Quem é mais populista?

O mundo caiu com a vitória de Kirchner nas primárias do fim de semana: o peso derreteu, a bolsa despencou e o risco-país foi para a Lua. Tudo isso porque Kirchner (por interposta pessoa que fará de conta que é o presidente) congelará preços, dará subsídios e aumentará salários, sem se preocupar com o equilíbrio fiscal e a inflação.

Macri, para mostrar que é o único que pode fazer frente a essa alternativa desastrosa, baixou um pacote em que congelou preços, deu subsídios e aumentou salários, sem se preocupar com o equilíbrio fiscal e a inflação.

Dessa forma, Macri acabou com as últimas incertezas em relação à Argentina: nessa competição populista, o futuro do país é absolutamente certo.

Aviso

Esse é um recado claro para os políticos da América do Sul de maneira geral e para os do Brasil em particular: o povo não consegue distinguir claramente quem os meteu no buraco, e o governo de plantão acaba levando toda a culpa.

Macri assumiu uma economia em frangalhos e, vamos ser claros, adotou uma tática gradualista demais para o caso de um doente terminal. Resultado: a inflação continua na casa dos 50% ao ano e o país voltou para a recessão. Pouco importa se foram os Kirshners que cavaram o buraco, é Macri quem leva a culpa.

Aqui no Brasil, tivemos a “sorte”, com o impeachment, de estancar a sangria antes que fosse tarde demais. O governo Temer fez o trabalho sujo nos campos monetário (taxa de juros) e fiscal (teto de gastos), estabilizando, assim, a situação da economia, ainda que em um patamar muito ruim.

O governo Bolsonaro começou bem, com a aprovação de uma boa reforma da Previdência. Resta ainda, no entanto, um longo caminho pela frente para revitalizar a atividade econômica e diminuir o desemprego. O exemplo que vem da Argentina mostra que o povo tem “saudades” de um tempo que não volta mais, e está disposto a cair no canto das sereias do populismo que desgraçou o país.

Não há solução

Falamos hoje do BRT carioca, objeto de matéria no Estadão. Coincidentemente, O Globo publicou matéria sobre o teleférico do Alemão (leia aqui), obra que custou R$ 253 milhões de recursos do finado PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e está parado há 3 anos, por falta de condições de manutenção. Os cabos são importados, e não há recursos para troca-los, como seria necessário.

O teleférico do Alemão é exemplo acabado da doença primeva da administração pública brasileira: somos craques em inaugurar, mas pernas de pau em manter. Quando os políticos têm um dinheiro sobrando, vão correndo inaugurar alguma coisa nova. Como aquilo vai ser mantido ao longo do tempo, é problema que será resolvido pelo próximo político. As emendas parlamentares, em grande parte, são isso: verbas para construir e inaugurar coisas.

Isso vale também para a contratação de pessoas e aumento de salários: quando sobra dinheiro, é um festival de contratações e aumentos salariais para o funcionalismo; no tempo das vacas magras, falta dinheiro para pagar os salários. E assim vamos.

Tem solução? Sim: basta que os políticos deixem de ser populistas, e somente invistam em obras se houver recursos no orçamento para mantê-las ao longo do tempo.

Pensando bem, não há solução.

Tragédia brasileira

Esse caso do BRT carioca talvez seja o resumo mais bem acabado, paradigmático até, do desperdício de recursos públicos no Brasil. Uma ode à incompetência associada ao populismo.

Foram investidos quase R$ 1 bilhão na construção do BRT Transoeste, parte dos esforços para melhorar a logística da futura sede dos Jogos Olímpicos. Quase R$ 1 bilhão que hoje estão incorporados à dívida pública brasileira (alô pessoal da auditoria da dívida pública, vai tomando nota).

A obra foi inaugurada com pompa e festa pelo então prefeito do Rio, Eduardo Pães, pelo então governador do RJ, Sérgio Cabral e pelo então ex-presidente da República, Lula.

Em janeiro deste ano, menos de 7 anos após a inauguração, a prefeitura do Rio decretou intervenção na concessão do BRT, em função dos péssimos serviços prestados. Mas vamos aos detalhes:

– As vias foram em grande parte construídas com asfalto de péssima qualidade, que não aguentaram o peso dos ônibus articulados que circulam pelo BRT. Vários quilômetros dessas vias precisariam ser totalmente reconstruídas.
– As vias de péssima qualidade fazem com que os custos de manutenção dos ônibus sejam muito maiores do que o previsto.
– A concessionária estima em 74 mil/dia o número de evasões, ou seja, pessoas que usam o sistema sem pagar. Para quem não conhece, o pagamento se dá nas estações, mas é facilmente burlável.
– Estações construídas no estilo “Brasil Grande” estão depredadas e servem de abrigo para moradores de rua e camelódromos. São 22 estações fechadas, quase 20% do total.

A concessionária afirma que já vinha alertando o poder concedente sobre os problemas do asfalto e da falta de segurança, mas nada havia sido feito. A intervenção, pelo visto, serviu como uma resposta política, mas, a julgar pela reportagem de hoje, pouca coisa mudou, na prática, para o usuário.

R$ 1 bilhão, inauguração com festa, materiais de terceira, usuários que não pagam. Não consigo pensar em melhor tradução da tragédia brasileira.

Quem inaugurou o populismo?

Era uma vez um país maravilhoso, uma verdadeira ilha de prosperidade, onde seus impolutos dirigentes, verdadeiros democratas, olhavam somente para as verdadeiras necessidades do povo e, por isso, tomavam decisões que beneficiavam não somente a geração presente (que vota), mas todas as gerações futuras (que ainda não votam).

