. A manchete compara com o início do mandato de Bolsonaro e com o início dos mandatos anteriores do próprio Lula. A única coisa que não faz é comparar com o número anterior do próprio Lula, de janeiro. E essa é a única comparação que importa.

Em janeiro, o próprio IPEC divulgou pesquisa em que dava 55% de ótimo/bom e 21% de ruim/péssimo para Lula. Aprovação líquida: +34 pontos percentuais. Hoje, o mesmo instituto dá 41% de ótimo/bom e 24% de ruim/péssimo. Aprovação líquida: +17 pontos percentuais, queda de 17 pontos percentuais em dois meses.

É normal que haja queda de aprovação no início do governo. Uma coisa são as expectativas, outra bem diferente é o dia a dia do governo. No início do governo Bolsonaro, pesquisa da XP/Ipespe indicou queda de +20 para +13 pontos percentuais entre janeiro e março de 2019. No entanto, queda de 17 pontos percentuais, como é o caso agora, parece ser acima do normal.

Vamos aguardar as próximas pesquisas de popularidade. Se indicarem quedas adicionais, vamos conhecer o que é populismo de verdade.

A popularidade inicial do governo Lula

Compilei as primeiras pesquisas de popularidade do novo governo. Até onde consegui identificar, foram três pesquisas até o momento: Atlas/Intel, PoderData e IPEC. Os resultados dos dois primeiros são muito diferentes do terceiro, o que não chega a surpreender. A Atlas indica uma popularidade líquida de +3 pontos, o PoderData de +8 e o IPEC de +24. As duas primeiras parecem fazer mais sentido, dada a ainda intensa polarização do país. Mas, para manter a coerência intertemporal da metodologia, calculei, como sempre, a média aritmética das 3 pesquisas, o que acaba por dar mais peso para as duas primeiras, que são mais próximas entre si. O resultado está no gráfico abaixo, com Lula estreando com 15 pontos de popularidade líquida.

Esse nível de popularidade inicial é a menor da série, com exceção de Temer. Bolsonaro começou com 18 pontos, que era a menor popularidade da série à época. O problema, para Lula, é que a coisa é daí para baixo. Com exceção do início do governo Dilma, todos os presidentes, inclusive Lula, tiveram quedas relevantes em sua popularidade nos primeiros meses de mandato, uma vez finda a lua-de-mel. Para piorar a coisa, o mundo tende a ser um lugar inóspito, a economia vai desacelerar, o espaço fiscal é exíguo para grandes pirotecnias.

Estamos ainda nos primeiros minutos do jogo, ainda é muito cedo para fazer prognósticos. Mas uma coisa é certa: Lula tem baixíssima margem de manobra, e ele sabe disso. Não por outro motivo, já começou a procurar bodes expiatórios para colocar a culpa.

O que esperar da popularidade inicial de Lula

Bolsonaro termina o mandato com uma popularidade líquida ligeiramente positiva (+2), segundo o Datafolha. Eu sei que tem muita desconfiança a respeito desse instituto de pesquisa, mas é o que tem a série mais longa, e serve bem para fazermos comparações intertemporais (ao longo do tempo), considerando que o viés, se houver, se mantém ao longo do tempo.

Considerando o histórico, a popularidade líquida de Bolsonaro no final de seu mandato é pior do que foi a de Itamar, FHC I, Lula I e II e Dilma I, mas é melhor do que foi a de Sarney, Collor, FHC II, Dilma II e Temer. Bolsonaro está ali na meiuca, não foi brilhante, nem tampouco um desastre, segundo a média das opiniões dos brasileiros.

Mas algo que eu gostaria de chamar a atenção não está neste gráfico. Segundo o mesmo Datafolha, em pesquisa divulgada no último dia primeiro, 49% dos brasileiros dizem esperar que Lula faça um governo ótimo ou bom, ao passo que 26% acham que o presidente fará um governo ruim ou péssimo.

