Time is over

Onyx Lorenzoni vai rapidamente descobrir que não tem 4 anos para fazer a reforma da Previdência. Não tem sequer um ano.

A paciência dos credores já acabou faz tempo e estamos atravessando águas calmas no mercado porque existe a expectativa de que o novo governo vai dar prioridade máxima para o equilíbrio das contas públicas a longo prazo, o que significa patrocinar a reforma da Previdência para ontem.

É bom que Bolsonaro esteja convencido disso o quanto antes. Senão, corre o risco de ver seu governo terminar antes de começar.

Gente na rua

Quando li “setores que têm experiência em colocar pessoas nas ruas”, logo pensei no MBL e no Vem Pra Rua. Confesso que fiquei preocupado, o governo brigando logo de cara com esses movimentos.

Mas não, são só os sindicatos sem imposto sindical e manifestantes movidos a mortadela. Podemos seguir em frente.

A reforma dos sonhos

Este é o resumo do projeto de reforma da Previdência proposto por Paulo Tafner e Armínio Fraga, e que foi entregue a Paulo Guedes na 2a feira. Tafner é um dos maiores especialistas em previdência do Brasil e Armínio dispensa apresentações.

Este projeto economizaria R$1,2 trilhão aos cofres públicos em 10 anos e, de quebra, melhoraria o índice de Gini da previdência em 16% (o índice de Gini mede a desigualdade de renda). Para se ter uma ideia, o projeto do Temer, antes de ser aguado no Congresso, economizaria R$800 bi.

Se aprovado, este projeto significaria um choque de tal monta nas expectativas, que a redução dos juros e a apreciação do câmbio decorrentes dariam um impulso incrível ao crescimento econômico.

Sonhar não custa nada.

Jovens, acordem!

Este post é dedicado a quem tem menos de 35 anos de idade, incluindo todos os meus filhos.

O gráfico abaixo mostra que a reforma da previdência vai ser feita por bem ou pelo mal. De maneira organizada e debatida, ou de maneira selvagem, via calote nas aposentadorias ou uma inflação a lá Venezuela.

Neste gráfico, vemos a média de filhos por mulher no Brasil. A taxa de reposição, ou seja, a taxa necessária para manter a população estável, é de 2,1 filhos por mulher. Portanto, com 1,7, a população brasileira começará a diminuir em algum momento, como já está acontecendo no Japão e na Rússia.

O sistema de previdência brasileiro funciona no regime de repartição: o pessoal que está trabalhando financia a aposentadoria de quem não está trabalhando mais. Não é preciso ser nenhum gênio da economia para sacar que essa equação não fecha se a população começar a diminuir.

A rigor, não precisa nem esperar a população começar a diminuir. Basta o próprio envelhecimento. Estima-se que em 2050, quando os jovens de hoje estarão se aposentando, um quarto da população terá mais que 65 anos de idade. Isto significa que haverá um aposentado para cada duas pessoas trabalhando.

Os maiores interessados na reforma da Previdência deveriam ser os jovens, preocupados em como vão financiar as aposentadorias de seus pais e, principalmente, como seus filhos irão financiar suas próprias aposentadorias.

Jovens, acordem! Vocês são a geração que serão o recheio do sanduíche, formado pela aposentadoria de seus pais e pela falta de quem financie a sua própria aposentadoria.

– Ah, mas não vou precisar dessa aposentadoria, não pretendo me aposentar.

Eu também pensava assim quando era jovem. A idade vai chegando e as forças vão faltando, de modo que uma renda complementar passa a ser importante e até mesmo essencial em alguns casos.

A escolha é clara: uma reforma negociada ou caótica. Não há uma terceira opção.

Olhe o exemplo do Sul

“Não adianta uma proposta que aos olhos apenas de economistas e de alguns políticos é maravilhosa, mas que não passa no Parlamento.”

Essas são palavras de Bolsonaro a respeito da reforma da previdência. Para ele, a “reforma do Temer” não passa.

É bom Bolsonaro dar uma olhada para o nosso vizinho ao sul. Na Argentina, Macri tentou fazer um “ajuste gradual”, e deu no que deu. Agora, está sendo obrigado a fazer um ajuste de verdade, muito mais duro do que seria se tivesse encarado o problema de frente.

Essa ladainha de que não se faz reforma para “agradar o mercado” acaba quando termina a paciência dos credores.

O Brasil é uma grande Unesp

Um terço da folha de pagamentos da Unesp vai para pagar os aposentados e pensionistas. Isso significa mais ou menos 30% da receita da universidade, pois a folha de pagamento consome cerca de 92% dos recursos disponíveis.

Agora, imagine que o Brasil é uma grande Unesp. Mais ou menos 50% da receita do Brasil vai para pagar aposentados e pensionistas. Na Unesp são 30%, e eles já não estão pagando o 13o.

