Como Brasília atrasa do Brasil

A Livraria é um bom filme. Ambientado em uma pequena cidade inglesa na década de 50, conta a história de uma empreendedora que monta uma livraria em uma velha casa da cidade. Faz um tremendo sucesso, mas a “dona” da cidadezinha tinha outros planos para aquela casa. Frustrada em seus projetos, mexe seus pauzinhos em Londres, onde é aprovada uma lei específica para ferrar a empreendedora.

Lembrei desse filme ao ser relembrado de que está em tramitação na Câmara um projeto de lei com o objetivo de ferrar o empreendedor, ao proibir a intermediação na venda de passagens de ônibus intermunicipais e interestaduais. Com isso, se inviabilizam os sites de vendas de passagens e o compartilhamento de ônibus. O projeto foi patrocinado por senadores com interesses particulares no setor e aprovado no Senado em dezembro.

Mais do que ferrar o empreendedor, essa lei, ao inibir a concorrência, prejudica, antes de mais nada, o consumidor. Na pequena cidade inglesa, seus habitantes foram privados de uma opção de atividade cultural. Aqui, os usuários serão privados de mais uma opção de transporte. É assim que Brasília ferra o Brasil.

Reserva de mercado para o cinema nacional

Tem um mimimi rolando sobre o número de salas exibindo o mais novo filme da Marvel. Parece que são 80% das salas ou algo assim.

Fui tentar comprar para o meu filho ontem, domingo, para o próximo sábado (6 dias de antecedência, portanto), e só havia lugar carne-de-pescoço. Ele falou pra comprar assim mesmo, que ia assistir nem que fosse sentado no chão.

Vamos supor que houvesse uma lei impondo uma cota para filmes nacionais. Por exemplo, 50% das salas. Portanto, Vingadores somente poderia ocupar os outros 50%. Uma redução de 37,5%. O que aconteceria?

Provavelmente duas coisas:

1. O tempo de exibição de Vingadores seria aumentado em 60%, para compensar a redução e acolher todos os que desejam ver o filme. O efeito final seria o mesmo.

2. Os exibidores teriam prejuízo, pois provavelmente os restantes 50% permaneceriam vazios por mais tempo. Para compensar esse prejuízo, os preços dos ingressos provavelmente seriam majorados, o que diminuiria ainda mais o fluxo de visitantes nos cinemas para os filmes nacionais.

Então, meu conselho para os produtores e artistas do cinema nacional é o seguinte: aceitem a lei da oferta e demanda, dói menos. Qualquer tentativa de criar demanda artificial sempre tem consequências não intencionais que acabam prejudicando os próprios interessados.