Justiça até o fim

Não conheço país que tenha os braços mais abertos a estrangeiros que o Brasil. Igual pode ser. Mais, não. No entanto, a julgar pela reportagem, viramos um país de xenófobos nazistas.

Um crime brutal contra um preto pobre, coisa corriqueira em nosso país violento e injusto, virou bandeira para que brancos “do lado certo da história” façam passeata pedindo “justiça”. Poucos dias depois do crime, em um país que elucida somente 8% de suas dezenas de milhares de assassinatos, três dos assassinos já estão na cadeia. Portanto, não é à justiça legal a que devem estar se referindo esses manifestantes. A sua pauta é bem mais ampla, pedem a justiça de um mundo moralmente mais justo e fraterno. Sabemos onde terminam essas boas intenções.

Os congoleses vivem no Brasil como todos os brasileiros de sua cor: têm dificuldade de encontrar moradia e emprego e sofrem preconceito. Nem a gozação com o sotaque é diferente: paulistas tiram sarro do sotaque de cariocas e vice-versa, baianos tiram sarro do sotaque de gaúchos e vice-versa, e assim por diante. Eu mesmo tirava sarro do sotaque de meus avós poloneses, que nunca aprenderam a falar direito o português. Seria eu um xenófobo?

Não me surpreenderia se fosse estabelecido um programa especial do governo para imigrantes africanos, com facilidades para conseguir moradia e emprego. Estaria sendo feita, assim, a “justiça até o fim”, pedida pelos manifestantes no MASP, que poderiam voltar justificados para as suas casas, pensando em como fizeram um mundo melhor. Enquanto isso, o brasileiro pobre, que teve o azar de não nascer em nenhum grupo “injustiçado”, vai continuar se ferrando todo dia para ganhar a vida, pois não tem ninguém para desfilar na Paulista pedindo justiça por ele. Verá mais um naco de recursos públicos sendo direcionado para grupos escolhidos a dedo pelos bem-pensantes.

Quem tem padrinho não morre pagão

O texto a seguir é de Osmar Lannes Jr. A ôtoridade a que ele se refere é a deputada Carla Zambelli. Que saiu às ruas contra “a falta de ética na política”.

Descansem os espíritos timoratos: a lei de abuso de autoridade não vai alcançar a deputada e nem o seu padrinho.

————————————————

“Desabafo.

Uma de minhas filhas decidiu, com 14 anos, fazer o ensino médio no Colégio Militar de Brasília. Por não preencher os requisitos previstos para ingresso direto no CMB, a única alternativa que lhe restava seria prestar um concurso. Não um concurso qualquer, mas um duríssimo concurso, em que centenas de candidatos disputariam as pouquíssimas vagas reservadas para essa modalidade de acesso.

Sujeitou-se, por isso, durante um ano inteiro, a uma dura rotina de estudos. De segunda a sexta-feira, tinha aulas, atividades e provas num dos melhores colégios da cidade. Às 18:00 horas, a mãe a buscava no colégio e a levava a um curso preparatório para o concurso. O jantar dela se dava no carro, durante o trajeto. Tinha aula no cursinho das 18:30 às 22:30 horas. Chegava em casa, toda noite, depois das 23:00 horas. No dia seguinte, às 7:00 horas, já estava pronta para o colégio. Fins de semana eram dedicados a mais estudo e deveres. Com 14 anos de idade.

Ao final de um ano inteiro de esforço incomum e uma assombrosa dedicação, foi aprovada no concurso do Colégio Militar, conquistando uma de apenas DEZ VAGAS, contra mais de MIL CANDIDATOS.

Enquanto isso, em abjeta contradição com o ethos de trabalho, dedicação e meritocracia que constitui a base da instituição militar, o filho de uma personalidade pública é agraciado com uma das vagas no mesmo Colégio Militar de Brasília. Sem concurso. E sem direito legal ou normativo ao ingresso no Colégio sem concurso.

Mais uma bofetada na face dos brasileiros que, tolamente, acreditam que as regras valem para todos. Que, teimosamente, optam pelo trabalho e pelo esforço próprio. E que, ingenuamente, acreditaram em promessas de novos tempos.

Lamento MUITO que o Exército Brasileiro tenha coonestado essa gritante violação aos mais basilares princípios da própria Instituição.

No fundo, somos todos OTÁRIOS. Aliás… todos, não: quase todos.

RIP, Brasil.”

Despertar da cidadania

Ainda não consegui passar da página 2 do Estadão. Este artigo, ao lado do anterior de Modesto Carvalhosa, também merece sua leitura.

Uma nota útil: Murillo de Aragão é um analista político respeitado, acompanho seu trabalho há mais de 20 anos. Longe de ser um doidivanas alt-right embarcando na mais nova onda. O que dá mais peso a suas palavras.

Bando de salafrários

A Câmara Municipal de São Paulo voltou de uma viagem a Marte, não viu nada do que aconteceu nos últimos dias, e aprovou um pacote de benefícios para os vereadores e funcionários da Casa no Valor de quase R$ 50 milhões / ano, ou 10% do orçamento.

Note que a lista dos que votaram a favor é ecumênica, tem vereador da esquerda, da direita, do centro, de cima, de baixo, unidos em um único propósito: manter seus privilégios às custas do povo.

Depois esse bando de salafrários se perguntam porque a população apoiou a greve dos caminhoneiros.

Separando o público do privado

Quer saber porque o Brasil é do jeito que é?

Estou lendo o 1o volume das memórias de FHC na presidência. Logo no início, ele reclama que a imprensa pegou no seu pé por conta de uma viagem de seu filho, Paulo Henrique, ao Uruguai, em avião oficial, quando ele mesmo estava em missão oficial no país. Tratava-se de um avião da segurança, que viajava “vazio”. Portanto, a “carona” de seu filho não havia custado um tostão adicional aos cofres públicos.

Não ocorre a FHC que trata-se, sim, de um privilégio inadimissível. Que o seu filho só viajou de graça porque o papai era presidente da república. Que qualquer outro brasileiro que quisesse viajar de graça em avião oficial, mesmo que esta viagem “não custasse nada aos cofres públicos”, não teria este direito.

FHC é o que de melhor produziu a elite política nacional. Mas mesmo ele não consegue separar o público do privado. Imagine o resto. O nosso subdesenvolvimento não é improvisado.