Se esses mesmos percentuais se repetirem na primeira pesquisa de popularidade do novo governo, teríamos uma popularidade líquida de +23 pontos. Este é mais ou menos o mesmo nível de popularidade líquida que Bolsonaro tinha quando iniciou seu governo, e bem menor do que Lula I (+39) e Dilma I (+46). Claro, teremos que ver como sairão as primeiras pesquisas, que devem aparecer em 3 ou 4 meses, mas, aparentemente, o nível de boa vontade da população com Lula, hoje, é bem menor do que foi no passado.

Notícias nada boas para Bolsonaro

Atualizei este gráfico com as pesquisas dos últimos 3 meses, média da Datafolha, Ipec, CNT/MDA e Ipespe. Para quem está chegando agora, trata-se da popularidade líquida dos presidentes: ótimo/bom menos ruim/péssimo.

No início dos anos eleitorais, tínhamos as seguintes popularidades líquidas:

  • 1989: -44 (Sarney)
  • 1994: -28 (Itamar)
  • 1998: +26 (FHC)
  • 2002: -9 (FHC)
  • 2006: +13 (Lula)
  • 2010: +68 (Lula)
  • 2014: +9 (Dilma)
  • 2018: -64 (Temer)
  • 2022: -32 (Bolsonaro)

As notícias não são nada boas para Bolsonaro. A única vez em que um presidente fez seu sucessor com tamanha impopularidade no início do ano eleitoral (Itamar Franco em 1994), houve nada menos que um Plano Real no meio do caminho. Em todas as outras eleições, o sucessor foi feito com o mandatário no campo ao menos positivo de popularidade: FHC em 1998 (+26), Lula em 2006 (+13), Lula em 2010 (+68) e Dilma em 2014 (+9). Em 2002, FHC (-9) não conseguiu fazer seu sucessor, assim como, obviamente, Sarney (-44) em 1989 e Michel Temer (-64) em 2018.

Com uma popularidade líquida de -30, estável nos últimos 5 meses, a não ser que Bolsonaro tire da cartola algo equivalente a um Plano Real, a reeleição fica realmente muito distante. Claro que toda escrita está aí para ser quebrada, mas este é o quadro frio dos números.

PS.: faço a média de 4 institutos para amenizar eventuais vieses de uma ou outra pesquisa.

Sinal amarelo

A popularidade do presidente caiu aos menores níveis de seu mandato, equivalente ao patamar que prevaleceu entre os meses de maio e julho do ano passado, coincidentemente, o período em que vimos o número de óbitos subir de maneira relevante e permanecer em patamar elevado.

O número de óbitos começou a cair a partir de agosto, o que, em conjunto com o auxílio emergencial, fez com que a popularidade se recuperasse nos meses seguintes.

Não se trata ainda de um nível desesperador para o governo, mas acende uma luz amarela. Neste nível de popularidade, dificilmente um governo se reelege ou elege seu sucessor, é o que mostra a história. A boa notícia para Bolsonaro é que as eleições estão a um ano e meio de distância e a pandemia tem data para terminar, com o avanço da vacinação.

A questão que fica é o rescaldo da crise: quanto cresceremos e qual será a velocidade de recuperação do emprego, considerando a resposta lenta da vacinação. São estes os fatores que determinarão as chances de reeleição, por mais que a resposta à crise sanitária tenha sido um desastre.

Popularidade e impeachment

Ainda sobre o tema impeachment.

Mantenho este gráfico já faz alguns anos. Ele mede o que chamo de “popularidade líquida”, ou seja, a soma de “ótimo/bom” menos a soma “ruim/péssimo”. Prefiro esta medida do que simplesmente olhar a aprovação, pois é diferente quando você tem um alto percentual de “regular” (indiferentes) ou um alto percentual de avaliações negativas. O gráfico é a média de 4 institutos: Ibope, Datafolha, a agência contratada pela CNT (hoje a MDA) e, mais recentemente, a Ipespe, contratada pela XP.