Como dizia, era um país maravilhoso. De repente, não se sabe de onde, surgiu uma horda de bárbaros populistas, ameaçando de morte as sacrossantas instituições democráticas daquele país. Vieram essas hordas do espaço sideral, pois nada nesse país maravilhoso poderia justificar o seu surgimento.

Essa é mais ou menos a conclusão que tirei da entrevista com o “cientista político” alemão que está lançando o livro “O Povo Contra a Democracia”. Ele coloca Bolsonaro como o marco inaugural do populismo no Brasil e nem fica corado. O que me faz crer que, no mínimo, não fez direito seu trabalho de pesquisa.

Se tivesse gastado um pouco mais de tempo com o Brasil, o cientista alemão teria concluído, como ele mesmo diz, que Bolsonaro representa apenas a segunda geração de populistas que tomam conta do Brasil. A primeira já fez um excelente trabalho de desconstrução das instituições democráticas.

Ao lulopetismo se podem atribuir todas as acusações que o cientista alemão fez a Bolsonaro. No quesito “populismo”, Bolsonaro precisa ainda comer muito arroz com feijão para chegar ao nível de Lula e sua trupe. Ele está se esforçando, é verdade, mas ainda é um pequeno aprendiz nesse campo em que Lula é o mestre.

O populista e as más notícias

Esse foi o tuíte de Bolsonaro comemorando o Caged de fevereiro.

Na época, pensei cá com meus botões: além do efeito “carnaval em março”, que distorce a comparação com fevereiro de outros anos, é muito, mas muito cedo ainda, para atribuir ao novo governo a criação de vagas. Tudo o que está acontecendo agora na economia ainda é, em boa parte, efeito dos governos passados. A economia real é um bicho que reage lentamente.

Agora que o Caged apontou surpreendente corte de empregos em março, fiquei esperando o tuíte do presidente pedindo desculpas pelo corte de vagas. Não virá, por óbvio. Porque o populista só aparece para dar as boas notícias.

As consequências vêm depois

Exemplo prático dos efeitos de políticas populistas.

A Caixa tinha mais ou menos o dobro do estoque de imóveis retomados por inadimplência no final de 2012, em relação à média dos bancos privados. Hoje tem 6 vezes.

Ao forçar os bancos públicos a baixarem os juros e rebaixar os critérios para conceder crédito, Dilma contratou uma crise que somente está sendo sentida anos depois.

Como diria o conselheiro Acácio, as consequências vêm depois.

PS.: o BB não aparece nessa estatística porque financiamento imobiliário nunca foi o seu forte. O problema do BB está em outros tipos de financiamento.

Caridade com o chapéu alheio

Vou tentar explicar a pedalada em gestação para capitalizar a Caixa com recursos do FGTS.

Em resumo: a Caixa tem uma dívida para com o FGTS. A proposta, depois de alguns malabarismos, é transformar esta dívida em capital. Ou seja, o FGTS viraria sócio (em certo nível) da Caixa.

Para entender o tamanho da encrenca, e porque essa operação é mais um degrau no poço sem fundo em que estamos descendo, é preciso se perguntar: por que a Caixa precisa dessa capitalização?

Vou aqui desconsiderar roubalheiras e ineficiências administrativas. Minha avaliação é de que o principal motivo pelo qual a Caixa precisa dessa capitalização monstro (R$ 15 bilhões) é porque faz empréstimos a taxas de juros que não remuneram o risco.

A Caixa é a principal operadora de recursos do FGTS. Ou seja, usa o funding do FGTS para fazer empréstimos imobiliários, a uma certa taxa teto. É a principal operadora porque esta taxa teto, na maior parte do tempo, não remunera o risco da operação. Mas como se trata de uma “política social”, a Caixa está aí para isso mesmo: para perder dinheiro em troca de “benefícios sociais”.

Como se trata de “welfare state”, os recursos para que a Caixa pudesse operacionalizar essa “política social” deveriam vir do Orçamento Público, devidamente aprovado no Congresso. O destino para essas verbas, assim, competiria com as outras inúmeras necessidades da sociedade.

Ocorre que o dinheiro do Orçamento acabou. Ao invés de discutir isso, procura-se subterfúgios e pedaladas para continuar a fazer “política social” sem dinheiro. No caso, com o dinheiro da poupança dos trabalhadores, o FGTS.

O Conselho Curador do FGTS, que, em tese, representa os donos desse dinheiro, deverá decidir se o Fundo aceita tornar-se sócio da Caixa. Imagino a resposta que daria cada trabalhador que tem no FGTS uma poupança para tempos difíceis.

O preço do populismo

O governo Maduro está tentando vender mais um lote de seus títulos públicos. O último lote foi vendido para a Goldman Sachs, por 31% do valor de face. Não tenho detalhes da operação, mas como esses bonds vencem em 2022, se forem pagos renderão algo como 27% ao ano. Em dólares.

Este é o preço do populismo. Quando algum amigo petista vier dizer que “os anos Lula foram os melhores para os mais pobres”, lembre-o que ele só conseguiu isto na base do cheque especial, e que agora estamos pagando a conta dos juros. A Venezuela não parou este processo a tempo, e está pagando muito mais caro.

Também lembre ao seu amigo petista que a riqueza de um país somente se conquista com décadas de trabalho duro, e não pela benevolência de um populista irresponsável, que hipoteca o amanhã para iludir os incautos hoje.