A energia suja e nosso estilo de vida

Daniela Chiaretti é repórter especial do Valor. Hoje, ela escreve um artigo que termina com o parágrafo em anexo. Como diz um amigo meu, visto de longe parece uma bobagem. De perto, parece de longe.

Diz a articulista que os governos devem aceitar o que dizem os cientistas e cortar os gases de efeito estufa. Vamos por partes.

“Os governos” são formados por políticos eleitos. No dia em que “os governos” se elegerem com plataformas ambientalistas, esses governos agirão de acordo com essa pauta. Por enquanto isso não aconteceu. Mas não bastam promessas vagas, tipo Marina Silva. É preciso eleger-se contando a verdade: que, para cortar os gases de efeito estufa, é preciso virar de cabeça para baixo toda a matriz energética, adotando fontes limpas de energia que são muito mais caras (se fossem mais baratas não estaríamos conversando sobre isso). Inclusive, alguns desafios tecnológicos precisam ser vencidos, como por exemplo, a autonomia dos carros elétricos (que são muito mais caros que os carros a gasolina, diga-se de passagem). Fazer um avião voar com energia elétrica ou nuclear não é coisa para a nossa geração, para desespero da Greta.

O que os políticos precisarão dizer é que o nosso estilo de vida precisará ser radicalmente modificado. “Energia suja” está de tal forma imbricado com nosso estilo de vida, que um político que dissesse a verdade sobre os custos de cortar gases de efeito estufa jamais seria eleito. Não caia na historinha do “lobby da indústria do petróleo”. O lobby da indústria ambientalista é hoje muito mais forte. Mas, por mais que tentem, não conseguem mudar um fato da vida: o petróleo é, ainda hoje, a fonte de energia mais eficiente, e que permite que grande parte dos bens seja hoje acessível para os mais pobres. A China não é o país mais poluído do mundo à toa.

Por fim, “os governos deveriam ouvir os cientistas”. Não, os governos devem ouvir o povo. Os governantes precisam ponderar se os custos de diminuir os gases de efeito estufa não são maiores do que os de não diminuir (isso, dando como certo que a ação humana é a principal responsável pelo aquecimento global). Evitar eventos extremos, como os incêndios na Austrália, vale tornar o cotidiano das pessoas menos confortável, com um conforto a que nos acostumamos nas últimas décadas? Essa é a questão. Fariam bem a articulista e todas as Gretas do mundo que olhassem à volta e abrissem mão de tudo o que depende da indústria do petróleo em algum elo da cadeia de produção. Veriam o quão difícil é para “os governos” aceitarem o que dizem os cientistas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.