A opção é o SUS

Saúde é um troço complicado no mundo inteiro. Nunca ninguém está satisfeito. Em qualquer pesquisa de opinião, a saúde sempre aparece como Top 3 entre as preocupações dos cidadãos e, normalmente, recebe avaliação negativa.

Sempre se aponta o modelo do país A, B ou C como ideal. Normalmente quem faz isso não vive nos países A, B ou C para experimentar na pele o tal sistema de saúde modelar. Por exemplo, sempre ouvi falar muito bem do sistema inglês de saúde, em contraposição ao americano, por exemplo. Até que assisti ao filme ”Eu, Daniel Blake”. Se você assistiu, sabe do que estou falando.

E por que isso acontece? Porque os seres humanos, apesar de desejarem viver eternamente, infelizmente morrem. Há um descompasso insanável entre desejo e realidade, que gostaríamos que fosse resolvido pelo sistema de saúde. Claro, racionalmente sabemos que isso não é possível. Mas quem disse que somos racionais quando se trata de nossa saúde? Neste caso, queremos tratamento premium pagando quantias módicas.

Essa já longa introdução vem servir como pano de fundo para que possamos analisar a reportagem principal de hoje do Estadão: “Reajuste dos planos de saúde na faixa acima de 59 anos pode superar os 40%”.

Estas são as letras grandes, aquelas que a maioria lê sem entrar no detalhe da notícia. Não conta, por exemplo, que o preço dos planos de saúde foram reduzidos em 9% em 2021, resultando em um reajuste de 6% no acumulado dos dois anos. Além, claro, de que colocar na manchete o reajuste por mudança de faixa etária, que sempre acontece e não é novidade, embute uma segunda intenção. E é isso que vamos analisar.

A reportagem, em si, é jornalisticamente correta. Ouve os dois lados e tals. O fato de ter virado manchete, no entanto, indica que existe um problema. Claro que um reajuste de 40% é um problema. A questão é como se “resolve” esse problema. Subliminarmente, resolve-se demonizando-se a saúde privada.

A ilustrar este ponto, temos um artigo de uma professora da UFRJ, Lígia Bahia.

Coincidentemente, em entrevista ao Valor de hoje, o candidato a governador do RJ, Marcelo Freixo, cita Lígia Bahia como uma das pessoas que poderiam fazer parte da sua equipe de governo. Portanto, a professora tem pedigree conhecido. Foi convidada a escrever uma análise já se sabendo o que iria escrever.

E a professora da UFRJ não decepcionou quem a convidou a ocupar o espaço do jornal. Defendeu que o melhor modelo é um que seja “solidário”. E, para isso, adivinha, é necessário que tudo “fique sob a responsabilidade do poder público”. A solução, portanto, seria um grande SUS.

Não deixa de ser irônico que os professores da UFRJ possam contar com convênios particulares. “SUS é um modelo ideal, mas gosto de pagar convênio particular porque rasgar dinheiro é meu passatempo preferido”.

Claro, sempre se pode dizer que o SUS não presta bons serviços porque não é adequadamente financiado. Bem, o orçamento do ministério da saúde para 2022 é de R$ 160 bilhões. Dividindo-se pela população que não tem plano de saúde (mais ou menos 170 milhões) resulta em um gasto per capita de mais ou menos R$ 950. Isso considerando todo mundo, pessoas de todas as idades. Um plano da Prevent Senior, voltado apenas para as pessoas mais idosas, custa mais ou menos isso, e provê um serviço alguns degraus acima do SUS. As pessoas, quando podem, assinam planos que custam R$ 500 para fugir do SUS. Pergunta: quanto mais dinheiro seria necessário para tornar o SUS uma opção tão boa quanto planos que custam R$ 500?

Para aqueles que acham que as operadoras ganham rios de dinheiro às custas da saúde do povo, normalmente sugiro a mesma coisa que aconselho quando as pessoas dizem que os bancos “lucram muito”: seja sócio. Compre ações dessas operadoras, e seja sócio desses lucros maravilhosos. Já aviso, no entanto, que quem tentou fazer isso não tem se dado bem ultimamente. Por exemplo, veja abaixo a rentabilidade das ações da Hapvida, uma das maiores operadoras de planos de saúde do país, comparada com a rentabilidade do Ibovespa nos mesmos períodos:

Hapvida: 2022: -35%; 1 ano: -58%; 3 anos: -7%

Ibovespa: 2022: +6%; 1 ano: -12%; 3 anos: 15%

Podemos observar que, talvez, as operadoras não estejam lucrando tanto assim.

