Isso é tudo o que você precisa saber

“Desorganizaram a governança da economia, dos financiamentos públicos, do apoio às empresas, aos empreendedores e ao comércio externo. Dilapidaram as estatais e os bancos públicos; entregaram o patrimônio nacional. Os recursos do país foram rapinados para saciar a estupidez dos rentistas e de acionistas privados das empresas públicas.”

“Vamos retomar o Minha Casa Minha Vida e estruturar um novo PAC para gerar empregos na velocidade que o Brasil requer. Buscaremos financiamento e cooperação – nacional e internacional – para o investimento, para dinamizar e expandir o mercado interno de consumo, desenvolver o comércio, exportações, serviços, agricultura e a indústria. Os bancos públicos, especialmente o BNDES, e as empresas indutoras do crescimento e inovação, como a Petrobras, terão papel fundamental neste novo ciclo.”

“A roda da economia vai voltar a girar e o consumo popular terá papel central neste processo. Vamos retomar a política de valorização permanente do salário-mínimo.”

“Vamos dialogar, de forma tripartite – governo, centrais sindicais e empresariais – sobre uma nova legislação trabalhista.”

“Não faz sentido importar combustíveis, fertilizantes, plataformas de petróleo, microprocessadores, aeronaves e satélites. Temos capacidade técnica, capitais e mercado em grau suficiente para retomar a industrialização e a oferta de serviços em nível competitivo.”

Isso é tudo o que você precisa saber sobre o governo que hoje se inicia.

O moto-perpétuo não existe

Meu caro Boulos, bom tarde!

Li em uma reportagem no Valor de hoje que você espera o aquecimento da economia via ”o investimento pesado na construção de moradias populares”.

Trata-se de erro muito comum, em que se confunde o curto com o longo prazo e, principalmente, não se entende a natureza do crescimento econômico. Não vou culpá-lo por isso, ainda mais sabendo quem são seus gurus nessa matéria. Mas permita-me, nessa missiva, mandar a real sobre o tema.

Para entender a questão, imagine por um momento que, ao invés de construir casas populares, o governo se dedicasse a contratar pessoas (milhões delas) para abrir buracos e fechá-los novamente. Essa atividade frenética certamente “aqueceria a economia”, não somente através do salário recebido pelos escavadores, como também pelo impulso a toda a cadeia de produção de pás. O problema é que nada disso contribui para o crescimento econômico no agregado da economia. Na verdade, há um decrescimento econômico. Para entender este ponto, é preciso lançar mão do conceito de “valor”.

O crescimento do PIB nada mais é do que a soma de todo o valor agregado da economia. Se eu produzo um filão de pão por R$ 1,00 e consigo vendê-lo por R$ 3,00, agreguei R$ 2,00 ao PIB do país. Isso porque alguém viu valor no pão que eu produzi, a tal ponto que ficou disposto a pagar R$ 3,00 por ele. Assim, agreguei R$ 2,00 de valor às matérias primas que comprei e aos salários que paguei para produzir aquele filão de pão. Do nada, com meu trabalho e engenho, criei valor. Isso é PIB.

Voltemos aos buracos do governo. Aquela atividade não criou valor. Pelo contrário, destruiu valor. O governo arrecadou impostos daqueles que criaram algum valor para a economia no passado, e literalmente enterrou-os. Tanto faz se os salários dos operários servirão para movimentar o comércio ou se a indústria de pás irá florescer. No agregado da economia, o que importa é que todo o dinheiro gasto em pás e salários saiu de algum lugar e não criou valor. Pelo contrário, foi literalmente enterrado.

Boulos, você deve estar se perguntando, ainda, se a atividade gerada pela indústria dos buracos, afinal, não agrega ao PIB. Sim, meu caro, agrega. Mas, a somatória desse valor criado com o valor destruído é negativa. Fica fácil de entender se colocamos alguns números aqui. Digamos que o governo gaste R$ 1.000 comprando pás e outros R$ 2.000 pagando os salários dos escavadores. O fabricante de pás gastou R$ 700 para produzi-las e, portanto, agregou R$ 300 de valor. Já os empregados vão gastar esses R$ 2.000 no comércio, que gastou R$ 1.500 em mercadorias. Portanto, o comércio agregou R$ 500. Comércio mais fabricantes de pás agregaram, portanto, R$ 800. O governo, por outro lado, tirou R$ 3.000 da economia para manter essa atividade sem criar nada. Portanto, destruiu um valor líquido de R$ 2.200. Não tem como essa conta fechar.

