Os problemas profundos do Future-se

A professora de extenso currículo começa o seu artigo de hoje no Estadão afirmando que o programa Future-se tem “problemas profundos”. Fiquei genuinamente curioso para saber quais seriam esses problemas. Fui ler.

Mais ou menos um terço do artigo refere-se a uma suposta “perda de autonomia universitária”. Na verdade, apenas um parágrafo relaciona o Future-se a este problema, e mesmo assim de maneira ininteligível (trecho acima). Por que a não determinação do tamanho do incentivo feriria de alguma maneira a autonomia? Podemos discutir se a quantificação do incentivo deveria estar ou não na lei, mas daí a afirmar que a falta dessa quantificação fere a autonomia universitária vai um salto lógico que me escapa. Depois disso, a autora continua sua peroração contra o “desmonte da autonomia universitária”, mas citando outras decisões do governo Bolsonaro que não tem nada a ver com o Future-se.

Minha esperança renasce no começo do 2o terço do artigo, quando enfim a autora vai descrever “o intuito privatizante” da proposta, em que o governo deixa claro o seu objetivo de “se descomprometer do financiamento público”. Achei que era algo bombástico, tipo cobrar mensalidade de aluno que pode pagar. Infelizmente não. Trata-se da prosaica possibilidade (veja, não obrigação, mas possibilidade) da universidade licenciar a sua marca em objetos de consumo, tipo moletons e canecas. “Naming Rights” que chama. A professora de extenso currículo gasta dois terços de seu espaço para desancar algo que nem obrigatório é, além de ser absolutamente marginal em relação ao projeto como um todo. Ocorre que se trata de “mercantilizar” a marca, e funcionários públicos acostumados a receber seu salário pago com o dinheiro dos impostos dos desdentados não conseguem entender isso. Por isso, este seria o “problema profundo” do projeto.

Confesso que não li o projeto Future-se. Aproveito esses artigos que aparecem de vez em quando para formar minha opinião. Esse foi mais um muito útil. Se o “problema profundo” é o naming rights, então o projeto não tem problemas, não é mesmo?

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