Não tenho procuração das operadoras para defendê-las. São empresas que buscam lucro, que é a melhor forma (na verdade, a única forma) de continuarem oferecendo os seus serviços ao longo do tempo. E seus serviços são absolutamente necessários. Caso não fossem, não haveria compradores de planos de saúde. A demanda (inclusive dos professores da UFRJ) justifica a oferta. E a demanda só existe porque o SUS é uma solução capenga, que está longe de entregar aquilo que o #vivaosus promete.

Os serviços prestados pelos convênios particulares estão longe, muito longe, da perfeição. E como vimos logo no início, quando se trata de saúde, a perfeição estará sempre distante. Mas aqui se trata de entender quais as opções disponíveis, dado um determinado orçamento. Quem não está satisfeito, sempre pode contar com o SUS.

Deitado eternamente em projeto esplêndido

A UFRJ está planejando conceder prédios ociosos para arrecadar recursos.

O projeto está sendo elaborado há três anos.

TRÊS ANOS!

Se uma equipe em uma empresa privada levar três anos para elaborar um projeto qualquer, será demitida por absoluta incompetência. Não existe elaboração de projeto que leve três anos, com exceção, talvez, de colocar o homem em Marte. Uma simples concessão de um espaço público certamente não tem esse nível de complexidade.

Lembre-se disso sempre que você ouvir os professores, alunos e especialistas chorando a situação da UFRJ.

Autonomia universitária

What a surprise!

“Vai reduzir a autonomia universitária”, dizem os luminares que querem o dinheiro do contribuinte sem precisar prestar contas a ninguém.

Não tem jeito mesmo, o caso é de passar uma motoniveladora e salgar o lugar depois.

Prioridade zero

Trecho de reportagem do Globo deixa claro que o Museu Nacional nunca foi prioridade dentro da UFRJ.

“Os números deixam claro que a maior parte dos recursos da UFRJ são tomados por despesas obrigatórias (essencialmente folha de pagamento). Em 2017, por exemplo, elas consumiram 86,9% do Orçamento da instituição e chegaram a R$ 2,77 bilhões. Este ano, o montante será ainda maior: 87,5%, ou 2,78 bilhões.

Os técnicos do governo apontam, no entanto, que dentro dos recursos que sobram nas mãos da UFRJ, o Museu Nacional não foi uma prioridade. Ele ficou com 0,16% dos recursos livres em 2012; 0,22% em 2013; 0,19% em 2014; 0,1% em 2015; 0,11% em 2016 e 0,09% em 2017.”

Veja reportagem completa:

O culpado não foi a Lei Rouanet

Vejo muita revolta com o fato de que dinheiro da Lei Rouanet foi utilizado para eventos comerciais e nada foi para o finado Museu Nacional. A lista inclui shows da Claudia Leitte, Cirque du Soleil, filme sobre José Dirceu, poesias de Maria Betânia, Queermuseu, turnês de Luan Santana, Detonautas, Peppa Pig e por aí vai.

Quem me acompanha sabe que sou crítico feroz da Lei Rouanet. Subsidiar o Cirque du Soleil ou a Peppa Pig com o dinheiro dos desdentados é daquelas coisas que vão garantir aos seus responsáveis um círculo bastante apertado no inferno. Mas é preciso entender como funciona a Lei Rouanet para que se compreenda porque a Peppa Pig recebeu dinheiro e o Museu Nacional, não.

Grosso modo, a Lei Rouanet funciona da seguinte maneira: o dono do projeto precisa montar um case, preencher certos requisitos de um comitê do Ministério da Cultura, colocar o projeto debaixo do braço e sair na rua tentando convencer empresas a patrocinar o seu projeto em troca dos subsídios fiscais garantidos pela Lei Rouanet.

Note que, por mais que não custe nada para a empresa, ninguém quer associar seu nome a um projeto ruim. Analisar um projeto custa tempo dos responsáveis pelas áreas de Marketing e Finanças da empresa, que devem lidar com uma burocracia razoável. Então, os projetos são muito bem selecionados.

