Qual a diferença entre Evo e Maduro?

Por que Evo aceitou renunciar após somente alguns dias de protestos, enquanto Maduro continua firme e forte à frente do governo venezuelano?

A resposta parece simples: Evo perdeu o apoio do exército, enquanto Maduro não só tem o apoio das Forças Armadas como controla forças paramilitares. Estas são até piores, pela sua capilaridade.

Evo está pagando o preço de não ter montado um Estado policial. A tecnologia, típica de Estados totalitários, foi importada de Cuba, e tem como objetivo tocar o terror naqueles que são contra o regime. Precisa ter coragem para se juntar a manifestações contra o governo, sabendo que seu vizinho pode denunciá-lo à polícia do regime.

Maduro não seguirá o rumo de Evo, a não ser que a Venezuela receba uma “ajudinha” externa.

O vexame foi dos “analistas”

Bem, ontem o Brasil foi eleito para o Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Há coisa de dois meses, escrevi um post comentando uma reportagem (logo abaixo) que colocava em dúvida as chances do Brasil nessa eleição. Segundo “círculos da ONU”, a Venezuela estava tranquila e o Brasil poderia ter menos votos do que o país que mantém presos políticos e passa com tanques sobre manifestantes nas ruas. Seria um vexame.

Anteontem, baixou o “pânico”: a Costa Rica havia se candidatado para ser uma alternativa à Venezuela, mas poderia acabar roubando a vaga do Brasil.

Resultados apurados, o Brasil ganhou a indicação de lavada. Poderia ser ainda maior, não fosse a entrada da Costa Rica na última hora. Não que seja motivo de orgulho: afinal, um Conselho de Direitos Humanos que tem a Venezuela como membro (que vai substituir Cuba!) não é que vá defender os direitos humanos, não é mesmo? Mas, pelo menos serviu para mostrar que o jornalismo local precisa escolher outros “círculos da ONU” para se informar sobre o que anda acontecendo pelas bandas de Nova York.

Não entro em clube que me aceita como sócio

Bem, só o fato da Venezuela (a Venezuela!) poder pleitear uma vaga no Conselho de Direitos Humanos, sendo apoiada por Rússia (!), China (!) e países árabes (!) já demonstra a contradição em termos dessa comissão da ONU.

A possibilidade do Brasil não ser aprovado para esse órgão me faz lembrar Groucho Marx, quando declinou convite para participar de um clube muito exclusivo: “não entro em clube que me aceita como sócio”. No caso, será uma honra não ser convidado.

A nova Havana

Ontem, em programa na rádio Bandeirantes, a jornalista Mônica Bergamo contou que viu menos miséria nas ruas de Caracas do que na cidade de São Paulo.

Caracas é a nova Havana da esquerda caviar.

Queda livre

Esse trecho do artigo de Lourival Sant’Anna hoje, no Estadão, me faz lembrar a piada do sujeito que se joga do 20o andar e, à altura do 5o andar, alguém abre a janela e lhe pergunta se está tudo bem. No que ele responde: “o vento está um pouco forte, mas por enquanto tudo bem”.

A dupla Chavez-Maduro está no poder há 20 anos, contra 12 anos da dupla Nestor-Cristina Kirchner e 13 anos da dupla Lula-Dilma. Brasil e Argentina estavam no 5o andar de suas respectivas quedas quando foram resgatados. Alguém tem dúvida do que aconteceria com mais 7 anos de governo do PT?

Obviamente o ponto inicial tem influência na análise. Enquanto no Brasil o governo Lula pegou um país com a casa relativamente em ordem, Nestor Kirchner pegou uma Argentina em frangalhos, levada por um sistema cambial fixo insustentável. Aqui no Brasil, FHC foi forçado a abandonar o câmbio fixo em 99, o que ajudou muito a absorver choques externos. Então, talvez o Brasil tivesse começado a cair do 30o andar, não do 20o, e estava à altura do 15o andar quando Dilma caiu. Mas era só uma questão de tempo.

Prova disso é que durou menos de um ano a tentativa de Dilma Rousseff dar um cavalo de pau ortodoxo em sua política econômica, com a indicação de Joaquim Levy para o ministério da Fazenda. Pressionada pelo populismo inerente ao seu partido, trocou Joaquim mãos-de-tesoura por Nelson Barbosa, o mais psdebista dos petistas. Era só uma questão de tempo para que um Belluzo ou um Bresser Pereira fossem convocados para a inglória tarefa de tentar interromper a queda.

A Venezuela é o exemplo acabado de como políticas ruins destroem uma economia. Não é uma questão de SE, como faz supor o artigo de Lourival Sant’Anna, mas de QUANDO o país se espatifa no chão. E nem esse impacto garante que a queda tenha um fim: é sempre possível se jogar para dentro de um poço. Que os venezuelanos o digam.

Lógica incompreensível

O território da Venezuela situa-se sobre as maiores reservas de petróleo do mundo. Maiores até do que as dos países do Oriente Médio. Mas falta gasolina nos postos de Caracas.

As gigantescas reservas de petróleo da Venezuela são comumente associadas à cobiça dos EUA, e motivo último de seus interesses sobre a região. Segundo a narrativa esquerdo-debiloide, os estadunidenses estariam interessados em implantar ali um governo-fantoche de modo a controlar as reservas. Por isso, estão estrangulando o regime chavista com um bloqueio econômico que está deixando à míngua a pobre população venezuelana.

