Deu ruim

Quando você ouvir alguém do PT vociferar contra a reforma da Previdência, lembre-se que eles defendem esse “modelo econômico” que deu super certo na Venezuela. O Chile é que deu ruim.

O “verdadeiro” socialismo

Mujica condenando mais um regime de esquerda (no caso, o de Maduro) por não ter implementado o “verdadeiro socialismo”.

Gostaria sinceramente de saber a receita de como “socializar” sem antes “estatizar”. Mujica não nos brinda com nenhum exemplo de onde esse “socialismo utópico“ foi implantado com sucesso.

Mujica parece conhecer a diferença entre “socialismo utópico” e “socialismo na prática”. Por isso, ele continua sendo um utópico inofensivo. Porque enquanto o socialismo permanece preso aos livros, não faz mal a ninguém. O problema ocorre quando salta da teoria para a prática. A Venezuela é somente mais um exemplo.

A “verdadeira” Venezuela

De Boulle ataca novamente. Seu bode agora é a postura anti-Maduro do novo governo. Em artigo de hoje no Estadão, de Boulle afirma que “o uso constante do colapso venezuelano como arma ideológica é não apenas um equívoco, mas demonstração de profunda ignorância.”

De Boulle se propõe, então, a iluminar o dia com seu profundo conhecimento da Venezuela. Em suas próprias palavras, “são poucos os que realmente sabem alguma coisa da história da Venezuela”. Da forma como se apresenta, de Boulle se considera entre esses poucos.

Então, continuei a ler o artigo, de coração sinceramente aberto, para tentar compreender um pouco mais da história desse país tão pouco conhecido, e como o regime bolivariano tem pouco a ver com a atual situação de descalabro em que se encontra. Sim, porque, na visão de de Boulle, culpar o atual governo não é mais do que usar “espantalhos ideológicos”, sem um “entendimento sério de como o país chegou ao atual descalabro”.

Colei o artigo aqui para que vocês julguem com seu próprio discernimento se estou exagerando. O que se tem é um amontoado de fatos que parecem ter sido tirados da Wikipedia. Nada que possa sugerir alguma causa remota para a situação desesperadora atual.

No entanto, e foi isso o que me deixou perplexo com o artigo, a autora termina o seu amontoado de informações desconexas com um “portanto”: “Portanto, para entender e opinar sobre a Venezuela, é preciso compreender o arco histórico”. Como se esse amontoado de informações de seu artigo fosse suficiente para provar alguma coisa. Qualquer coisa.

Mônica de Boulle não esconde de ninguém sua ojeriza pelo novo governo. Está no seu direito. O que não dá é falsear a realidade para conformá-la aos seus desejos. Esse artigo foi uma tentativa tosca de dissociar o “socialismo do século XXI” do descalabro que se tornou o nosso país vizinho, ao procurar encontrar raízes remotas no tal “arco histórico”. Sem dúvida, qualquer país é fruto de sua história e isso não é diferente para a Venezuela. Mas também não resta dúvida de que as decisões econômicas de Chávez/Maduro pioraram muito a situação do país. Isso é claro como a luz do dia para qualquer economista que não veja o governo Bolsonaro como um “espantalho ideológico”.

Protejam a rede de proteção

Um dos argumentos utilizados por apoiadores do PT é de que essa história de transformar o Brasil em uma Venezuela é completamente fora de propósito. O PT esteve 13 anos no poder e, aí vai o “argumento”, “não nos transformamos em uma Venezuela”.

Parece aquela piada do cara que cai do 10o andar de um prédio e, ao passar pelo 5o andar, alguém na janela lhe pergunta se está tudo bem. Ao que o homem responde: “tirando o vento na cara, por enquanto está tudo bem”.

A resposta é tão idiota quanto o “argumento” usado pelos petistas. O vento estava batendo nas nossas caras até o impeachment, mas para os petistas estava “tudo bem”.

Quais as evidências de que nos aproximávamos do solo?

– Assim como a PDVSA, a Petrobras foi usada para implementar políticas desenvolvimentistas e para fazer populismo tarifário. Claro, a PSVSA é muito mais importante para a economia da Venezuela do que a Petrobras é para o Brasil, mas mesmo assim o impacto foi relevante.

– Assim como na Venezuela, o governo Dilma adotou política econômica intervencionista, mexendo profundamente com o sistema de preços relativos e a confiança dos agentes econômicos. Eu diria que este é o fator, tomado isoladamente, mais importante para explicar a pior recessão da história brasileira.

