O preço do populismo

O governo Maduro está tentando vender mais um lote de seus títulos públicos. O último lote foi vendido para a Goldman Sachs, por 31% do valor de face. Não tenho detalhes da operação, mas como esses bonds vencem em 2022, se forem pagos renderão algo como 27% ao ano. Em dólares.

Este é o preço do populismo. Quando algum amigo petista vier dizer que “os anos Lula foram os melhores para os mais pobres”, lembre-o que ele só conseguiu isto na base do cheque especial, e que agora estamos pagando a conta dos juros. A Venezuela não parou este processo a tempo, e está pagando muito mais caro.

Também lembre ao seu amigo petista que a riqueza de um país somente se conquista com décadas de trabalho duro, e não pela benevolência de um populista irresponsável, que hipoteca o amanhã para iludir os incautos hoje.

A origem da dívida pública

Hoje, chamada de capa do Estadão mostra a atual situação da Usina Angra 3: são necessários R$ 17 bilhões para o seu término, e R$ 12 bilhões para zerar as dívidas, caso se desista de continuar a construir.

Já foram consumidos R$ 7 bilhões na construção. Caso fique pronta, Angra 3 terá capacidade de 1,4 GW. Serão, portanto, R$17,1 milhões/GW. A reportagem cita o exemplo da usina Teles Pires, que custou R$ 2,1 milhões/GW, ou 8 vezes menos que Angra 3.

Angra 3 (assim como as suas irmãs Angra 1 e 2) foi um projeto do governo militar. Estratégico, diziam. Era importante o Brasil dominar o ciclo da energia nuclear. Lula retomou as obras em 2009, e o diretor da Eletronuclear está hoje preso, condenado a 43 anos por corrupção.

Quando alguém vier com a ideia de fazer “auditoria na dívida pública”, dê este exemplo de desperdício do dinheiro público. Quem sabe consigam entender como se originou esta dívida monstruosa que temos hoje.

Chega de palhaçada

Temer vai vetar o fim do imposto sindical, para angariar a boa vontade das centrais sindicais em relação à reforma trabalhista.

Quem os sindicatos representam? Se fosse os trabalhadores, estes sustentariam os sindicatos, e então não seria necessário o imposto. Se é necessário o imposto, então os sindicatos não representam ninguém, e seu apoio à reforma trabalhista é dispensável.

Nas eleições de 2018, farei apenas uma pergunta aos candidatos: o(a) senhor(a) vai acabar com o imposto sindical? Ganhará meu voto quem responder sim. Se ninguém responder sim, anularei o meu voto. Chega de palhaçada.

Show de graça

Praia de Copacabana. Manifestação contra Temer e as reformas, e por eleições diretas. Desfilaram no palco Mano Brow, Otto, Mosquito, Cordão da Bola Preta, Maria Gadu, Martn’ália, Pretinho da Serrinha, Teresa Cristina, Digitaldubs & Bnegão, Pedro Luis, Milton Nascimento e Caetano Veloso, além de vários artistas globais, liderados por Wagner Moura. Balões da CUT e deputados e senadores do PT, PSOL e Rede também marcaram presença.

Os organizadores estimam em 100 mil pessoas o público. Procurei uma foto aérea, mas não encontrei em nenhum site noticioso. Deve ter sido o primeiro caso de protesto com 100 mil pessoas reunidas sem foto aérea de que se tem notícia.

Pessoal da esquerda, permitam-me dar uma dica: aquela gente no Congresso só começa a se coçar quando vê multidões acima de 1 milhão na Paulista, sem artista, sem político e sem vale-mortadela. O resto é show de graça em uma tarde de domingo.

PS.: caso raro, um protesto com balões da CUT que não terminou em baderna. Deve ter sido exigência dos artistas.

“Problema estrutural”

Os usuários de crack são os novos pichadores. Os auto-proclamados “defensores dos direitos humanos” usam os pobres coitados para emplacar sua agenda política.

Na verdade, esse pessoal não quer resolver o problema. Interessa-lhes que a cidade fique suja, que haja moradores de rua e fumadores de crack. Assim, fica mais claro e evidente que o capitalismo degrada o ser humano, e somente com o advento do socialismo, regime da solidariedade e da paz, esses problemas todos serão resolvidos.