A coisa não tem a mínima lógica. Senão, vejamos.

Apesar de estar sentada sobre as maiores reservas do mundo, as bombas de gasolina estão vazias. Por que? Ora, petróleo não é gasolina. É preciso encontrá-lo, tirá-lo da terra e refina-lo, em um processo industrial complexo, para que o ouro negro tenha alguma serventia. Caso contrário, só servirá para sujar as mãos de presidentes populistas em ridículas campanhas de “o petróleo é nosso”.

Pois bem. Para prospectar, extrair e refinar petróleo, são necessários capitais de risco. Como toda atividade econômica, a indústria de petróleo envolve riscos. Risco de encontrar poços vazios, risco da queda da produtividade de poços já funcionando, risco da demanda por combustíveis fósseis, risco do preço do petróleo no mercado internacional. Roberto Campos dizia que era uma imbecilidade colocar em risco o dinheiro dos impostos pagos pelos cidadãos em uma atividade que poderia muito bem ser financiada por capitalistas de risco. Mas enfim, essa foi a opção na maioria dos países. Em países desenvolvidos, como a Noruega, o dinheiro do petróleo foi usado para fazer uma poupança de longo prazo. Nos países cucarachos, foi gasto em uma orgia populista até o país quebrar, como foi o caso da Venezuela.

Como dizia então, para que o petróleo saia do solo e chegue aos tanques de combustível são necessários capitais. Capitais esses que, em um regime capitalista, estão nas mãos dos capitalistas de risco. Já em um regime socialista, os capitais têm origem nos impostos pagos pelos cidadãos. Ocorre que, como sobejamente sabido, os capitalistas são muito mais competentes no uso de seu próprio capital do que o Estado no uso dos impostos. Sem contar a corrupção do sistema.

Bem, a Venezuela optou por um regime socialista, e o petróleo é deles. Ao mesmo tempo, os chavistas culpam o bloqueio econômico duzamericanu pela situação de penúria do país, inclusive pela falta de gasolina. Ora, se os capitais estadunidenses não são bem-vindos, por que reclamar do bloqueio? O Estado venezuelano não teria capitais suficientes para produzir sua própria gasolina? Aqui reside a falta de lógica da argumentação esquerdista: ao mesmo tempo que rechaça o capital dos capitalistas, aponta o bloqueio econômico como fator fundamental para a penúria em que o país vive, ao não deixar entrar o capital que não é bem-vindo pelos venezuelanos. Vai entender! (Não vou aqui nem entrar no mérito dos capitais chineses que vêm sustentando a ditadura chavista. Afinal, imperialistas são os EUA).

Eu sei que tentar extrair alguma lógica de narrativa esquerdista é uma tarefa complexa. Mas não desistirei, continuarei tentando.

Escassez fabricada

Na Venezuela, não se encontra o pão tabelado. Isso significa que os donos de padaria são gananciosos? Não. Significa apenas que os donos de padaria não são obrigados a abrir as portas para gerar prejuízo para si mesmos.

Quem tem menos de 40 anos não se lembra, mas vivemos isso no Plano Cruzado. Os venezuelanos (e agora os argentinos) ganhariam muito em estudar esse período da história econômica brasileira.

Estava tudo indo muito bem

Estava tudo bem no Brasil, com o governo promovendo políticas de bem-estar para o povo. Aí veio o golpe de direita e depôs Dilma, jogando o país no caos econômico.

Estava tudo bem na Venezuela, com o governo promovendo políticas de bem-estar para o povo. Aí vieram as sanções dos EUA, jogando o país no caos econômico.

O PT continua se esforçando para não nos deixar esquecer porque não pode voltar ao poder.

A nova PDVSA?

Muitos não entendem porque a Petrobras precisa praticar preços internacionais, quando somos autossuficientes em petróleo e o nosso custo de extração é menor do que a média mundial.

Digamos que essas premissas sejam verdadeiras (autossuficiência e preços de extração menores). Mesmo assim, os preços praticados deveriam ser os internacionais. Vejamos.

Em primeiro lugar, não consumimos petróleo, mas sim, derivados de petróleo. E nossas refinarias não são capazes de produzir todo o diesel que consumimos. Sendo assim, precisamos importar diesel. Hoje, com um prejuízo de R$0,14 por litro, conforme a associação dos pequenos importadores. Esse prejuízo está sendo bancado pela Petrobras.

Ah, então seria o caso de construir capacidade de refino, para poder atender o mercado interno sem precisar recorrer a importações.

Só que não. Aqui entra o conceito de “commodity”. Digamos que o Brasil praticasse consistentemente preços de diesel abaixo da paridade internacional. Parece óbvio que tradings iriam se aproveitar dessa distorção, exportando diesel para o mercado global. O Brasil se tornaria o maior exportador de diesel do mundo, enquanto faltaria diesel para o mercado interno. Claro que se poderia proibir a exportação de diesel, mas aí estaríamos empilhando uma intervenção sobre a outra, aumentando a ineficiência do sistema.

A Venezuela fez isso durante anos. O estado lastimável da PDVSA, hoje, é fruto desse tipo de política. Um país que produzia 3,5 milhões de barris/dia, hoje produz menos de 1 milhão. Os venezuelanos também acham que “o petróleo é nosso”. Só que as maiores reservas de petróleo do mundo continuarão debaixo da terra enquanto não se respeitar regras básicas da teoria econômica. Queremos ser uma nova Venezuela?