Claro que estamos falando de construção de imóveis, não de cavar buracos. Mas o raciocínio é rigorosamente o mesmo. Se os imóveis construídos não puderem ser vendidos por um preço acima do seu custo, o governo estará destruindo valor, da mesma forma que faria se estivesse cavando buracos inúteis. Do ponto de vista de crescimento econômico, é exatamente a mesma coisa.

Meu caro Boulos, já vejo você protestar contra esse exemplo, dado que construir imóveis populares é algo muito necessário e tem o seu mérito. Além disso, há ”externalidades positivas”, palavra bonita muito usada por seus mentores da Unicamp, e que justifica todo e qualquer investimento do governo. Sem entrar no mérito da benemerência desse tipo de investimento, o que é indiscutível, a questão é que a matemática do PIB continua a mesma independentemente das boas intenções do governo. E quanto às externalidades positivas, trata-se de algo extremamente difícil de quantificar. No caso, pessoas com boa moradia tendem a ser mais produtivas, sem dúvida, mas a questão é quanto outros fatores que forçam a produtividade para baixo não predominam, fazendo com que um teórico ganho de produtividade não compense o subsídio a esse tipo de empreendimento.

Em resumo: o governo pode (ou até, talvez, deva) subsidiar moradias populares. Afinal, nossos impostos devem servir para distribuir renda. Isso é uma coisa. Outra coisa é esperar que esse tipo de iniciativa vá “aquecer a economia”. Não vai. Pelo contrário. O aumento da carga tributária ou da dívida pública para financiar esse tipo de iniciativa fará com que, no final, a economia se desacelere, como vimos nos últimos anos do PT. Não há mágica. Se investimentos públicos a fundo perdido fizessem a economia crescer, teríamos inventado o moto-perpétuo. E esse mecanismo mágico, meu caro Boulos, infelizmente, não existe.

Enquanto isso, na sala de projeto do primeiro foguete brasileiro…

Haddadson, o chefe da equipe, toma a palavra:

– Pessoal, reunimos esse time com as mentes mais brilhantes do planeta para tirar do papel o projeto do primeiro foguete brasileiro. Mas não só isso: temos aqui diversidade de visões de mundo, de modo que cada um vai aportar a sua opinião para construirmos o melhor foguete de todos os tempos!

Persikovsniski, o cientista russo, levanta a mão.

– Chefe!

– Pois não Persikovsniski, fale.

– Longe de mim posar como dono da verdade, respeito a opinião de todos, mas acho que os cálculos balísticos estão incorretos.

– Por que?

– Os cálculos foram feitos desconsiderando a curvatura da Terra. E, como sabemos, a Terra é redonda.

Barbosman, o cientista alemão responsável pelo cálculo balistico, interrompe seu colega e fala de maneira exaltada.

– Como assim, “sabemos”? Esse é um consenso ultrapassado na ciência balística!

Haddadson procura conter os ânimos.

– Calma, estamos aqui em uma equipe com diversidade de opiniões justamente para enriquecer a discussão. E se refizéssemos os cálculos considerando uma forma oval para o planeta?

Barbosman e Persikovsniski balançam a cabeça e dizem quase ao mesmo tempo: – Mas a Terra é plana (redonda), os cálculos ficarão errados!

– Certo ou errado são conceitos que não cabem em uma equipe com diversidade de opiniões. Devemos aprender a respeitar a opinião de todos. Acredito que a forma oval é a que mais se aproxima do consenso da equipe, concordam?

Os outros membros da equipe, que não entendem de balística, abanam a cabeça em concordância. Haddadson sorri, satisfeito por ter alcançado um consenso.

– Chefe!

– Sim, Persikovsniski, fale.

– Tem outra coisa: foi usada uma gravidade de 5 m/s2 para os cálculos, quando sabemos que o número correto é de 10 m/s2.

Agora foi a vez do cientista japonês Pokemon se exaltar.

– Como assim, “sabemos”? Einstein provou que tudo é relativo, não tem essa de se tornar refém de um número!

Haddadson teve que exercer sua capacidade de coordenação de novo.

– Parece-me que temos aqui uma divergência apenas na superfície. Ambos concordam que a gravidade existe, estamos divergindo apenas em relação a um número. E se usássemos 7,5 m/s2?

