Tabata Amaral

Escrevi o seguinte post no dia 07/05:

“Tabata Amaral não consegue entender como a esquerda pode fechar questão contra a reforma da Previdência, um sistema iníquo de concentração de renda.

Eu explico pra você, Tabata: trata-se pura e simplesmente de luta política por espaços de poder. É o mesmo motivo pelo qual o Centrão vai votar uma reforma “desidratada”, para evitar o fortalecimento do governo. O povo que se exploda.

Parabéns Tabata, por não entrar nesse jogo. Posso não concordar com todas as suas ideias, mas o primeiro passo para o consenso é a honestidade intelectual. E isso você tem”.

Hoje, pouco mais de dois meses depois, Tabata Amaral e outros poucos deputados do PDT e do PSB não seguiram a orientação partidária e votaram a favor da reforma. Lupi e Ciro afirmaram que vão expulsar Tabata e os outros. Duvido. Hoje, o partido precisa mais de uma estrela em ascensão como Tabata do que vice-versa.

Os pais da reforma

379 votos para uma reforma impopular como a da Previdência não é para qualquer um.

Filho bonito tem muitos pais e, quem diria, a Reforma da Previdência se transformou em um filho lindo, disputadíssimo.

Afinal, quem são os pais da reforma?

Temer é o primeiro deles. Ao lado de outras reformas importantíssimas, o governo Temer foi o primeiro a propor uma reforma abrangente depois de quase 20 anos após a última, no governo FHC. Foi dado o início de todo um trabalho de convencimento da opinião pública, e a reforma teria sido aprovada não fosse o escândalo conhecido como “Joesley Day”.

O segundo pai é a dupla Bolsonaro/Guedes, que tiveram a iniciativa de enviar a proposta de uma reforma para o Congresso. Apesar de poderem ter utilizado a reforma de Temer, optaram pelo caminho mais arriscado de enviar um projeto totalmente novo, muito mais ambicioso. Conseguiram.

O terceiro pai é Rodrigo Maia. Ele assumiu para si a tarefa de articular os apoios que terminaram na acachapante votação de hoje. Não há dúvida de que, se não fosse o empenho de Maia, que era o único a afirmar ser possível votar a reforma antes do recesso, essa proposta não teria saído do lugar.

O Congresso brasileiro é o quarto pai dessa reforma. É difícil imaginar que uma reforma tão impopular tenha sido aprovada por “interesses menores”. Posso estar sendo ingênuo, mas acredito que a maioria dos deputados, neste caso bem específico, estava realmente convencida de que precisávamos evitar o precipício. Não aprovar a reforma seria entregar o país de volta ao PT, o que não interessa a ninguém, a não ser aos próprios petistas.

Por fim, o quinto pai dessa reforma são todos os técnicos que trabalharam na proposta e no convencimento dos congressistas e da opinião pública, entre os quais destaco Paulo Tafner e Pedro Fernando Nery. Mas há muitos outros, que trabalharam no governo Temer e trabalham no governo Bolsonaro, sem os quais não teria sido possível esta aprovação.

Quase 74% do Congresso votando a favor da Reforma da Previdência, que é uma das reformas mais impopulares em qualquer lugar do mundo. Só no Brasil.

A verdadeira face da Rede

A Rede encaminhou voto contra a reforma da Previdência.

A Rede, se me lembro bem, era o partido daquela candidata ponderada, que aparentava ter as melhores solucionáticas para as problemáticas do País. A candidata dizia que apoiava a reforma, mas não a do Temer. Pelo visto, continua apoiando, mas não a do Bolsonaro.

Prefiro a postura dos partidos de oposição, que dizem que são contra. São mais honestos.

República dos privilégios

Bolsonaro defende que, como os policiais nunca tiveram privilégios, passem agora a tê-los. É o que se concluiu da fala abaixo.

Continuamos a ser a República dos Privilégios. Eles só mudam de lado, dependendo do governante de plantão.

Gasto com inativos

Rio Grande do Sul, São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Alagoas, Paraná, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Piauí, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul.

Nestes Estados, o governo gasta mais com policiais e bombeiros aposentados do que com os profissionais da ativa. Não que os outros Estados estejam muito melhores. Com exceção de Roraima e Amapá, todos os outros gastam mais de 30% do orçamento da segurança pública com inativos.

Qual o risco de um troço desses dar certo?

Privilégios

A proposta do relator da PEC da Previdência propunha idade mínima de 55 anos para a aposentadoria de policiais, contra 62/65 anos para as outras profissões.

Para os policiais, isto não é o suficiente. Querem outros privilégios. Têm a seu favor o apoio do presidente e do PSL.

Se você não faz parte das Forças Auxiliares de Segurança, a Nova Previdência acaba com os SEUS privilégios.

É de doer

“Enquanto o mundo discute inteligência artificial, Big Data, indústria 4.0, robótica de alta precisão, etc, e procura avaliar qual a melhor forma de o ambiente institucional estimular o progresso, nós, aqui, ficamos lutando para ver que grupo pode aposentar-se com 55 anos, recebendo seus benefícios de um Estado exaurido. É de doer.”

Fábio Giambiagi, hoje, no Estadão. Leiam, por favor.

Ordem das Empregadas Domésticas do Brasil

A senhora que nos ajuda em casa (vulgo “empregada doméstica”) entrou com pedido de aposentadoria em fevereiro, quando completou 15 anos de contribuição ao INSS. Detalhe: a senhora tem 68 anos de idade, e seu primeiro emprego registrado foi em minha casa, onde começou a trabalhar 15 anos atrás.

Estamos em julho, e ela está pacientemente aguardando o parecer do INSS. Afinal, para quem começou a trabalhar na roça, no interior da Bahia, ainda criança, o que são uns meses a mais, não é mesmo?

Pedro Fernando Nery lamenta a falta de uma Ordem dos Pedreiros do Brasil, que defendesse para os pedreiros uma gorda aposentadoria antecipada como a dos juízes. E eu, da mesma forma, lamento a ausência de uma Ordem das Empregadas Domésticas do Brasil.

Professores aposentados

O relator está mudando o texto da reforma da Previdência, de modo a diminuir para 57 anos a idade mínima para que professoras se aposentem com o salário integral e tenham paridade com os professores da ativa. O texto original falava em 60 anos.

Que me desculpem professores e professoras, mas este dispositivo vai na contramão de uma educação melhor para nossas crianças. Isso, independentemente da idade estabelecida.

O problema reside no mecanismo. Com integralidade e paridade, o sistema público continuará tirando recursos dos professores da ativa para dar aos professores aposentados. Ou seja, os Estados e Municípios continuarão a ter menos recursos para pagar salários decentes aos professores da ativa. A coisa fica menos pior com o estabelecimento de uma idade mínima, mas o conceito continua torto.

O incentivo é perverso: esse esquema atrai profissionais que topam ganhar uma miséria no presente, em troca de ter uma aposentadoria muito acima do que recebem os outros mortais. Ou seja, os professores entram na carreira sonhando com o dia em que deixarão de dar aula. Como pode isso funcionar?

Deveria ser o inverso: aposentadorias alinhadas com o restante da população, e o compromisso de usar o dinheiro poupado (seria uma espécie de “fundo para a educação”) para aumentar os salários dos professores da ativa. Dessa forma, atrair-se-iam quadros dispostos a ganhar mais hoje, e não na longínqua aposentadoria.