Quando você ouvir que o problema é “estrutural”, que não dá para ser resolvido “da noite para o dia”, não se engane: é disso que se trata.

Viu como é fácil?

A 99 Táxis recebeu aporte de US$ 100 milhões para a sua expansão.

Não foi do BNDES.

Foi da japonesa SoftBank.

Viu, FIESP? Viu, Joesley? Dá pra crescer sem a ajuda do governo. Basta ter um projeto que pare em pé.

O estadista de que precisamos

“Separe a economia da política.” João Doria, hoje, no Estadão.

Uma visão tecnocrática da economia, como se as decisões de alocação de recursos públicos pudessem ser feitas por uma espécie de Conselho de Sábios.

Doria é o que temos para o momento, mas está longe do estadista de que precisamos.

O primeiro passo

Joesley Batista e Marcelo Odebrecht são exemplos acabados do ambiente empresarial brasileiro.

O dono do restaurante que molha a mão do fiscal sanitário.

O dono da pequena empreiteira, que molha a mão do fiscal trabalhista.

O dono da escola, que molha a mão do fiscal da secretaria da educação.

Por que isto acontece? São 4 fatores: 1) gente disposta a ser corrompida, 2) gente disposta a corromper, 3) um ambiente de negócios extremamente complexo e 4) baixo nível de punição (ou, custo de oportunidade baixo para o crime).

Os dois primeiros fatores existem em qualquer lugar do mundo onde existam seres humanos. Há pessoas honestas e pessoas desonestas. Há pessoas fortes e pessoas fracas. Não há anjos. Portanto, sempre haverá pessoas dispostas a serem corrompidas e pessoas dispostas a corromper.

Rios de tinta já foram gastos demonstrando que o atual sistema eleitoral efetua uma seleção adversa, pois são eleitos aqueles que conseguem mais doações. E mais doações vêm somente por parte de gente disposta a corromper pessoas dispostas a serem corrompidas. Então, uma primeira medida urgente é tornar o sistema eleitoral mais barato.

Mas não é só isso. Há a pequena corrupção do dia a dia. Joesley e Marcelo fizeram em grande escala o que o empresário é obrigado a fazer em pequena escala todos os dias. Obrigado? Ninguém é obrigado a nada.

A este respeito, Joesley conta uma história bastante significativa em sua delação. O seu grupo tem uma usina termoelétrica no Mato Grosso, que depende do gás da Bolívia. No entanto, a Petrobras detém o monopólio do gás, e ele não conseguiria o fornecimento sem molhar a mão de alguém. Um grupo norte-americano era sócio do empreendimento, e se recusou a participar do esquema. Joesley comprou a parte dos americanos, e tocou a vida daquele jeito mesmo.

Claro, os americanos podem ir embora, e fazer negócios em um país decente. Os empresários brasileiros não. Mas, imaginemos por um momento que todos os empresários se dessem as mãos, e se recusassem a molhar a mão de quem quer que seja. Afinal, não há corrupção sem corruptor! Seria lindo, maravilhoso mesmo, se fosse possível. Só que não é. A teoria dos jogos nos ajuda aqui: se há vários competidores que ganhariam se todos assumissem um determinado estado, mas a traição deste pacto faz com que o traidor ganhe mais que seus competidores, sempre haverá um traidor. E isso acontece porque não há confiança mútua suficiente, então como todos desconfiam de que haverá um traidor do pacto, ninguém quer ficar para trás, e ser o traído.

O empresário, então, é um santo? Só corrompe porque quer salvar os empregos de seus funcionários e quer empreender, gerar riqueza? Esta é a narrativa do Joesley: “Só fiz isso pela vontade de empreender”. É um ponto. Mas é também um crime. Eugênio Aragão, último ministro da justiça da Dilma, afirmou em entrevista que “a propina é a graxa do sistema capitalista”. Sim, do sistema capitalista brasileiro, que de capitalista só tem o nome. Muitos empresários que não toparam, e não topam sujar a mão na graxa, ficam no meio do caminho. O desonesto tem uma vantagem indevida.

