Privatizar é a única saída

Na década de 90, grande parte dos bancos estatuais foi privatizada. Depois de décadas de relação promíscua com seus respectivos governos, financiando seus rombos orçamentários sem nenhum controle, esses bancos estavam quebrados.

Ficamos agora sabendo que a Caixa tem R$ 21 bilhões de empréstimos a Estados sem o aval da União. Ou seja, a Caixa se tornou o novo “banco estadual” para financiar governos irresponsáveis.

Tem se discutido uma nova capitalização da Caixa, para adequar os índices de alavancagem do banco. No limite, para evitar que tenha o mesmo destino dos bancos estatuais: a quebra.

Não se engane: essa nova capitalização, no final do dia, sai do nosso bolso.

Deveríamos estar discutindo seriamente a privatização da Caixa.

I rest my case

Em 2017, 61% das casas tinham acesso à Internet, segundo o Comitê Gestor da Internet.

Em 2016, 52% das casas tinham acesso a coleta de esgoto, segundo o Instituto Trata Brasil.

A Internet é um serviço que existe há 25 anos. A coleta de esgoto é um serviço que existe há séculos.

O acesso à Internet está nas mãos da iniciativa privada. A Internet é uma “mercadoria” e não existe previsão na Constituição do “direito à Internet”.

O acesso à coleta de esgoto está nas mãos do Estado. O saneamento básico não é uma “mercadoria” e a Constituição estabelece o “direito universal ao saneamento”.

I rest my case.

Ovo da serpente

Este é o ovo da serpente que Alckmin deixou de presente para os paulistas.

O plano era o seguinte: com a concessão do estacionamento do Ibiraquera, o concessionário faria a manutenção do próprio parque e de outros cinco na periferia. Márcio França mandou parar tudo (a área do estacionamento é estadual) porque, afinal, “o parque é público e não combina com interesses privados”.

Obrigado Alckmin, pelo presente que deixou aos paulistas.

O Brasil nunca sairá do lugar

Esta é uma pesquisa da XP junto a eleitores. O resultado não é muito diferentes de outras de mesma natureza: diante de questões de natureza Estado vs. Iniciativa Privada, o brasileiro prefere o Estado.

No caso específico dessa pesquisa, foram três perguntas: você é a favor das privatizações? Da intervenção do Estado nos preços e nas relações econômicas? Da reforma da Previdência? As respostas, na média, indicam que mais ou menos 2/3 do eleitorado se inclina para as teses da esquerda: contra as privatizações, a favor da intervenção e contra a reforma da Previdência. Mesmo no caso de Alckmin, o candidato que tem menos eleitores que se inclinam à esquerda, quase metade é simpática a essas teses.

Nos três casos, o brasileiro vê o Estado como o Pai que sabe o que é melhor para os seus filhos, e é o provedor da casa. Mostra uma sociedade infantilizada, que precisa da proteção que somente o Estado pode dar.

Quando você se perguntar porque o país não sai do lugar, não coloque a culpa em Brasília. Brasília é somente o reflexo do Brasil. E o Brasil é isso que está aí nessa pesquisa. Nunca sairemos do lugar.

Pássaros

Ana Carla Abrão, ex-secretária de Finanças do Estado de Goiás, escreve artigo hoje comparando os opositores das privatizações no setor elétrico aos pássaros de Hitchcock. Perfeito.

Case pela privatização

Os funcionários da Eletrobrás entrarão em greve de 72 horas contra a privatização.

O TST ordenou que pelo menos 75% dos funcionários devem continuar trabalhando, para manter a empresa funcionando normalmente.

Bem, se a Eletrobrás continuar funcionando normalmente com apenas 75% de seu efetivo trabalhando, está feito o case pela privatização.

Trade offs

Pesquisa da Ipsos publicada hoje no Valor mostra aquilo que pesquisas anteriores já mostraram: a população brasileira é majoritariamente contrária à privatização da Petrobras e do Banco do Brasil e também contrária à reforma da Previdência.

Sou capaz de apostar que, se a mesma pesquisa fosse feita no início da década de 90, os brasileiros também seriam majoritariamente contrários à privatização da Vale, Telebras, Embraer e CSN. E, no entanto, essas empresas foram privatizadas. Não por boniteza, mas por precisão. O mesmo caso de hoje.

Um estadista, assim como um bom empresário, percebe as necessidades das pessoas antes mesmo que as pessoas tenham consciência dessas necessidades. Steve Jobs criou o iPhone antes que as pessoas sentissem necessidade do aparelho que se tornou onipresente na vida cotidiana. Da mesma forma, a agenda da privatização é desejada pela maioria dos brasileiros, mesmo que não tenham consciência disso.

Para colocar esta minha convicção à prova, seria necessário fazer um outro tipo de pesquisa. Perguntar simplesmente se a Petrobras deveria ser privatizada não resolve, porque a resposta “não custa nada” para o entrevistado. É fácil ser contra a privatização, por um sentimento nacionalista difuso. Mas não é assim que a economia funciona. A economia é feita de trade offs. Portanto, qualquer pesquisa deveria apresentar trade offs para os pesquisados, e não perguntas secas, como “você apoia a privatização da Petrobras?”. As perguntas deveriam ser do seguinte tipo:

– O que você prefere: uma escola básica de qualidade ou manter a Petrobras estatal?

– O que você prefere: hospitais públicos de qualidade ou manter o Banco do Brasil estatal?

– O que você prefere: uma segurança pública melhor ou pagar aposentadorias especiais para os funcionários públicos?

Claro, sempre haverá alguém a dizer que esses são “falsos trade offs”, porque dá para fazer tudo, basta deixar de roubar. Mas o estadista sabe que não basta deixar de roubar. Ele sabe que o orçamento é limitado, e se eu invisto para achar petróleo, faltará dinheiro para investir em escolas públicas.

A prova de que o brasileiro não entende os trade offs está em outro resultado da mesma pesquisa: o brasileiro quer, majoritariamente, a redução dos gastos públicos, o que é incompatível com manter a Petrobras estatal e não reformar a Previdência. Ao ser apresentado ao trade off em uma única pergunta, o brasileiro seria apresentado à realidade das coisas.

Claro, sempre há a alternativa avestruz: enfiar a cabeça na terra e fazer de conta que os trade offs não existem. A pessoa comum pode fazer isso. O governante, não. Mas, para isso, precisa ser um estadista, produto em falta no mercado hoje.