Mas não tem crise?

Já escrevi aqui sobre a reivindicação dos professores das universidades estaduais paulistas de poderem ganhar acima do teto constitucional, que é o salário do governador. Não vou aqui entrar no mérito da justeza da reivindicação. Meu ponto é apenas financeiro.

Leio estupefato, em reportagem no Valor de hoje, a afirmação dos docentes de que tal reajuste não afetará financeiramente as contas do Estado, pois o repasse continuará sendo o mesmo: 9,57% do ICMS.

Fiquei estupefato porque, para mim, as universidades paulistas estão em crise financeira, sem condições de tocar obras e, até, de pagar o 13o salário de servidores, conforme podemos observar nas manchetes abaixo.

Se estão em crise financeira, como arrumarão dinheiro para pagar aumentos salariais que sequer estavam previstos no orçamento???Agora, ficamos sabendo que a USP está trabalhando com superávit, e que este reajuste deve poder ser pago com o orçamento já aprovado de 2020. O mesmo deve estar acontecendo com as outras duas universidades, pois não se fala mais em “crise financeira”.

Então, fica aí a lição: quando você ouvir falar em “crise financeira” das universidades, saiba que é fake news. Quando interessa, tem dinheiro sobrando.

O Brasil é uma grande Unesp

Um terço da folha de pagamentos da Unesp vai para pagar os aposentados e pensionistas. Isso significa mais ou menos 30% da receita da universidade, pois a folha de pagamento consome cerca de 92% dos recursos disponíveis.

Agora, imagine que o Brasil é uma grande Unesp. Mais ou menos 50% da receita do Brasil vai para pagar aposentados e pensionistas. Na Unesp são 30%, e eles já não estão pagando o 13o.

A diferença é que o Brasil consegue emitir dívida para pagar as aposentadorias. Pelo menos, enquanto os credores continuam a acreditar que alguma coisa será feita para estabilizar e reverter esses números. Quando essa confiança acabar, só restarão duas alternativas: calote ou inflação. Além, claro, de deixar de pagar as aposentadorias.