Pokémon e Persikovsniski falaram ao mesmo tempo: – Mas esse número está errado!

Haddadson, já demonstrando alguma irritação: – Senhores, desse jeito não conseguiremos avançar. A equipe com diversidade de opiniões serve justamente para que tenhamos o melhor de todos. Vamos colaborar, por favor. Usaremos 7,5 m/s2 e ponto final.

– Chefe!

Era Persikovsniski novamente, levantando a mão de maneira tímida. Haddadson não esconde o enfado.

– Fala, Persikovsniski.

– Desculpe-me interromper de novo, mas estou preocupado com o material usado na construção do foguete. Entendo a preocupação ambiental com o lixo espacial, mas penso que usar papelão reutilizável talvez não seja uma boa ideia.

O cientista chinês Xi Le Me Me Lo, autor da ideia do papelão, contrapõe com calma.

– Meu caro colega, estamos presos a esquemas ocidentais de uso de materiais, os mesmos esquemas que vem destruindo o planeta. Devemos acreditar em soluções alternativas.

Haddadson entra em campo para exercer a sua principal habilidade, atingir consensos.

– E se reforçássemos o papelão com fitas de metal?

Persikovsniski: – Não é o suficiente!

Xi Le etc: – O metal vai poluir o nosso espaço!

Haddadson não vê outra maneira de encerrar a discussão a não ser levar a questão ao voto. A maioria votou pela solução do chefe. Haddadson conclui a reunião, satisfeito:

– Senhores, estou orgulhoso do resultado alcançado. Tenho certeza que essa equipe diversa chegou ao melhor projeto possível!

Em poucos meses o foguete ficou pronto. Todo o povo brasileiro embarcou, e não vê a hora da decolagem. A contagem regressiva começou…

A história se repete somente como farça

Apesar do bombardeamento de última hora do PT, Ilan Goldfjan foi eleito para a presidência do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento. Trata-se de uma história com duas lições.

A primeira, óbvia, é que, para surpresa de alguns, o PT continua sendo o PT. Todos os sinais estão nessa direção, esse foi apenas mais um deles. O PT queria colocar um “dos nossos” no comando na instituição. Afinal, Ilan é um sujeito técnico, e que vai analisar os pedidos de financiamento de um ponto de vista, digamos, técnico. Nada de ter ”sensibilidade para governos amigos”, ou analisar “externalidades positivas” que só o pessoal da Unicamp vê.

E aqui vem a segunda lição, que é o outro lado da moeda da primeira. Certamente o conselho do BID (o que inclui seu maior financiador, os EUA) viu como o BNDES foi usado durante os governos petistas. Lula pode ser um pop star das relações internacionais, mas na hora do dinheiro de verdade, os investidores querem ver resultados. Não à toa, mantiveram a eleição e Ilan foi eleito por larga margem.

Essa é uma sinalização interessante. O passado do PT o condena, e cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça. O “chilique” do mercado nos últimos dias demonstra isso, assim como esse olé do BID no PT. Desse modo, é provável que o PT enfrente grande dificuldade na implementação de sua agenda. A resistência do mercado e do corpo político será formidável. Ninguém quer viver novamente o show de horror que foi o fim do governo PT. Claro, o PT insistirá de várias formas e teremos muita dor de cabeça. Mas não será o passeio no parque que foi no primeiro governo. A história se repete somente como farsa.

“Ruídos”

O economista Nilson Teixeira passou a campanha inteira defendendo o voto em Lula. Seus argumentos não eram diferentes dos apresentados em sua coluna de ontem no Valor, procurando justificar o discurso do presidente eleito no último dia 10, e que provocou uma comoção nos mercados.

Apenas para lembrar, Lula afirmou, entre outras coisas, que não se pode sacrificar os pobres em nome da “tal responsabilidade fiscal”. Para bom entendedor pingo é letra. Mas vejamos os argumentos do economista.

Nilson começa dizendo que o discurso se justifica tendo em consideração o “público presente”.

Lula estaria fazendo um discurso interno, sob medida para agradar os seus. Bem, esse argumento tem duas falhas: 1) Lula não está mais em campanha. Estaria na hora de, já eleito, mostrar a que veio. E, provavelmente, foi isso o que aconteceu; 2) E, mesmo que estivesse em campanha, Lula é Lula, não precisa fazer muito para segurar os seus consigo.