E aí entramos no fator 3, que, ao meu ver, é a chave para melhorar este ambiente: eliminar a burocracia, simplificar as leis. No ranking Doing Business, do Banco Mundial, o Brasil ocupa a 123ª posição entre 190 países. O que isto significa? Que, para abrir um negócio no Brasil, são necessários 101 dias, ao passo que no Chile são 6 dias e no México são 9 dias. Nestes 101 dias, quantas oportunidades de corrupção não são criadas? E este é somente um pequeno exemplo, entre muitos outros. Haja graxa!

Está nas mãos dos legisladores mudar esta situação. Há interesse? Não. A dificuldade cria a venda da facilidade. Mas não é só isso. Há toda uma mentalidade de desconfiança e hipossuficiência do cidadão. Todos querem a proteção do Estado, e inúmeras leis e processos são criados porque se desconfia e se considera que o cidadão precisa de proteção. Daí nasce o país do cartório. Este não é um problema do legislador. É a mentalidade do brasileiro médio. Por isso, nunca seremos uma nação desenvolvida. Mas dá para avançar um pouco neste quesito, ao menos para não passar vergonha mesmo diante de outras nações com o mesmo nível de renda.

Por fim, o fator 4, punição. A operação Lava-Jato é um marco, porque o exemplo vem de cima. Por isso, quando ouço, aqui e ali, que o Estado Democrático e de Direito está sendo atropelado pelos procedimentos da operação da força-tarefa de Curitiba, penso cá com meus botões: esse mesmo Estado Democrático e de Direito que deixou a bagaça chegar onde chegou? Desculpe-me, mas tem algo muito errado quando o cara que tem dinheiro e poder consegue protelar processos até o dia de São Nunca. Então, a operação Lava-Jato tem todo o meu apoio, irrestrito. Vai mudar alguma coisa? Já mudou. Há punição. Avançamos. Seremos os Estados Unidos, onde empresas pensam trezentas vezes antes de embarcar em esquemas? Da noite para o dia, não. Mas demos um passo. E qualquer caminhada começa pelo primeiro passo.

Com a palavra, os parlamentares

Ouvi o áudio. Tenho minha opinião a respeito: apesar de não ficar clara a obstrução de justiça, está beeeeem longe de ser uma conversa republicana. No entanto, já ouvi opiniões de pessoas que respeito, de que esse áudio não é suficiente para derrubar um presidente, é pouco conclusivo.

No final do dia, assim como no impeachment, a minha opinião e a de meus amigos não valem um tostão furado. O que vai valer é a opinião dos parlamentares. Se estes mantiverem o apoio, vida que segue. Se retirarem, o presidente cai. O resto é papo de botequim.

Uma era que se encerra

Começo a ler aqui e acolá a “matemática da candidatura Lula”.

Consiste em contar o prazo para que Lula torne-se inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Basicamente, em quanto tempo o TRF4 condena o nine em 2a instância.

A torcida está começando a ficar preocupada. O tempo está passando e a partida vai ficando no zero a zero. E o empate é deles.

Eu não estou preocupado.

Na verdade, estou torcendo para que Lula possa ser candidato.

Para que possa concorrer e ser derrotado.

Lula, se for candidato, será derrotado. E será derrotado por qualquer candidato que vá com ele ao 2o turno. Se é que ele vai ao 2o turno.

Poderia basear minha convicção em sua alta rejeição. Poderia basear minha convicção na primeira condenação de Moro, que virá (já imaginaram um presidente condenado? Só no Brasil). Poderia basear minha convicção, enfim, no deplorável estado em que sua sucessora deixou o país.

Mas não. Há um argumento mais forte.

O pêndulo da História.

Assim como Lula ganhou porque havia chegado a sua hora, Lula perderá porque o tempo do PT, e do pensamento que representa, acabou.

O pêndulo da História já havia se movido em 2013, quando milhões de pessoas foram às ruas. A dificuldade de definir qual foi a pauta de reivindicações daqueles protestos só confirma a “malaise” que caracteriza a mudança dos tempos.

Dilma só conseguiu atrasar o relógio da História porque usou dos mais baixos artifícios nas eleições. Seu marqueteiro está preso, o que diz muito. E o seu impeachment foi somente a confirmação de que ninguém consegue parar o pêndulo da História.

Torço sinceramente para que Lula possa ser candidato. A sua derrota será o fecho de ouro de uma era que se encerra.