Entrevista com o superintendente geral da fundação Amazônia Sustentável e membro da Pontifícia Academia de Ciências Sociais, assessorando em questões climáticas.
A última pergunta da entrevista me chamou a atenção. Não pela resposta, protocolar, mas pela pergunta em si. As empresas estariam preparadas para “abrir mão dos lucros” pela preservação da Amazônia?
Empresas não são seres autônomos, com poder próprio de decisão. Empresas são a forma através da qual as pessoas se organizam para gerar valor para a sociedade. Por trás das empresas existem pessoas, acionistas e funcionários. Os lucros remuneram os acionistas e os salários remuneram os funcionários. Ao propor a redução dos lucros, o jornalista está propondo a redução da remuneração dos acionistas. Estariam estes preparados para abrir mão de sua remuneração?
Por dever profissional, acompanho de perto a divulgação trimestral dos resultados das empresas. Um resultado abaixo das expectativas já é motivo para a queda do preço das ações da empresa. As ações caem não porque as empresas não estejam adotando iniciativas ESG. As ações caem porque os lucros caíram.
Isso é tão mais interessante quanto maior tem sido o frisson em torno do tema. Parecem dois mundos separados: um é o da agenda ESG, toda empresa querendo aparecer como o champion do tema. Outra, é o da geração de resultados de curto prazo. Os investidores juram fidelidade à primeira agenda, mas é a segunda que guia suas decisões de investimento. Não fosse assim, os preços das ações não reagiriam aos resultados trimestrais. Na verdade, não fosse assim, relatórios trimestrais de resultados seriam absolutamente dispensáveis.
Há uma lenda urbana que afirma que empresas comprometidas com o ESG têm melhores resultados no longo prazo. Pode até ser verdade. O problema, como dizia Keynes, é que no longo prazo estaremos todos mortos. Quem milita na área de investimentos sabe que os investidores adotam o discurso do “longo prazo” até sentirem a primeira perda no curto prazo. Aí, o longo prazo que se lasque, quero meu dinheiro de volta.
Fosse eu, ao responder a pergunta do jornalista, diria o seguinte: “o problema não são as empresas, o problema são os acionistas. Você investe em ações? Estaria disposto a abrir mão de rentabilidade e investir em empresas que não dão lucro?”. São os investidores que comandam as decisões das empresas. No dia em que um fundo de ações que rende mal atrair investidores pelos seus belos olhos ESG, vou começar a acreditar que essa agenda está avançando.