Em seguida, Nilson lança mão da carta “experiência” (chamada de “vivência política”) para acreditar, a priori, que a dupla Lula-Alckmin não faria loucuras no campo fiscal. Seria um bom ponto se o diagnóstico da dupla coincidisse com o diagnóstico do mercado financeiro, Nilson incluído. O grande erro é achar que, por todos concordarem que a inflação é um mal e o crescimento econômico é um bem, todos concordam também a respeito do diagnóstico sobre o que causa a inflação e o crescimento econômico.

Por exemplo, ontem, ao apresentar a PEC do waiver (R$ 200 bi além do teto!), Alckmin justificou os gastos adicionais, entre outras coisas, “para o investimento para a retomada do crescimento”.

Está aí um exemplo claro de dissonância entre o mercado e a dupla Lula-Alckmin sobre o conceito de responsabilidade fiscal. Para o mercado, responsabilidade fiscal significa manter a dívida sob controle, o que permitiria inflação e juros mais baixos, fomentando, assim, os investimentos privados e o crescimento econômico. Para a dupla Lula-Alckmin, responsabilidade fiscal significa dotar o Estado de instrumentos para fomentar o crescimento econômico, por meio de investimentos produtivos (oferta) e distribuição de renda (demanda), o que, por si só, geraria um equilíbrio macroeconômico benigno. Os governos Lula 2 e Dilma 1 tinham exatamente o mesmo entendimento, com os resultados conhecidos.

Essa dissonância fica ainda mais clara quando Nilson afirma que “não houve, durante a campanha eleitoral, nenhuma indicação de que a inflação seria tolerada”. Chega a ser pueril. Que político, no Brasil, vai afirmar que “não está nem aí para a inflação”? O economista assume que, por “não tolerar inflação”, a dupla Lula-Alckmin vai adotar o modelito Faria Lima de estabilização da moeda. E, com base nesse entendimento, deveríamos simplesmente ignorar todos os sinais na direção contrária. Haja fé!

O fato nu e cru é que a PEC dos R$ 200 bi sequer passou pela equipe de transição, que, à exceção de Persio Arida, não são exemplo de ortodoxia. O que demonstra que a dupla Lula-Alckmin está pouco se lixando para qualquer consideração técnica. Para desgosto dos faria limers que apostaram no “bom senso” da experiente e sensata dupla que vai comandar os destinos do país nos próximos 4 anos.

A OCDE subiu no telhado

Quando anunciei meu voto em Bolsonaro por conta da agenda econômica do PT, era a isso que me referia. Posso queimar a língua, mas provavelmente nossa entrada na OCDE ficará congelada pelos próximos quatro anos.

O interessante dessa matéria, que, de resto, não deveria ser surpresa para ninguém, é a honesta justificativa que integrantes do PT, em off, dão para as suas reservas em relação à OCDE: entrar na organização significaria não ter liberdade para adotar as políticas econômicas desenvolvimentistas que nos jogaram na maior recessão da história, nos obrigando a adotar políticas que têm feito o sucesso de economias mais desenvolvidas.

Claro, esse é a leitura de um faria limer liberaloide, os petistas diriam que as políticas da OCDE servem para manter os países subdesenvolvidos colonizados e subjugados aos interesses do “grande capital”. A dura realidade, no entanto, é que já provamos o gosto amargo das políticas econômicas petistas, e nenhuma delas nos levou ao Nirvana da tal “soberania econômica”. Pelo contrário, se algo aconteceu nos anos petistas, foi o aumento da dependência do capital.

Vamos ver o que o “Lula pragmático” tem a nos dizer a respeito.

Minha declaração de voto

Bom dia, amigos! Pousei ontem depois de duas semanas de férias no Japão (um post a respeito da viagem está a caminho!). Hoje, depois de uma noite de sono reparador e recuperado de dois voos intercontinentais seguidos e 12 horas de diferença de fuso, volto para falar daquilo que interessa.

O Estadão está, hoje, lamuriento. Sua manchete chama a atenção para a polarização que tomou conta do país, seu editorial clama por um “pacificador” e entrevista do cientista político Bolívar Lamounier, tucano clássico, transpira pessimismo por todos os poros em relação à capacidade do próximo presidente de “unir” o país.