A diferença é que o Brasil consegue emitir dívida para pagar as aposentadorias. Pelo menos, enquanto os credores continuam a acreditar que alguma coisa será feita para estabilizar e reverter esses números. Quando essa confiança acabar, só restarão duas alternativas: calote ou inflação. Além, claro, de deixar de pagar as aposentadorias.

O Brasil nunca sairá do lugar

Esta é uma pesquisa da XP junto a eleitores. O resultado não é muito diferentes de outras de mesma natureza: diante de questões de natureza Estado vs. Iniciativa Privada, o brasileiro prefere o Estado.

No caso específico dessa pesquisa, foram três perguntas: você é a favor das privatizações? Da intervenção do Estado nos preços e nas relações econômicas? Da reforma da Previdência? As respostas, na média, indicam que mais ou menos 2/3 do eleitorado se inclina para as teses da esquerda: contra as privatizações, a favor da intervenção e contra a reforma da Previdência. Mesmo no caso de Alckmin, o candidato que tem menos eleitores que se inclinam à esquerda, quase metade é simpática a essas teses.

Nos três casos, o brasileiro vê o Estado como o Pai que sabe o que é melhor para os seus filhos, e é o provedor da casa. Mostra uma sociedade infantilizada, que precisa da proteção que somente o Estado pode dar.

Quando você se perguntar porque o país não sai do lugar, não coloque a culpa em Brasília. Brasília é somente o reflexo do Brasil. E o Brasil é isso que está aí nessa pesquisa. Nunca sairemos do lugar.

Trade offs

Pesquisa da Ipsos publicada hoje no Valor mostra aquilo que pesquisas anteriores já mostraram: a população brasileira é majoritariamente contrária à privatização da Petrobras e do Banco do Brasil e também contrária à reforma da Previdência.

Sou capaz de apostar que, se a mesma pesquisa fosse feita no início da década de 90, os brasileiros também seriam majoritariamente contrários à privatização da Vale, Telebras, Embraer e CSN. E, no entanto, essas empresas foram privatizadas. Não por boniteza, mas por precisão. O mesmo caso de hoje.

Um estadista, assim como um bom empresário, percebe as necessidades das pessoas antes mesmo que as pessoas tenham consciência dessas necessidades. Steve Jobs criou o iPhone antes que as pessoas sentissem necessidade do aparelho que se tornou onipresente na vida cotidiana. Da mesma forma, a agenda da privatização é desejada pela maioria dos brasileiros, mesmo que não tenham consciência disso.

Para colocar esta minha convicção à prova, seria necessário fazer um outro tipo de pesquisa. Perguntar simplesmente se a Petrobras deveria ser privatizada não resolve, porque a resposta “não custa nada” para o entrevistado. É fácil ser contra a privatização, por um sentimento nacionalista difuso. Mas não é assim que a economia funciona. A economia é feita de trade offs. Portanto, qualquer pesquisa deveria apresentar trade offs para os pesquisados, e não perguntas secas, como “você apoia a privatização da Petrobras?”. As perguntas deveriam ser do seguinte tipo:

– O que você prefere: uma escola básica de qualidade ou manter a Petrobras estatal?

– O que você prefere: hospitais públicos de qualidade ou manter o Banco do Brasil estatal?

– O que você prefere: uma segurança pública melhor ou pagar aposentadorias especiais para os funcionários públicos?

Claro, sempre haverá alguém a dizer que esses são “falsos trade offs”, porque dá para fazer tudo, basta deixar de roubar. Mas o estadista sabe que não basta deixar de roubar. Ele sabe que o orçamento é limitado, e se eu invisto para achar petróleo, faltará dinheiro para investir em escolas públicas.

A prova de que o brasileiro não entende os trade offs está em outro resultado da mesma pesquisa: o brasileiro quer, majoritariamente, a redução dos gastos públicos, o que é incompatível com manter a Petrobras estatal e não reformar a Previdência. Ao ser apresentado ao trade off em uma única pergunta, o brasileiro seria apresentado à realidade das coisas.

Claro, sempre há a alternativa avestruz: enfiar a cabeça na terra e fazer de conta que os trade offs não existem. A pessoa comum pode fazer isso. O governante, não. Mas, para isso, precisa ser um estadista, produto em falta no mercado hoje.

Ponto fora da curva

A jornalista começa a entrevista tentando provocar a velha cantilena “desenvolvimentista”. Ioschpe corta de cara, dando nome aos bois do problema econômico brasileiro. O resto da entrevista é exemplar e, mesmo sendo presidente do Sindipeças, em nenhum momento chora pela falta de “incentivos” para a indústria.

Ioschpe é um ponto fora da curva. Se os empresários brasileiros pensassem como ele, o Brasil estaria em outro patamar de desenvolvimento.