Regime de capitalização

O regime de capitalização já existe: chama-se PGBL. Neste instrumento, o trabalhador tem um incentivo fiscal para poupar em prazos mais longos. Temos, portanto, um sistema híbrido: para aposentadorias de até 5 salários mínimos, o sistema de repartição do INSS. Acima disso, a poupança individual em PGBLs. Não é isso que o Paulo Guedes quer?

Para que o atual sistema fosse realmente um substituto do regime de capitalização, seria necessário mudar o formato do PGBL: a liquidez precisaria obedecer regras muito mais rígidas do que os atuais 60 dias de carência. Em fundos de pensão fechados, o indivíduo somente tem acesso à sua conta se sair do emprego e, mesmo assim, se cumprir certos prazos. O grande segredo da poupança previdenciária é dificultar ao máximo o acesso ao dinheiro. O acesso ao PGBL poderia, por exemplo, estar atrelado ao momento da aposentadoria oficial, pelo INSS.

Obviamente, sob essas condições, o volume de recursos que temos hoje na indústria de PGBLs seria muito menor. As pessoas preferem liquidez, ainda que não tenham planos para o dinheiro. Ainda mais em um país instável como o Brasil.

O que Paulo Guedes quer é forçar essa poupança de longo prazo. Ao invés de dar murro em ponta de faca, tentando convencer os congressistas de algo que eles não entendem, talvez uma reengenharia da atual indústria de PGBLs, nos moldes do 401-k americano, pudesse ser um substituto aceitável.

A capitalização “esperta”

No novo regime de capitalização, 70% dos recursos depositados em minha conta individual de aposentadoria seriam “emprestados” para o governo, e seriam remunerados a uma taxa “abaixo da Selic”. Além disso, uma parcela desses depósitos seria utilizada para formar uma espécie de “fundo garantidor de benefícios”, subsidiando as aposentadorias abaixo de um salário mínimo.

Bem, este é o desenho de um segundo FGTS, só que dessa vez com o dinheiro saindo da conta do empregado.

Isso aí só funciona se for compulsório. E aí teríamos, na prática, a criação de um gigantesco novo imposto, que serviria para fazer a transição do regime de repartição para o regime de capitalização. Esse esquema é o reconhecimento de que essa transição tem um custo enorme, e somente é viável tungando o contribuinte.