Vou falar o óbvio: só existem duas opções, e vivemos em um sistema político em que “the winner takes all”. Ou seja, literalmente metade do país será governado por alguém visto como intragável. Aliás, mais da metade, se considerados os votos nulos e as abstenções. Este é o sistema em que vivemos e a única “solução” seria uma guerra civil seguida pela secessão do país.

Qualquer dos dois candidatos disponíveis não será capaz de unir o país. Em primeiro lugar, porque ambos vivem da demonização do outro. E, em segundo lugar, porque essa é uma utopia que não ocorre em nenhuma democracia. Unanimidade em torno de um projeto político somente é possível em regimes autoritários, em que o lado discordante é calado. Portanto, vamos deixar de lado as utopias e lidar com a realidade mais rasteira: Bolsonaro ou Lula será o nosso presidente nos próximos 4 anos, em um ambiente beligerante, em que o outro lado não deixará de fazer oposição feroz.

Uma pequena digressão antes de continuarmos. Ontem pousei em Guarulhos às 6 da manhã e, antes de voltar para casa, passamos por uma padaria famosa aqui em São Paulo para tomar um café. Foi triste. O serviço foi péssimo. O despreparo da mão de obra era evidente. Havia muitos empregados fazendo o serviço que poderia ser feito por muitos menos se houvesse mais eficiência. Estava clara ali a tragédia nacional. Eu estava vindo de um país com renda per capita 3 vezes maior do que a do Brasil. Isso significa que cada japonês consegue produzir 3 vezes mais do que cada brasileiro. Ou, de outra forma, cada japonês faz o serviço de 3 brasileiros. Na padaria japonesa, se existisse, seriam necessários 3 vezes menos funcionários para oferecer o mesmo nível de serviço. Isso acontece porque a mão de obra é muito melhor preparada, além de serem disponíveis meios de produção e de administração mais eficientes. PIB per capita não é apenas uma medida de riqueza, mas antes e principalmente, trata-se de eficiência. Eficiência que se traduz, no final do dia, em mais riqueza para todos.

Tendo sentido na pele o que significa viver em um país de renda média, não pude deixar de pensar o que nos oferecem os dois candidatos em relação ao aumento da eficiência. Não estou aqui falando de corrupção, empatia, pendores democráticos. Refiro-me especificamente à capacidade de ambos os candidatos de levar o país para o próximo nível em termos econômicos.

Dos dois candidatos, Bolsonaro representa um projeto econômico mais próximo daquilo que acredito estar na direção correta. As limitações do atual presidente são evidentes, não preciso gastar verbo aqui para descrevê-las. O presidente e as atuais lideranças do Congresso fizeram todo o necessário para sabotar a credibilidade da única regra fiscal que temos, o ministro da fazenda prefere a CPMF a uma reforma tributária ampla e as constantes mudanças na direção da Petrobras certamente não contribuíram para o ambiente econômico. Trata-se, afinal, de um populista, e não dá para esperar muito de um populista.

No entanto, por mais deletérias que tenham sido suas intervenções na economia, há uma diferença fundamental de natureza em relação ao ideário do PT, que nos legou a maior recessão da história do Brasil. Minha série sobre a economia na era PT faz uma autópsia desse tempo, e as manifestações de Lula a respeito indicam que nada aprenderam. Portanto, podemos esperar que tentem mais forte, usando todos os instrumentos disponíveis para intervir na atividade econômica, com os resultados conhecidos.

Por isso, meu voto vai para Bolsonaro, com a consciência de que está longe de ser o ideal. Reconheço que considerações de outras naturezas que não a econômica podem levar ao voto no candidato do PT, e respeito a escolha de cada um de acordo com a sua própria visão de mundo, assim como espero que respeitem a minha. Respeito mútuo, mais do que uma utópica concordância em torno de um projeto único, talvez seja o que esteja mais faltando em nosso país.

Este voto, obviamente, não me tirará o direito de criticar um próximo governo Bolsonaro, se eleito, em todos os seus aspectos criticáveis, como sempre fiz por aqui. Afinal, não é o voto que define o direito à crítica, mas o simples fato de ser cidadão.

Uma ausência notável

Lula faz segredo sobre o seu ministério, o que deixa as especulações correndo soltas. A jornalista Andrea Jubé, hoje, no Valor, é mais uma que pratica o esporte predileto dos colunistas políticos nesses dias.

