O turismo em um país disfuncional

Nesse fim de semana, com o objetivo de conduzir o workshop que mencionei em meu post anterior, tomei um voo da Azul que saía de Viracopos. Já de volta, indo em direção à saída, cruzo com um conjunto de armários, também conhecidos como “lockers”.

Em minha viagem ao Japão, há quase um ano, tive a oportunidade de usar muito esse tipo de facilidade. Indo de uma cidade para a outra, às vezes era mais conveniente deixar as malas nesses armários e depois buscá-las no final do dia. Havia dois tipos de lockers: um que funcionava com moedas de 100 ienes e outro, mais moderno, que funcionava com o mesmo cartão usado no transporte público. Nos lockers que funcionavam com moedas, havia sempre uma máquina que fazia o troco do lado: você colocava uma nota de 1.000 ienes e a máquina “cuspia” moedas de 100 ienes. Nas máquinas que funcionavam com cartão, obviamente isso não era necessário: havia uma telinha que dava as instruções em inglês, você introduzia o cartão e… pronto, porta liberada. Nesse último tipo de locker, nem chave havia, a porta era destrancada com o próprio cartão usado para trancar.

Essa foi minha experiência no Japão. O locker de Viracopos é diferente: você precisa comprar um “token” sabe-se lá aonde. Não há instrução alguma sobre como utilizar, a não ser um telefone da empresa que mantém aqueles armários. Fico imaginando um estrangeiro tentando usar o equipamento. Tive a mesma experiência no aeroporto Santos Dumont: você precisa comprar uma “ficha” em um guichê ao lado, com uma pessoa que, obviamente, não fala inglês. Detalhe: uma armário para uma mala grande no Japão custava 700 ienes, algo como 5 dólares. Em Viracopos, custava R$ 80. Faça a conta.

É comum a percepção de que o Brasil tem um imenso potencial turístico e tal e coisa. Não tem. O Brasil é tremendamente hostil ao turista. E não estou falando da violência, mas da burocracia e da falta de alguém se colocar no lugar do turista e se perguntar: como posso facilitar a sua vida? Quem já fez check in em hoteis lá fora e aqui sabe do que estou falando. Nem mesmo um cartão universal de transporte público temos disponível. Não se trata de uma questão de dinheiro, mas de planejamento.

É nos pequenos detalhes (como o do locker) que se dá a hospitalidade. Belezas naturais e um povo hospitaleiro estão longe de serem suficientes para agradar ao turista. O país precisa funcionar. E o Brasil é disfuncional, sem nem sequer notarmos como. A não ser quando vamos para um país que funciona.