– Assim como na Venezuela, as estatais e outros órgãos do governo foram aparelhados até a medula, tornando-se instrumentos do partido para a manutenção do poder.

– Assim como na PDVSA, a Petrobras foi usada para manter um esquema gigantesco de corrupção do sistema político.

– Assim como fez o chavismo na Venezuela, o PT tentou emplacar uma “constituinte” por meio de um plebiscito. Isso aconteceu como resposta às manifestações de 2013, uma das 5 medidas propostas pelo governo para “dar uma resposta às ruas”. Não custa lembrar que esta mesma ideia voltou no programa de governo do PT deste ano e foi espertamente retirada por Haddad.

– O governo Dilma tentou emplacar uns tais “conselhos populares”, em que decisões importantes de governo passariam pelo crivo popular. Uma forma de driblar o Congresso.

– A exemplo da Venezuela, está ainda no programa do PT uma tal “regulação econômica da mídia”. Juram que é só para acabar com os monopólios. Ok, acreditamos.

Sim, é verdade que não nos transformamos em uma Venezuela nos 13 anos do PT. Mas isso só não aconteceu porque as instituições brasileiras, a imprensa livre e o povo nas ruas estendeu uma rede de proteção, impedindo a continuidade da queda.

Não se engane: o que o PT quer fazer agora é retirar a rede de proteção.

É fácil chegar lá

O FMI estima que a inflação na Venezuela atingirá 10.000.000% em 2019.

O ser humano tem dificuldade de entender números muito grandes. Esse número de 10 milhões obviamente impressiona, mas não fazemos ideia do que realmente significa. Vou procurar explicar.

Dez milhões porcento ao ano significa uma inflação diária (dias corridos, considerando sábados, domingos e feriados) de 3,2%. Para comparação, a inflação brasileira ANUAL está em 4%. Ou seja, em apenas um dia, os preços na Venezuela sobem quase o equivalente ao que sobem os preços no Brasil em um ano.

Uma outra forma de ver a coisa: 10.000.000% de inflação significa que os preços dobram a cada 3 semanas.

Para 2018, o FMI estima a inflação em “apenas” 1.350.000%, ou 2,64% ao dia. Isto significa que os preços dobram a cada mês.

Claro que essas estimativas não significam nada. O sistema de preços deixou de existir na Venezuela. Se em países “normais” já é difícil medir a inflação, imagine nesse caos em que se tornou a república bolivariana.

Muitos podem se perguntar: mas como conseguiram chegar a isso? É mais simples do que parece. Basta seguir a cartilha bolivariana para a economia: usar o balanço do governo e das estatais para induzir crescimento, subsidiar preços, subordinar a política econômica às necessidades políticas do partido.

Se quiser o detalhamento desse roteiro, dá uma olhada no programa de governo do PT. Está tudo explicadinho lá.

Escolhendo o menos pior

Passei férias em Buenos Aires em janeiro de 2014. Alguns lugares aceitavam o real, ao câmbio de 4 para 1. Ou seja, um real comprava 4 pesos.

Ontem, esse mesmo câmbio fechou em 9 para 1. Hoje, um real compra 9 pesos.

E lembre-se, o real também se desvalorizou muito nesse período em relação ao dólar. Mas o peso argentino se desvalorizou muito mais.

Não por coincidência, Argentina e Venezuela são os dois países com as finanças mais em frangalhos na América do Sul. Anos e anos de políticas populistas, aquelas baseadas na premissa Unicampiana de que basta estimular a demanda para o país crescer, resultou em uma inflação estratosférica e na corrida contra a moeda. O dinheiro para estimular a demanda simplesmente acabou.

Brasil, Equador e Bolívia, apesar de fazerem parte do “circuito bolivariano” por muitos anos, não chegaram a este ponto. Lula, Correa e Evo tiveram a esperteza de se elegerem com um discurso de esquerda e governarem a economia com práticas de direita. Os três países estão longe de serem economias exemplares, mas não chegam perto de Argentina e, principalmente, Venezuela.

Dilma estava nos levando para o mesmo caminho. Ela de fato acreditava que a mão forte do Estado era fundamental para fazer a roda da economia girar. O país percebeu que a vaca estava indo para o mesmo brejo onde já estavam os dois países-irmãos, e resolveu impicha-la antes. Temer pode ter todos os defeitos do mundo, mas é preciso reconhecer que, com ele, aquela trajetória foi, ao menos, interrompida.

