Uma ideia corajosa

Bernie pretende anistiar todas as dívidas estudantis. Todas. No questions asked, como dizem aquelas ofertas de devolução do dinheiro dentro de 30 dias caso o cliente não fique satisfeito.

E de onde sairá esse dinheiro (cerca de 1,6 trilhões de dólares)? Simples: de um “imposto sobre a especulação”. Wall Street vai pagar. Haverá um imposto sobre todas e cada uma das transações feitas por Wall Street, seja com ações, seja com bonds (títulos de renda fixa).

Soa como música aos ouvidos do “homem comum”. É uma ideia simples mas genial, mas que só poderia ser proposta por alguém com a coragem de Bernie.

Coragem de se mostrar idiota em corpo inteiro. Vejamos.

Esses empréstimos foram intermediados por Wall Street. Do outro lado, estão poupadores de recursos, que entregam seu dinheiro nas mãos de administradores, que os emprestam para estudantes. Quem vai pagar esse imposto? Certamente não é “Wall Street”. Quem vai pagar são os poupadores, que dependem de Wall Street para administrar seus recursos. Wall Street somente repassará esse custo adicional para os seus clientes. O que inclui também os tomadores de recursos. Ou seja, o calote, no final do dia, será pago por doadores e tomadores de empréstimos. Mas não acaba por aí. Não sei se este montante que se prevê arrecadar é acurado, mas seria melhor refazer as contas. Com um imposto desse tipo, é bem provável que uma parcela relevante das negociações de títulos migrem para outras bolsas e mercados. Londres e Frankfurt certamente estariam esperando de braços abertos. Ou seja, o montante arrecadado seria bem menor.

Por fim, o pior dessa história: o moral hazard, que traduzido livremente seria algo como “mau exemplo”. Ao ter suas dívidas perdoadas, os agentes tendem a acreditar que dívidas serão perdoadas mais cedo ou mais tarde, o que impulsiona atitudes de mais risco. O outro lado da moeda é que os agentes poupadores ficarão mais refratários a conceder empréstimos, exigindo taxas mais altas. O resultado será uma diminuição significativa do mercado de crédito, com tudo o que isso significa para o crescimento econômico. O mercado de crédito estudantil, então, tende a desaparecer. Talvez seja esse mesmo o objetivo.

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