Estou lendo “Dez decisões que mudaram o mundo”, de Ian Kershaw. O livro trata dos bastidores das mais importantes decisões tomadas durante a 2a Guerra Mundial.
No capítulo sobre o Japão, o autor explora a decisão do país de se aliar à Alemanha e à Itália em 27/09/1940, formando o que viria a ser conhecido como o Eixo.
A ideia do governo japonês era intimidar os Estados Unidos, para que estes não se metessem nas pretensões imperiais do Japão no sudeste asiático. As elites japonesas viam o país com poucos recursos naturais, principalmente petróleo, e imaginavam que, ao dominar o sudeste asiático, garantiriam um fluxo de matérias-primas estratégicas que, de outra forma, não conseguiriam com segurança.
O tiro, obviamente, saiu pela culatra. Os EUA, assim que o Pacto Tripartite foi assinado, viram o Japão como “uma força beligerante, opressora e imperialista no Extremo Oriente, um equivalente asiático da Alemanha nazista, e que precisava ser contido”. O embate era só uma questão de tempo, para desgraça do Japão.
Mas o interessante desse capitulo o autor guarda para o final. Reproduzo: “Depois que a Guerra do Pacífico seguiu seu curso catastrófico para o Japão, o país conseguiu se reconstruir e estabelecer uma prosperidade sem precedentes, com base, precisamente, na dependência dos Estados Unidos e na incorporação bem-sucedida no comércio mundial, apoiada na competição capitalista e na economia de mercado.”
Está aí. Quando o Japão largou o fetiche das “matérias-primas estratégicas”, e partiu para a sua inserção nas cadeias produtivas globais, saiu de ser um país pobre e destruído para uma potência mundial.
Alguém dirá, e com razão: mas o japonês tem um nível de instrução muito superior ao brasileiro, eles conseguem ser muito mais produtivos. Sem dúvida! E mesmo sabendo disso, preferimos sustentar uma Petrobras, universidades públicas caríssimas e aposentadorias que custam ao país o dobro do que deveriam, ao invés de investir em educação básica!
Mas volto ao ponto anterior: ainda estamos amarrados à ideia de que recursos naturais são uma benção. Lembra? O pré-sal era um bilhete de loteria, um passaporte para o futuro. Me digam: que país exportador de petróleo é uma potência mundial? Pelo contrário: o povo desses países, invariavelmente, é pobre. Os venezuelanos que o digam.
Esse fetiche da “matéria-prima estratégica” é a senha do atraso. Não precisa ir longe: somos um dos maiores produtores de café do mundo, mas é a Suíça que produz o Nespresso. A Suíça! Qual a vantagem competitiva da Suíça? Simples: cérebros.
Enquanto não nos convencermos de que a verdadeira riqueza de um país não está dentro da terra, mas dentro das cabeças das pessoas, continuaremos a ser uma nação subdesenvolvida.