Alckmin embarca nas críticas populistas à proposta de reforma da Previdência. Claro, porque como diz Aécio, o PSDB precisa salvar o Brasil, mas também precisa salvar seu discurso.
E que discurso é esse? Se for este populista do Alckmin, que iguala o PSDB ao PSOL, mostra que o PSDB não aprendeu nada com a surra que tomou nas últimas eleições.
O mercado financeiro era “alckmista” nas eleições porque gosta de ganhar os juros da dívida pública na maciota, segundo Paulo Guedes.
Guedes sabe muito bem que o mercado financeiro era alckmista porque avaliava que Alckmin teria mais convicção e habilidade política para aprovar a reforma da Previdência no Congresso, que é o que realmente vai diminuir a dívida pública no longo prazo. Por enquanto, com suas declarações desastradas e sua falta de foco na reforma, Bolsonaro vai dando razão à Faria Lima. Alckmin teria menos convicção para tocar a agenda de privatizações? Bem, o atual governo já disse que Petrobras, Caixa e Banco do Brasil são imexíveis. E mesmo coisas mais simples, como o IPO da asset do BB, esbarram em “problemas”.
Por enquanto, a agenda liberal do “único governo liberal da história do Brasil” se resume à rodada de concessões de aeroportos, privatização da Eletrobrás e leilão do pré-sal. Toda ela herdada do governo Temer.
O governo tem menos de 100 dias, é verdade, está ainda se organizando, é injusto cobrar alguma coisa. Vamos ver o que Bolsonaro e Guedes entregarão em quatro anos. Guedes sabe que a Faria Lima aplaudirá de pé se conseguirem fazer metade do que prometeram. Mas, para isso, é preciso começar a trabalhar mais e falar menos.
Bacana o PR nessa sua cruzada pela moralidade e pelos bons costumes.
Sinto falta desse mesmo “sangue nos olhos” na defesa da reforma da Previdência. O último tuite do PR sobre o assunto foi no dia 20/02, há exatas duas semanas, quando a proposta foi enviada ao Congresso. Desde então, foram 69 tuítes e retuítes, uma média de quase 5 por dia, divididos entre anúncios de obras e agenda cultural e de costumes. Custava ter, sei lá, um tuite por dia sobre o assunto? Sobravam ainda 4 para os temas preferidos do PR.
Aprovar a reforma já é difícil com o engajamento pessoal do presidente, sem isso a coisa fica complicada.
Algum amigo precisa avisar o PR que o governo dele acaba se a reforma da Previdência não for aprovada. Mesmo com a aprovação há ainda muito trabalho a fazer, mas sem a aprovação é game over.
O editor do Valor, César Felício, lembra a experiência de Portugal no corte das aposentadorias. Perto do que foi feito na Metrópole, a proposta do governo é um passeio no parque.
Mas Portugal não tinha saída: por pertencer à zona do Euro, tinha que resolver seu problema fiscal do modo clássico: cortando despesas. Não havia jeitinho.
No Brasil, não chegaremos a esse ponto. Se não conseguirmos equacionar a dívida pública cortando despesas, o confisco das aposentadorias se dará pelo método brasileiro: inflação. E, como sempre, quem pagará a conta são os mais pobres, pois inflação é o confisco do dinheiro do pobre.
Bombeiro, policial militar, professor, precisam parar de se achar os únicos sofredores do mundo.
O pedreiro, que fica quebrando laje e assentando tijolo o dia inteiro, também tem um trabalho sofrido.
A empregada doméstica, que sai de madrugada de casa e tem uma jornada extenuante na casa dos patrões, incluindo aguentar os fedelhos impertinentes, também tem um trabalho sofrido.
A enfermeira, que se expõe aos mais diversos tipos de doença e precisa lidar com a má vontade de pacientes e familiares, também tem um trabalho sofrido.
Enfim, poderia aqui continuar indefinidamente com uma lista de profissionais que trabalham em atividades insalubres e, nem por isso, contam com os PRIVILÉGIOS de terem salários maiores que a média nacional, estabilidade no emprego e aposentadoria mais cedo que todo mundo.
Eu sim sou privilegiado. Eu sim, trabalho no ar condicionado em uma atividade intelectual. Mas, não se engane: não serei somente eu a transferir meus privilégios para policiais militares, bombeiros e professores. É às custas do pedreiro, da empregada doméstica, da enfermeira que as categorias PRIVILEGIADAS do funcionalismo público manterão seus PRIVILÉGIOS.
Estavam reclamando que o Bolsonaro ainda não tinha entrado em campo para defender a reforma da Previdência.
Pois bem, a pedidos, hoje o presidente conversou com jornalistas a respeito.
Jogou às feras as mudanças no BPC e a idade mínima da mulher. E isso porque a CCJ nem foi instalada ainda, os debates no Parlamento ainda estão nas preliminares.
Talvez seja o caso de repensar se Bolsonaro precisa mesmo entrar no debate.
A necessidade de reformar a Previdência é tão auto evidente, que até vozes da esquerda reconhecem, como mostra este artigo:
Se Bolsonaro não for capaz de aprovar uma reforma decente, garimpando votos inclusive na esquerda que não é bucéfala, seu governo termina antes de começar.
Esse é parte do manifesto da Associação dos Magistrados e da Associação dos Procuradores.
Algumas observações:
1. Quem está se jogando contra a população são os próprios funcionários públicos, que se negam a dar a sua parcela de contribuição para o ajuste das contas públicas. A proposta do governo, ao contrário, é uma chance dos funcionários públicos se reconciliarem com a população. Chance esta que está sendo jogada fora com posturas como a que deu origem a este manifesto.
2. A alíquota de 22%, a rigor, não vai atingir ninguém, pois se trata de alíquotas progressivas, como no imposto de renda. A alíquota efetiva para quem ganha R$ 39 mil (que é o teto teórico do funcionalismo) será de 16,8%. Uma diferença de 5,8% sobre a alíquota atual. Cabe destacar que, para quem ganha o teto do INSS (R$ 5,8 mil) a alíquota será de 11,7%.
3. Uma diferença de 5,8% para quem ganha R$ 39 mil significa um acréscimo de R$ 2,3 mil na contribuição. Trata-se de uma diferença considerável, mas daí a dizer que haverá um “redução da renda alimentar”, sugerindo que os magistrados e procuradores passarão fome, vai uma distância considerável.
4. “Os verdadeiros ricos são os que recebem dividendos”. Digamos que uma viúva tenha herdado R$ 1 milhão em ações de seu marido. Com um dividend yield de 10% (o que é puxado), ela receberia R$100 mil reais por ano, ou R$8,3 mil/mês, uma fração do salário dos magistrados e procuradores. São estes os “verdadeiros ricos”?
5. Se o governo passar a taxar os dividendos, os magistrados e procuradores topam aumentar a alíquota do INSS?
6. Ainda sobre os “verdadeiros ricos”: quem ganha acima de R$30 mil/mês está firmemente entre os 1% mais ricos do Brasil. Precisamos parar de achar que rico é somente o empresário que leva para casa milhões por ano.
Os magistrados e procuradores querem continuar confortavelmente sentados na 1a classe do Titanic, enquanto o populacho nas galés sofre para tirar a água do casco do navio.