Mundo à parte

Estava eu pesquisando um restaurante em Quioto, Japão, quando me deparei com um finíssimo, em que o menu começa na bagatela de 600 dólares a cabeça. Não é 600 Bolsos, é 600 Trumps. A 4,50 cada, faça a conta…

Mas, por incrível que pareça, não foi isso que me chamou mais a atenção.

Na página em que o site explica formas de acesso ao restaurante, há várias explicações de como se chega de… trem! Se você está em Tóquio, pegue tal e qual trem, se você está em Osaka, tal e qual trem, se você está na estação de Quioto, pegue tal trem, desça em tal estação e ande 5 minutos, etc.

Ou seja, o sujeito vai gastar quase 3.000 por cabeça em um jantar, e o pessoal acha a coisa mais natural do mundo que essa pessoa vá de trem até o restaurante.

O Japão é mesmo um mundo à parte.

O meio de transporte dos ricos

Lembro da primeira vez que estive no Japão, e me espantei quando soube que TODOS os funcionários do escritório da minha empresa, do presidente à secretaria, vinham para o trabalho de trem e metrô. Foi um choque cultural.

Um dos meus colegas de lá me perguntou como era o escritório no Brasil, se era bem localizado. Eu, todo orgulhoso, disse que sim, estava na esquina da Faria Lima com a JK, um dos pontos mais valorizados de São Paulo. Ao que ele replicou: “que bom, deve ter uma estação de metrô perto então”. Para ele, boa localização era estar perto de uma estação do metrô. Não, não era esse o caso, e nem existe o sonho de que seja nos próximos 20 anos.

Foi um evento determinante na minha vida. A partir de então, comecei a pensar no transporte coletivo como uma alternativa real de transporte, livrando-me, aos poucos, do preconceito que cerca esse modal. Afinal, a “elite” vai de carro, enquanto o “povão” vai de trem/metrô/ônibus. Mudei para perto do metrô, vendi meu carro, e hoje uso intensamente o transporte coletivo.

Pelo visto, não fui o único. As viagens de carro caíram 43% em São Paulo entre os mais endinheirados nos últimos 10 anos. Aos poucos, o transporte coletivo vai deixando de ser “coisa de pobre”.

Infelizmente, no entanto, o que ocorre é o inverso: o transporte coletivo é “coisa de rico”. Em uma cidade como São Paulo, o transporte coletivo é muito eficiente nas regiões centrais, mais ricas, mas é de uma ineficiência atroz nas periferias. Não à toa, as viagens de carro subiram mais de 70% entre as menores faixas de renda na mesma pesquisa. Ainda estamos muito distantes de sermos uma Tóquio em termos de serviço de trens e metrôs para as regiões mais distantes. Aqui, como em varias outras áreas, o poder público está a anos luz das necessidades dos mais pobres.