Pois bem, a regra geral é a seguinte: para o presidente ser impichado, é preciso que a popularidade líquida atinja -60 pontos. Mas atenção: é condição necessária mas não suficiente. Sarney e Temer atingiram essa pontuação, mas não foram afastados, pois tinham muita força no Congresso. Gastaram seu capital político para se manter na posição, estagnando o processo legislativo.

Vejamos o caso atual: acabou de sair fresquinha a primeira pesquisa pós lambança das vacinas, do instituto Ipespe. Mostra uma queda substancial da popularidade líquida, de +3 em dezembro para -8 agora em janeiro. No entanto, olhando em perspectiva, não está nem no pior momento do governo, que foi -15 entre maio e julho do ano passado. E, não preciso dizer, a uma distância enorme dos -60.

Claro, podemos estar fazendo a análise do cara que está caindo do 10o andar e, quando passa pelo 5o, alguém pergunta pela janela se está tudo bem, ao que o cara responde “sim, ventando um pouco, mas por enquanto tudo bem”. Esse pode ser o início de um processo que levará ao impeachment no final. Mas, por enquanto, estamos longe, muito longe ainda. E, ao que parece, o presidente está construindo a sua rede de proteção no Congresso.

A popularidade do presidente

Já mostrei esse gráfico aqui, mas tem muita gente nova acompanhando, então explico de novo: trata-se do acompanhamento das pesquisas de opinião sobre os governos ao longo do tempo, medindo a popularidade líquida, ou seja, a diferença entre avaliação positiva (ótimo/bom) e negativa (ruim/péssimo). É a média de DataFolha, Ibope, MDA (da CNT) e Ipespe (da XP).

Observamos uma queda da popularidade de Bolsonaro nas pesquisas de dezembro, voltando ao nível de agosto, após três meses consecutivos de alta. Talvez já seja efeito do início do fim do auxílio emergencial. No entanto, o nível ainda está acima do pior momento, no 2o trimestre.

Para onde vai a popularidade do presidente? A julgar pelo fim dos efeitos do auxílio emergencial, talvez tenhamos mais uma pernada de queda no curto prazo. Uma campanha de vacinação rápida poderia compensar, mas é pouco provável que aconteça. Na falta de dinheiro para patrocinar um auxílio mais robusto, a retomada da atividade econômica e do emprego será chave para o futuro da popularidade do presidente.

Popularidade e eleições

Uma característica óbvia dos presidentes que conseguem se reeleger ou conseguem eleger seu sucessor é a sua popularidade. Resolvi dar uma olhada na popularidade dos presidentes, sondada pelos institutos de pesquisa de opinião, no mês de cada eleição. O gráfico está aí abaixo (resultado da média das sondagens), medindo a diferença entre “Ótimo/bom” e “Ruim/Péssimo”.

Podemos observar que todos os que tiveram sucesso tinham popularidade no campo positivo no mês da eleição (opinião favorável maior do que opinião desfavorável). O resultado mais apertado foi o da reeleição da Dilma. Coincidência ou não, foi a presidente que chegou no mês da eleição com a pior avaliação dentre aqueles presidentes que obtiveram sucesso.

Bem, hoje Bolsonaro tem o mesmo nível de popularidade de Dilma no final do seu 1o mandato. Se a regra fosse seguida e a eleição fosse hoje, o presidente poderia se reeleger, mas sua vitória seria apertada.

No entanto, a eleição é apenas daqui a dois anos. Como se encontrava a popularidade dos presidentes dois anos antes das eleições? Seria este um indicador confiável? Também elaborei um gráfico com esta informação.

Por incrível que pareça, não muda quase nada. A popularidade sobe, desce, mas quase sempre o número de dois anos antes dá o mesmo sinal do número no mês da eleição. A única possível exceção foi o primeiro mandato de Dilma, que tinha uma grande popularidade dois anos antes das eleições, e chegou na data com popularidade bem apertada. De qualquer maneira, confirmou o sinal dado dois anos antes (Dilma se reelegeu).

Se a regra de todas as eleições desde a redemocratização for seguida, Bolsonaro se reelege em 2022. Mas faltam ainda dois longos anos.