Em todas as listas de ministeriáveis, no entanto, uma ausência grita alto: a da ex-presidente Dilma Rousseff.

Dilma não é um quadro qualquer. Difícil encontrar no PT ou em qualquer outro partido alguém com a sua experiência. Mulher-forte do governo Lula desde 2005, quando assumiu a Casa Civil, e presidente da República por pouco mais de 5 anos, Dilma foi o cérebro e os músculos dos governos do PT entre 2005 e 2016. Alcunhada pelo próprio Lula de ”mãe do PAC”, Dilma seria a escolha natural para coordenar o programa que Lula promete ressuscitar.

A completa ausência de Dilma das especulações sobre o ministério de Lula só pode ser explicada por um grande pacto do silêncio em torno de um parente inconveniente. É daqueles assuntos proibidos em conversas em torno da mesa, pelo constrangimento que causam. Em uma das raras ocasiões em que Lula foi confrontado com o seu segredo, em entrevista a Willian Waack, escapou pela tangente. “Vamos falar do meu governo”, quase suplicou o ex-presidente. Não se trata de um assunto fácil.

Acho que Dilma é uma grande injustiçada. Seu grande pecado foi ter levado ao limite todas as ideias econômicas do PT. Quando veio o desastre, levou a culpa sozinha. Aliás, se perguntado, Lula dirá que Dilma fez tudo certo, que os culpados pela crise foram a Lava-Jato, os americanos, os golpistas etc. O que torna a sua ausência da lista de ministeriávies algo incompreensível: afinal, se ela fez “tudo certo”, por que abrir mão de um quadro tão qualificado?

Quando economistas pedem “responsabilidade na condução da política econômica”, referem-se veladamente às políticas levadas a cabo por Dilma Rousseff. A ausência de Dilma da lista de ministeriáveis serve como uma espécie de ”garantia” de que seus erros não serão cometidos novamente. Como se suas “ideias sobre economia” fossem de sua própria lavra, e não patrimônio comum a todo o “pensamento econômico” do PT. No fundo, a esperança dos economistas apoiadores de Lula é de que o PT não seja o PT.

Podem esperar sentados

Imagine uma “parcela do PIB” diante da TV no domingo, acompanhando as apurações e “percebendo que agora terá de escolher um lado da polarização”, pois a candidata em que apostaram suas fichas surpreendentemente ficou de fora do 2o turno. Não sei o que é mais patético, a “parcela do PIB” ou a reportagem.

Mas vamos ao que interessa. A verdade é que esse grupo de empresários (a reportagem cita Cândido Bracher (Itaú), Walter Schalka (Suzano), Fábio Barbosa e Pedro Passos (Natura) e Horácio Piva (Klabin)) tem alergia a Bolsonaro, mas sabe que o PT no poder é prejudicial ao ambiente econômico e, no final do dia, aos seus negócios. Estão, portanto, pedindo “uma maior definição” do programa de Lula para poderem apoiá-lo.

Na verdade, o programa de Lula está bem definido. É claro e cristalino para quem tem ouvidos de ouvir e olhos de ler. Essa historinha de pedir uma “maior definição”, na verdade, é a esperança de que Lula sinalize uma MUDANÇA de orientação. Querem votar em um candidato que não existe: um candidato fofo como Lula com o programa econômico de Bolsonaro.

A “parcela do PIB” pode puxar uma cadeira e esperar sentada. Lula não precisa “sinalizar” nada para o PIB ou para a Faria Lima para obter os 1,7 pontos percentuais de que necessita para vencer o 2o turno. Ele sabe que esses votos virão por inércia, dessa “parcela do PIB” que quer afetar virtude, mesmo às custas da economia do país. “O que importa é a democracia, a economia a gente vê depois”.

A bolsa ontem subiu mais de 5% com a eleição de um Congresso mais alinhado com as pautas de Bolsonaro e o adiamento da decisão para o 2o turno. Essa “parcela do PIB” ficou um pouco mais rica ontem. Vamos ver até que ponto serão capazes de exercitar o seu sagrado direito de dar tiro no próprio pé.

PS.: não acho que o governo Bolsonaro seja brilhante em matéria de condução da economia. Muito pelo contrário, quem lê essa página sabe que sou crítico a muitas coisas que foram feitas. Mas comparado com o PT, Bolsonaro é quase um Milton Friedman.