A concessão do CT da Barra Funda para o São Paulo Futebol Clube foi prorrogada por mais 40 anos em troca da construção de duas creches na cidade. A notícia está aí abaixo. Desafio alguém a encontrar menção a algum valor em moeda corrente brasileira, o real.
Não foi um problema só da reportagem do Estadão. Procurei bastante nas matérias a respeito do evento e nenhuma menciona valores. A coisa se passa como uma festa de amigo secreto, uma troca de presentes: eu dou um terreno de 40 mil m2 por 40 anos em área cada vez mais nobre da cidade e você me dá duas creches. Como sabemos, é de muito mal tom falar em valores em festas de amigo secreto. Dar um envelope com dinheiro, então, chega a ser uma canalhice.
Mas como não se trata de amigo secreto, vamos falar de números. Um terreno desse tamanho na Barra Funda, local de grande especulação imobiliária atualmente, deve estar valendo, por baixo, uns R$ 800 milhões (R$ 20 mil o m2). Considerando uma taxa de aluguel de módicos 3% ao ano, teríamos um valor de aluguel de R$ 24 milhões ao ano, ou R$ 2 milhões ao mês. Por outro lado, não faço ideia de quanto custa uma creche, mas certamente vale menos do que esse aluguel. Estamos diante daqueles amigos secretos em que um dos lados foi o trouxa que comprou o presente mais caro. Adivinha quem foi o otário?
Claro que o prefeito, qualquer que seja ele, não vai querer se indispor com uma parte relevante da torcida paulistana (pelo que me consta, há também uma concessão para o Palmeiras, que só termina na década de 70). Muitos desses torcedores são pobres e se beneficiariam pessoalmente se esse dinheiro fosse usado com mais sabedoria. Mas como ninguém faz conta, fica a ilusão de que os cidadãos estão “ganhando” duas vezes, ao permitir que seu time de coração tenha condições de treinar decentemente e, de quebra, ter duas creches construídas em regiões carentes da cidade. Assim é se assim lhe parece.