Post da página de Eden Wiedemann, alguém que aparentemente entende do riscado, não um chutador como eu.
Turminha, deixa o tio explicar umas coisas. Eu já trabalhei pro PT, algumas vezes, e contra o PT, algumas vezes. Sei como eles agem, pró e contra. Eu não voto no Bozo, mas jamais votaria no PT. Então vamos falar dessa tal denúncia de Caixa 2.
1. Se houver algum contrato de disparo de lado B assinado devem ir preso quem contratou e quem disparou, mas por burrice extrema. Quem faz esse tipo de serviço sabe que trata-se de crime eleitoral e faria de tudo pra não deixar registros.
2. O lado A de uma campanha digital a presidência custaria, bem pago, uns 8 milhões. Pra vocês terem uma ideia do que são 12 milhões nesse universo. 12 milhões de Reais daria pra gastar 2 milhões com produção de conteúdo (5x o valor necessário) e ainda disparar 1 bilhão de mensagens, ou seja, 5 para cada brasileiro. Não sei quanto a vocês, mas alguém recebeu 10, alguém ficou com as minhas.
3. Geralmente esse tipo de coisa é feita de números internacionais, mais difíceis de rastrear e mais fáceis de validar.
4. “Ah, mas eu recebi aqui de um número desconhecido, ele me manda há meses”. Meses? Semanas? Você está sendo vítima de seeding, gente que fica enviando mensagens no WhatsApp. Um número de disparo em massa é rapidamente bloqueado. Seeding não é crime, só é chato. Crime é quando alguém recebe pra fazer seeding e não aparece na declaração de contas do partido.
5. É bem complicado alegar que A ou B tem responsabilidade pelo que C ou D, sem vínculos oficiais com a campanha e sem ordens comprováveis, fizeram. Basta ver o caso do Piauí Gate onde “influencers” recebiam, dinheiro não declarado em campanha, para falar bem de candidatos ligados ao PT. Bastou esses candidatos dizerem que não sabiam de nada e não tinham autorizado pro assunto cair no esquecimento – mas está sendo investigado. Nesse ponto, mesmo que tenha acontecido – e não estou dizendo que não – é bem complicado provar e punir.
6. A matéria não apresentou uma única prova e fez suposições completamente erradas, como o custo do disparo. Nesse volume não custariam mais que 1 centavo, como já disse, e não 10 centavos, como disseram.
7. Tem que investigar mesmo se houve ou não e, se não, criticar severamente o jornalismo irresponsável. Houve? Dêem o Pulitzer a jornalista.
8. Não dá pra aplaudir Haddad dizendo que aconteceu Caixa 2 porque ele “leu em um jornal sério que aconteceu” quando ele mesmo, e o partido, são acusados de Caixa 2. Nem levar a sério alguém que diz que não existem provas contra Lula mas vê prova em matéria de jornal. Sejamos menos incoerentes e relativistas.
9. Ainda não consegui encontrar um único registro desses disparos para escrever um artigo. Apenas 5 pessoas disseram ter recebido (de minha rede), quatro delas são eleitores de Haddad, todos disseram ter apagado e não ter registro. Uma, que não vota em Haddad e nem em Bolsonaro, me mandou um print, mas completou com “faz semanas que recebo conteúdo desse número que não conheço”. Seeding? “Ah, mas eles disparavam pra grupos”, não, isso não é possível, não há base de dados de grupos e é impossível fazer spam pra eles sem fazer parte deles.
10. Eis que me refrescam a memória de que os disparos só iram acontecer semana que vem, oras, se não aconteceram de onde vem todo esse fake news que o PT alega estar o prejudicando? E se não aconteceu o crime como houve Caixa 2? E porque estão acusando empresários de um crime que não cometeram ainda? Não faz muito sentido, faz? Faz, não precisam do crime ou do fato em si, só do factoide para explorarem.
11. E, pra fechar, quem defende a democracia não pode defender tapetão. Vocês são melhores que “o fim justifica os meios”, né? Querendo ou não Bolsonaro está no segundo turno porque a população quer, se não houver de fato provas de que essa acusação é real não tem a menor coerência tentar impedir ou atrapalhar a eleição. Vamos acompanhar, se a coisa for seria a Folha deve publicar provas. Tenho todo interesse no caso.