Petistas estão surpresos com o “antipetismo” em MG, maior até do que em SP. Não deveriam.
Ao contrário de SP, o estado de MG foi governado pelo PT. Foi uma única vez, entre 2015 e 2018. Fernando Pimentel fez um governo tão desastroso, que conseguiu a façanha de ficar fora do 2o turno mesmo sendo o candidato incumbente.
SP não teve ainda o privilégio de ser governado pelo PT. Talvez por isso, Haddad apareça liderando as pesquisas no estado. O antipetismo paulista é, digamos, conceitual. Ainda não sentimos na pele, como os mineiros, o que é ser governado pelo PT na prática.
A julgar pelas pesquisas, os paulistas querem ter essa experiência, em uma espécie de masoquismo político. Quem sabe seja necessário mesmo, para que o antipetismo paulista evolua de uma teoria abstrata para a prática cotidiana. O sofrimento é o melhor professor, e os mineiros são prova viva disso.
Policiais de MG prometem greve porque o governador não cumpriu a promessa de reajuste salarial feita m 2019. Dois erros fazem um acerto? Não. Dois erros fazem dois erros. E a conta vai ser paga pela população.
Policiais não podem fazer greve. Isso é o que diz a lei, a mesma que os policiais dizem defender. No entanto, vamos deixar os policiais para o final e analisar a parte mais interessante dessa história, a atitude do governo Zema.
Em 2019, início de mandato, o governador Romeu Zema enfrentou uma manifestação de policiais pedindo reposição salarial desde 2015. A pedida era de 41%, e o neófito governador a concedeu em três parcelas, a primeira a ser paga naquele ano e as duas seguintes em 2020 e 2021. Apesar de terem sido aprovados pela Assembleia Legislativa, os reajustes de 2020 e 2021 foram vetados pelo governador. São estes reajustes que estão sendo reivindicados agora pela “categoria”.
Há vários erros combinados nessa história. O mais óbvio foi prometer algo contando com o ovo dentro da galinha. O ovo, no caso, era a entrada do estado no regime de recuperação fiscal (RRF) da União, o que permitiria liberar recursos para o pagamento do funcionalismo. Não ocorreu. E, mesmo que tivesse ocorrido, trata-se quase de uma contradição em termos, dado que o RRF exige uma contenção brutal de despesas do estado, o que contraria o desejo de conceder reajustes. Enfim, Zema perdeu a oportunidade de lidar corretamente com uma greve no primeiro ano de seu mandato e vai ter que lidar com uma no ano da campanha eleitoral.
O erro de Zema é apenas o mais óbvio e mais próximo, mas está longe de ser o mais importante. O atual governador herdou um estado calamitoso de contas, fruto da irresponsabilidade de governos anteriores que, como Zema, contaram com o ovo dentro da galinha para contratar e reajustar salários do funcionalismo estadual. No caso, o ovo do crescimento e da arrecadação de impostos. Até 2013 a coisa funcionou. A bicicleta perdeu velocidade em 2014 e capotou a partir de 2015.
Ao contrário da União, os estados não podem tomar dívida para pagar as suas contas. Isso nem sempre foi assim. Até meados da década de 90, os estados podiam emitir títulos de dívida, que eram compradas, na maior parte dos casos, pelos bancos estaduais. Era uma verdadeira máquina de imprimir dinheiro. Um dos pilares do plano Real foi justamente acabar com essa farra. Hoje, os estados são obrigados a viver exclusivamente com o dinheiro que arrecadam. Por isso você ouve falar de atrasos de salários para o funcionalismo estadual mas não para o federal. A União pode se endividar para pagar salários; os estados, não.
Dado que o funcionalismo tem estabilidade, as únicas duas formas de ajustar as contas em caso de queda da arrecadação é aumentar impostos ou deixar que a corrosão inflacionária diminua os salários reais. Como aumentar impostos é sempre impopular, adivinha qual a solução adotada. Ocorre que se trata de um arranjo instável. Basta ver a ameaça de greve dos policiais.
Sempre dou esse disclaimer quando escrevo sobre o funcionalismo público: não tenho absolutamente nada contra, pelo contrário, reconheço a importância do seu trabalho e tenho vários amigos que são funcionários públicos e trabalham com seriedade e retidão. O problema é que a empresa onde trabalham, o governo brasileiro, está quebrada e endividada. A forma clássica de fazer o ajuste é conceder reajustes com uma mão e tirar com a outra, através da inflação. O não reajuste de salários é justamente isso. Mas essa “solução” tem um efeito colateral: a inflação afeta também o povo que não é funcionário público, e precisa rebolar para pagar as contas estando desempregados ou em sub-empregos.
Os policiais de MG farão uma greve ilegal contra uma promessa não cumprida do governador, por ser inexequível. Dois erros não fazem um acerto. E, como sempre, é a população que pagará pelos dois erros.
Aécio Neves perdeu em MG para Dilma Rousseff em 2014. Foi eleito deputado federal em 2018 com a 19a votação do Estado.
O PSDB foi o partido que mais realizou privatizações na história do País. Qual a lógica de retirar o partido da base de apoio do Novo, que tem basicamente a mesma agenda? Existem duas explicações.
Primeiro, a explicação programática. O PSDB foi empurrado pelo PT para a direita do espectro político, contra a vontade de seus caciques tradicionais. É notório o esforço para disputar o eleitor do PT com um discurso “social”, razão pela qual perdeu 4 eleições seguidas. A vitória da direita é a oportunidade para vincar as diferenças e colocar-se no conforto do campo da esquerda. Doria, por outro lado, vislumbra a avenida de oportunidade à direita do espectro político, representado por não-partidos como o PSL, partidos nanicos como o Novo ou partidos ligados ao Centrão, como o DEM. Na visão de Doria, o PSDB pode fazer o contraponto ao PT, agregando a direita em um partido verdadeiramente nacional.
A segunda explicação é fisiológica: Aécio é um cacique em busca de sobrevivência política. O discurso de não “atrelar-se” a um partido nanico vai na linha de manter a “história” do PSDB, onde os velhos caciques ainda mandam e desmandam. O que Aécio e os outros caciques da velha guarda ainda não perceberam (ou fingem não perceber) é que o “velho” PSDB foi dizimado nas urnas. Apegar-se ao passado só interessa a essas velhas figurinhas carimbadas.
Romeu Zema foi o único governador eleito pelo Novo. Ao ser perguntado sobre a privatização da Cemig e de outras estatais de Minas Gerais, respondeu com o que vai abaixo. Ciro Gomes não responderia outra coisa.
Começa a ficar claro porque Gustavo Franco não topou ser o secretário de Finanças de Zema. Se esta for a vitrine do Novo, receio que o partido terá problemas.
O Novo fez uma campanha linda. Elegeu 8 deputados federais, 12 estatuais e Amoêdo chegou em 5o lugar. Acho que teria o dobro de votos não fosse o voto útil.
Mas não vamos nos iludir: o futuro governador de Minas só está nessa posição por conta de seu apoio a Bolsonaro. Se dependesse apenas do Novo, seria mais um Chequer da vida.
Zema foi votar de amarelo, não de laranja. Por isso está no 2o turno.