Agora, imaginem a cúpula da UFRJ desenvolvendo um projeto desse porte, com o grau de exigência das empresas privadas. Consta que, no projeto submetido ao BNDES, não havia sequer previsão de recursos para medidas de prevenção a incêndios! Tiveram os próprios técnicos do BNDES que completar o projeto com medida tão óbvia.

Mas a falta de competência técnica é o menor dos problemas. A grande questão, como já disse aqui, é a mentalidade. O PSOL tem ojeriza à iniciativa privada. Há uma desconfiança profunda em relação ao capital. E a Lei Rouanet tem como pressuposto básico a parceria entre artistas e empresas (usando o seu dinheiro, mas esse é só um detalhe que não vem ao caso aqui).

Como bons psolistas, provavelmente a cúpula da UFRJ não via com bons olhos submeter um projeto de renovação do Museu Nacional a empresas privadas. E, pior, mendigando patrocínio ao grande capital! Heresia das heresias! A saída via BNDES era mais aceitável, e foi a opção escolhida.

Portanto, não cabem as comparações entre os projetos da Lei Rouanet e o Museu Nacional, como se o comitê do Ministério da Cultura preferisse a Peppa Pig em relação a Luzia. Quem preferiu a destruição do Museu a pedir dinheiro a empresas foi a cúpula da UFRJ. Essa ojeriza ao capital privado custou 200 anos de história.

Descobriram a restrição orçamentária

23:59 Porque esse teto de gastos é um crime, não vai ter dinheiro pra saúde, pra educação

00:00 Porque vocês precisam entender como funciona um orçamento. A UFRJ não tinha dinheiro pra manutenção do Museu porque tinha outras despesas obrigatórias, como salários.

Bastou a batata do reitor do PSOL começar a assar, o pessoal começou a dar lição de restrição orçamentária.

Isso é tudo o que precisamos saber

Os recursos repassados para a UFRJ pelo governo Temer cresceram de 2015 para cá.

Os recursos repassados para o Museu Nacional pela cúpula da UFRJ, formada por filiados do PSOL, diminuíram de 2015 para cá.

Isso é tudo o que sabemos até o momento.

Como um plano para salvar o Museu Nacional fracassou

Dando continuidade ao assunto, leia a história de Israel Klabin e sua tentativa de arrumar um empréstimo de US$80 milhões do Banco Mundial para o Museu Nacional, e que esbarrou na negativa da então diretoria da UFRJ de abrir mão da governança do Museu:

Como já dissemos, ninguém é louco de dar dinheiro na mão dessa patota.

Nomenklatura

Ainda a Globo News.

Um dos “analistas” pergunta, indignado: “onde estão os mecenas brasileiros? Tantos museus lá fora são sustentados por milionários. Aqui preferem mandar o dinheiro para paraísos fiscais”.

Quero saber quem é o louco que vai entregar dinheiro na mão dessa nomenklatura que dirige a UFRJ.

Vítima de uma mentalidade

O Museu Nacional é de responsabilidade da UFRJ.

Meu amigo Marcelo Gerbassi mandou-me a lista dos responsáveis atuais pala UFRJ:

Reitor: ROBERTO LEHER – filiado ao PSOL;

Vice-reitora: DENISE FERNANDES LOPEZ – filiada ao PSOL;

Pró-reitor de graduação: EDUARDO GONCALVES – filiado ao PCB;

Pró-Reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças: ROBERTO ANTONIO GAMBINE MOREIRA – filiado ao PC DO B;

Pró-Reitora de Extensão: MARIA MELLO DE MALTA – filiada ao PSOL;

Pró-Reitor de Pessoal: AGNALDO FERNANDES – filiado ao PSOL;

Decano do CCJE: VITOR MARIO IORIO – filiado ao PSOL

Provavelmente, essas filiações partidárias não mudaram ao longo dos anos.

A mentalidade dessas pessoas é a seguinte: Cultura não é mercadoria. Portanto, é obrigação do Estado financiar a Cultura, através da arrecadação de impostos. Parcerias com a iniciativa privada estão fora de cogitação, para “manter a independência de interesses mercantilistas”.

Em 2010, a mesma UFRJ retomou o Canecão. Finalmente, a mais famosa casa de espetáculos do RJ estaria livre dos tais “interesses mercantilistas”. Hoje, o Canecão está em petição de miséria.

O Museu Nacional não foi vítima apenas da falta de dinheiro. Foi vítima, antes de tudo, de uma mentalidade. A mesma mentalidade que mantém o país refém da pobreza.