As várias faces do Bolívar

Ontem, uma reforma monetária cortou 5 zeros da moeda venezuelana, dando origem ao “Bolívar Soberano”.

O “Bolívar Soberano” sucede ao “Bolívar Forte”, moeda criada após outra reforma monetária, feita por Chávez em 2008, que cortou 3 zeros da moeda venezuelana.

Com o objetivo de ajudar a autoridade monetária venezuelana a controlar a inflação na república bolivariana, sugiro a seguir alguns nomes para o Bolívar nas próximas reformas monetárias:

  • Bolívar Super-Poderoso
  • Bolívar Todo-Poderoso
  • Bolívar Invencível
  • Bolívar Transformer
  • Bolívar Fodão do Bairro Peixoto
  • Bolívar Chuck Norris

Mais alguma ideia?

Acabando com o mercado paralelo

O governo de Maduro vai abrir 300 casas de câmbio no país, para acabar com o mercado paralelo. A cotação da moeda será definida em leilões 3 vezes por semana, o que é muito adequado, dado que os venezuelanos só se alimentam 3 vezes por semana também.

O “erro” do PT

A “confissão” da estudante de filô não poderia ser mais clara: o PT não precisaria agir da forma que agiu se não tentasse se perpetuar no poder em um sistema capitalista, gerando “contradições”. Por “sistema capitalista” entenda-se judiciário não aparelhado e imprensa livre.

Para aqueles que, como FHC, acham Haddad um bom moço, um “quadro moderado” dentro do PT, não custa lembrar que esse partido não joga o jogo democrático. Uma vez no poder, toma conta das instituições com o objetivo de transformá-las em servidoras de seu projeto. Para quem não sabe qual é esse projeto, basta dar uma olhada na Venezuela.

Visionária

Quando li Atlas Shrugged, de Ayn Rand, achava aquela estória dos empregados mais talentosos desaparecerem sem deixar vestígios de um realismo fantástico meio exagerado.

Na verdade, Ayn Rand foi uma visionária.

Pobre América Latina

O Estadão traz a história do pedreiro Juan Rudá, que se senta diante de uma obra o dia inteiro, na esperança de ser contratado.

“Rudá deve votar em Maduro”, diz a reportagem. Para Rudá, a situação da Venezuela é fruto de uma conspiração entre EUA e os atravessadores locais. A família de Rudá vive das esmolas dadas pelo governo chavista.

Rudá vai votar em Maduro, apesar de tudo! Em qualquer país normal, um governo que gerasse uma recessão de metade do PIB em 4 anos seria escorraçado. Na verdade, em qualquer país normal, um governo que tivesse gerado 8% de recessão em dois anos seria escorraçado. No entanto, vemos Lula líder nas pesquisas de intenção de voto!

A tragédia latino-americana não poderia estar melhor descrita. A mistificação ideológica faz com que erros grosseiros de condução macro e microeconômicas se tornem peças de resistência ao imperialismo, que supostamente reage à perda de sua influência por meio de boicotes que geram recessões brutais.

A aliança de uma elite intelectual bocó, que vê imperialismo debaixo da cama, com o interesse de corporações corruptas e com a ignorância do povo fazem o caldo de cultura perfeito para o voto em tipos como Maduro e Lula. Pobre América Latina.

A inflação não está morta

A inflação da Argentina em abril foi de 2,7%. Coincidentemente, a mesma inflação anual do Brasil e a mesma inflação a cada dois dias da Venezuela (segundo estimativas do FMI).

Recentemente, em conversa com um dirigente de um banco, comentando sobre a inflação na Argentina, ele me disse: “não existe isso de inflação estável em 20% ao ano. Ou a inflação está subindo deste patamar, e então é explosiva, ou está caindo para níveis civilizados. 20% não é e nunca será uma inflação estável.”

Eu diria que 6% ao ano já não é estável. Neste patamar os agentes já começam a se proteger de uma inflação futura maior, gerando uma inércia difícil de parar. Não existe isso de “um pouco mais de inflação para gerar um pouco mais de crescimento”. Inflação nunca permitiu crescimento sustentável. Pode ter algum efeito de curto prazo, pelas condições monetárias mais frouxas, mas o efeito de longo prazo é deletério. Basta ver a brutal recessão da qual estamos saindo, mesmo com uma inflação de 6% ao longo de todo o governo Dilma, e de 11% em seu último ano.

A inflação desorganiza a economia. Tira a capacidade de planejamento das empresas e das famílias, que passam a olhar apenas o curto prazo. Hoje estamos em situação muito melhor que Argentina e Venezuela, mas isto é circunstancial. O flerte de boa parte dos candidatos à presidência com práticas não ortodoxas não permite pensar que nosso passado inflacionário ficou definitivamente para trás. Se o Estado brasileiro, aos olhos dos credores, perder a capacidade de pagar a sua dívida, só restará a inflação como remédio.

A moeda de um país é a medida de sua seriedade. O Brasil, apesar de tudo, tem hoje uma moeda que preserva seu valor ao longo do tempo. Espero que não coloquemos essa conquista a perder nas próximas eleições.