Agora temos uma eleição. É preciso distinguir, dentre os candidatos, aqueles que retomariam o caminho para o desastre. Considerando os que têm chance de vitória, Haddad e Ciro vestem esse figurino. Seus programas de governo são populistas na área econômica, e têm a fé no Estado como indutor do crescimento econômico como ponto em comum. O risco é que, tanto um quanto o outro, realmente acreditam nisso, assim como Dilma acreditava. É difícil encontrar um candidato que bata 100% com nossas preferências. Em uma eleição majoritária, é preciso, muitas vezes, votar no menos pior. Antes de votar, vou dar uma olhada na Venezuela e na Argentina. E vou procurar votar de forma a diminuir as chances de que o Brasil retome o mesmo caminho.

Por que os venezuelanos não conseguem ajuda?

O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (não consigo ler esse nome sem pensar nos comissariados da Nomenklatura) está preocupado. Afinal, não consegue arrecadar dinheiro para ajudar os refugiados venezuelanos, apesar de, dizem, já serem em maior número do que os refugiados sírios.

Talvez o Alto Comissariado devesse rever o seu conceito de “refugiado” para entender o que está acontecendo.

Refugiado é alguém que escapa de uma tragédia infligida por terceiros. Uma guerra ou uma catástrofe natural são os típicos exemplos de tragédia.

No caso da Síria, a guerra civil tomou proporções muito maiores do que simplesmente a luta entre facções internas. O que começou como um levante inspirado pela chamada “primavera árabe” em 2011, se transformou em um campo de batalha que envolve curdos, sunitas, xiitas, Estado Islâmico, Turquia, Hesbollah, Rússia, EUA, OTAN, Irã, Arábia Saudita, Qatar,… esqueci alguém? Várias guerras sendo travadas ao mesmo tempo por atores que se entrelaçam em um balé insano. No meio disso tudo, a população não engajada, que se torna refugiada.

E a Venezuela? Bem, a Venezuela não está em guerra civil. Há protestos como em qualquer lugar do mundo, mas longe de uma guerra civil. Também não houve uma catástrofe natural.

O que está acontecendo na Venezuela são simplesmente as consequências de uma gestão econômica patética, realizada por um governo democraticamente eleito. Ok, a essa altura do campeonato, não podemos mais chamar aquilo de democracia. Mas Chávez, e depois Maduro, chegaram aonde chegaram porque o povo assim o quis. Ainda hoje, há forte apoio popular ao governo, algo quase messiânico.

Então, por que alguém doaria dinheiro para um “refugiado” venezuelano? Poder-se-ia dizer que a situação dos venezuelanos é a mesma das crianças em uma família cujo pai é viciado em jogo e a mãe bebe. Essas crianças estão desamparadas e fogem de casa. Neste caso, as crianças não têm culpa, e devem ser ajudadas.

Mesmo que esse paralelo fosse verdadeiro, a primeira exigência de quem fosse ajudar seria retirar o pátrio poder do pai que joga e da mãe que bebe. Caso contrário, o fluxo de crianças desamparadas seria interminável. Qualquer ajuda seria como enxugar gelo. Sem a substituição do governo venezuelano, qualquer ajuda significa desperdício de recursos.

Além disso, os venezuelanos não são crianças. O povo venezuelano construiu sua própria sorte, por ação, conivência ou omissão. Hoje estão colhendo os frutos de suas próprias escolhas, não há ninguém externo a se culpar, ao contrário da Síria. No Brasil, os cidadãos, ao notarem que estavam indo pelo mesmo caminho, derrubaram do governo o partido amigo de Chávez e Maduro.

Mas talvez o Alto Comissariado da ONU não esteja preparado para admitir que a crise venezuelana seja fruto do socialismo bolivariano do século XXI. E vai continuar procurando os motivos para as baixas doações nos lugares errados.

O governo bananeiro brasileiro

Digamos que eu seja um cara violento. Que eu bata na minha mulher todo dia.

Aí, um dia, minha mulher se cansa de apanhar e sai de casa, pedindo refúgio na casa do meu irmão.

Acontece que tem pouca comida na casa do meu irmão, e minha mulher é mais uma boca para alimentar. Minha mulher começa a se envolver em brigas, e apanha lá também.

Aí, eu me encho de brios, e peço satisfações ao meu irmão: “Não pode bater na minha mulher desse jeito!”

Ao que meu irmão reponde, com lógica cristalina: “Então leva tua mulher de volta pra tua casa e para de bater nela!”

O que responde o governo bananeiro brasileiro?